Preciso de o reforçar. O disco do(s) Bon Iver – “For Emma, Forever Ago”- é seguramente um dos melhores do ano. De muitos anos. Perante tão belo conjunto de canções que me arrebataram de imediato, senti a necessidade imperiosa de fazer um comentário adicional (com a divagação usual). O músico “singer/songwriter” em questão é Justin Vernon, um músico “amador” desiludido com o rumo da sua vida. O local da génese, uma remota cabana de caça do seu pai, no âmago das montanhas geladas do Wisconsin. O período de gravação foi de 4 meses seguidos em plena dureza invernal, onde Justin era obrigado a cortar lenha para se aquecer e a caçar para sobreviver. Durante este tempo escreveu e gravou a maior parte das canções que vieram a formar “For Emma, Forever Ago”. Em resultado disso, o disco é uma colecção despojada de canções recheadas de imagens paisagísticas e exorcismos catárticos genuínos transmutados num formato folk-acústico intimista (com óbvios paralelismos (puramente) estéticos a “Little Wings”, “Iron & Wine” ou mesmo “Eddie Vedder - Into the Wild”) – o som de um homem sozinho com as suas memórias e guitarra. Os detalhes biográficos por detrás da criação de um disco normalmente não devem importar quando se trata do puro desfrutar do ouvinte. Mas será interessante analisar o processo de criação que levou ao disco, até porque as canções que irrompem suavemente (outras vezes, não) do silêncio coalhado de cristais gelados que as conduzem, traduzem na essência o universo imaginário e conturbado do músico que procura uma luz por entre as nuvens apertadas. Além do mais, “For Emma, Forever Ago”, emana tão intenso sentimento de solidão melancólica e apartamento que se poderia inferir da possibilidade de um drama latente. As várias interpretações para tal desvanecimento sugerem o desmembramento da sua antiga banda, uma saúde comprometida e um problema amoroso como principais impulsores do retiro ascético. As causas específicas não deveriam contudo merecer muito relevo, o problema essencial é simbólico e facilmente reconhecível e nele nos reconhecemos, confluindo sempre no ímpeto lato de fuga a uma realidade asfixiante e intransferível e o consequente corte umbilical com o estrépito da vida em colectividade. E é neste espaço ermo e austero e também suspenso que ele procura encontrar a paz e a reconciliação com a vida. É nas pequenas coisas que ele encontra o secreto palácio da fascinação. Daí o que me move e me apaixona inelutavelmente neste disco, a arte/música como último refúgio de um homem. O acesso ao profundo frémito da vida que ressoa no côncavo inerte massivo da montanha. O que conta no fim é o acto criador. O regresso de um homem a si, unificado à pureza da montanha e da sua íntima verdade. Este é, antes de mais, um registo palpitante sobre esperança. Um excelente, excelente disco.
Led
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