quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Top 15 - 2009

Sem grandes surpresas, sem extenso palanfrório, a minha humilde lista para os discos saídos em 2009:

1. Gregory Alan Isakov - This Empty Northern Hemisphere
2. Muse - The Resistance
3. We Were Promised Jetpacks - These Four Walls
4. The Pains Of Being Pure At Heart - The Pains Of Being Pure At Heart
5. Pearl Jam - Backspacer
6. Engineers - Three Fact Fader
7. Bat For Lashes - Two Suns
8. Alice in Chains - Black Gives Way to Blue
9. Gliss - Devotion Implosion
10. Cymbals Eat Guitars - Why There Are Mountains
11. Sonic Youth - The Eternal
12. Cats On Fire - Our Temperance Movement
13. Them Crooked Vultures - Them Crooked Vultures
14. The XX - XX
15. 93 Million Miles From the Sun - 93 Million Miles From the Sun

Menções honrosas:

Hope Sandoval and the Warm Inventions - Through the Devil Softly
The Search - Saturnine Songs
Bvdub - We Were The Sun
Silversun Pickups - Swoon
Fanfarlo - Reservoir
Volcano Choir - Unmap
Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz!
Wolfmother - Cosmic Egg
dR Estranhoamor - Os Crimes do dR Estranhoamor e Outras Estorias
Doves - Kingdom Of Rust

Boas entradas!

Led

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Bom natal

Natal

Natal. Esperança morta de um céu para lá das estrelas, é bom que a finjam ainda as mãos áridas de um homem. Filho dos deuses ou dos homens, é um menino que nasce, é a evidência da eterna promessa para o nosso olhar cansado. É uma expectativa de nada, de apenas nos suspendermos à revoada dos ventos, das chuvas, da névoa, dos sinais da memória. Imagens ternas do que passou. Minha comoção oblíqua. As horas correm lentamente como se tivessem uma eternidade a cumprir. E eu com elas. Longo tempo me demoro ainda na incerta ausência de mim, enquanto o vento quebrando, a chuva abrandando, cai agora clareada, quase perpendicular, e no espaço ressoa do côncavo do vale o fervor de uma braveza apaziguada. Na dúbia luz da sala, o clarão do radiador aos meus olhos, de novo nele se me acende o tremular da memória, indistinto à fluidez da distância, cintila de longe em longe o rasto do que acabou. Natal. Breve harmonia, breve refúgio de um calor de se estar bem, de apenas ficar contemplando. E fechar os olhos à lassidão. E talvez dormir.

Led

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Big Black Car

Well time has a way of throwing it all in your face
The past, she is haunted, the future is laced
Heartbreak, ya know, drives a big black car
Swear I was in the back seat, just minding my own


Gregory Alan Isakov

Led

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

6 (+6) canções para o fim-de-semana

Arcade Fire - Cold Wind
Fleet Foxes - Isles
Voxtrot - The Warmest Part Of Winter
The Go Find - Ice Cold Ice
Vampire Weekend - Cousins
Charlotte Gainsbourg & Beck - Heaven Can Wait
John Mayer - Free Fallin’ (live)
Zooey Deschanel & Leon Redbone - Baby It's Cold Outside
David Fonseca - It’s Just A Dream II
Gregory Alan Isakov - Big Black Car
Bon Iver - Blindsided
Tiller Ramsey - Please Stop Time


P.S. Caso alguma canção ofereça problemas na audição através do leitor do blog (ex. lentidão, intermitência) : " salvar como" ou "abrir numa nova janela".

And use your headphones!

Led

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

6 (+ 8) canções para o fim-de-semana

KoЯn - Dead
Deftones - My Own Summer (Shove it)
KoЯn - A.D.I.D.A.S.
Deftones - Minerva
KoЯn - Falling Away From Me
Deftones - Hexagram
KoЯn - Did My Time
Deftones - Back To School (Mini Maggit)
KoЯn - Got The Life
Deftones - Drive (The Cars cover)
KoЯn - Freak On A Leash
Deftones - Knife Prty
KoЯn - Blind

Various - A Song for Chi

Link

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And use your headphones!

Led

Guerra Justa

"Dizer que a guerra é por vezes necessária não é apelar ao cinismo, é reconhecer as imperfeições do Homem e os limites da razão"

O Obama mencionou hoje 45 vezes (durante 37 min) a palavra “guerra” aquando da recepção do prémio Nobel da Paz. Arrisco que este vai ser o lugar-comum - propositadamente percepcionado como paradoxal - mais repetido pelos cerebrais “comunas” e elaborados comentadores durante os próximos dias. Por isso sorrio agora de fina ironia com o brilhante achado intelectual para não ter de rir depois.

Led

Contra a indiferença

O Fernando Nobre (AMI) explicava há pouco na SICN (excelente entrevista) que mantém intacta a sua crença no divino, mesmo após toda a devastação, ódio, sangue e barbárie que presenciou no terreno durante os seus 25 anos de carreira. Fica-se assombrado de tanta generosidade para com o Criador. Mas como absorver isto? A responsabilidade com a História do Homem, dizia ele em traço grosso, é do próprio Homem e de toda a avidez e corrupção que lhe está nos genes. Apesar do óbvio "la Paliciano", fica-se estupefacto com a nobreza de tais considerações genuinamente sentidas. Imensa sapiência e altruísmo, sem dúvida alguma. Inatacável doutrina filantrópica. Mas afirmar isto do Criador é depreciar o divino para uma categoria abstracta e intangível à sujidade de animal. De puro alheamento para com o difícil coabitar humano. Resta saber porque (e não como) mantém a crença, sendo que esta sempre foi uma convicção baseada em algum grau de necessidade, baseada num qualquer tipo de expectativa. Uma intuição quinto essência todo ela humana. Como dispensar o divino de justificações perante a vida, se é só ela que o Homem parcamente descortina? Como manter uma crença e imperturbavelmente isentá-la de uma realidade atroz? Excluindo a maluqueira ficcionada das religiões, deliberadamente omitir o divino de toda a indecência humana é a mais alta prova de devoção no Criador. O que inventamos a nós próprios para não estarmos sozinhos em face da morte é realmente prodigioso. Mas ainda assim menos prodigiosa que a imensa Humanidade do Fernando.


Led

Em casa de enforcado não se fala em cordas

Passou todos os dias da sua vida com a corda atada ao pescoço, na constante ameaça de se estrangular. Um dia num assomo de coragem cortou finalmente a corda que o oprimia. E morreu estendido.

Led

Rebelo Pinto

O escritor medíocre diz-nos o que as personagens sentem. O de qualidade deixa-nos nós a dizê-lo. É que ele sabe respeitar a nossa liberdade e o nosso orgulho. Sentir é envergonhar-se.

Led

Corpos celestes

Estimadas 125 biliões de galáxias. Cada uma dessas contendo entre 100 milhões a 1 bilião de estrelas. Fica se bloqueado no pensar. Como é que é possível em face disto termos ideias para ir pensando, projectos e planear, paixões para acalentar, a entreter o instante infinitesimal de se existir? Como erguermo-nos, para se ir sendo humano, por sobre esta infinita desolação? Pensa a terra no tempo dos dinossauros. Pensa a terra como um futuro astro morto. Todas as filosofias e questionamentos religiosos deviam começar aqui.

Led

Cork

Uma descrença cavada, uma aversão à auto-lamúria, a imaginação esvaecida. Pensamentos secos, de cortiça. Dia de merda. Um apelo à desistência como soterrado numa avalanche. Viver passivamente, não na sua activa participação: olhar, ouvir, flutuar na imaginação, apático, pelo menos assim inofensivo. I could float here forever... Por cima disso tudo, a tarde cinzenta impassível a carpideiras medíocres e outras mudanças de humor.

Led

O outro

Todos os problemas do homem são um modo de entreter o outro que há-de vir. É o que se anuncia nas horas de silêncio. Por isso se não pode falar dele ou fazermos ruído para o não ouvirmos.

Led

sábado, 5 de dezembro de 2009

Them

Sem dúvida, Alex...

Led

E já está

“Livrar-me da televisão pareceu-me fácil. Foi há uns vinte anos. Tinha um piano e uma lareira e amigos que sabiam conversar. Sobretudo os telejornais que pretendem informar, não me pareciam senão um espectáculo em que nada se pode aprender, porque a uma notícia se segue outra em turbilhão, sem que alguma verdade se descubra. Ser notícia significa, pensava eu, precisamente isso, ser a superfície do que fica por mostrar. Nada tem a ver com a verdade ou a mentira, o que importa é julgarmos ficar a par do que acontece, sem ser preciso compreender o que quer que seja, uma perversa satisfação. Não é para pensar, é para ver de longe e já está.”

Pedro Paixão - “Vou comprar um televisor”

Led

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

6 (+6) canções para o fim-de-semana

Johnny Cash - Get Rhythm
Biffy Clyro - Living Is A Problem Because Everything Dies
We Were Promised Jetpacks - Moving Clocks Run Slow
Tears For Fears - Mad World
Alice In Chains - When The Sun Rose Again
R.E.M. - It’s The End Of The World (And I Feel Fine)
Old Canes - Little Bird Courage
Lightning Dust - I Knew
Caspian - The Raven
Biffy Clyro - Many Of Horror
Clap Your Hands Say Yeah - Blue Turning Gray
The National - Cherry Tree


P.S. Caso alguma canção ofereça problemas na audição através do leitor do blog (ex. lentidão, intermitência) : " salvar como" ou "abrir numa nova janela".

And use your headphones!



Led

1987

Que coisa maravilhosa...


Led

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Muse - Pavilhão Atlântico (29-11-09)

Sem grandes surpresas (excepção seja feita à “MK ultra” e ao momento pós-rock de um dos lados-B do single “Unintended” denominado “Nishe”), a setlist da noite anterior:

00. We Are The Universe Intro
01. Uprising
02. Resistance
03. New Born + Head Up riff (Deftones cover)
04. Map of the Problematique
05. Supermassive Black Hole
06. MK ultra
07. Interlude
08. Hysteria
09. Nishe
10. United States of Eurasia
11. Feeling Good
12. Guiding Light
13. Helsinki Jam (Dom e Chris)
14. Keyboard intro + Undisclosed Desires
15. Starlight
16. Plug In Baby
17. Guitar Intro + Time Is Running Out
18. Unnatural Selection

Encore:

19. Exogenesis: Symphony Part I (Overture)
20. Stockholm Syndrome + riff
21. Harmonica Man intro
22. Knights of Cydonia

Faltou o jogo de luzes a funcionar decentemente na “Exogenesis” e nada mais a reportar que não mais uma prestação imaculada do trio de Devon ( e outra da banda de suporte, Biffy Clyro). Talvez demasiado imaculada? É certo que sempre me fez alguma impressão algum excesso de zelo e encenação na produção de concertos. Existe sempre o risco de a coisa se tornar demasiado impessoal e mecanicista, o que até seria uma ironia tendo em conta os temas recorrentes de “revolta contra o sistema” nos quais se tem versado a banda nos 2 últimos álbuns. Mas a verdade é que um concerto de Muse é hoje, mais do que tudo, um grandioso espectáculo que balanceia equilibrada e detalhadamente a música com movimentos psicadélicos de luzes coloridas, imagens em múltiplos ecrãs que envolvem gigantes torres-plataformas móveis, lasers e balões repletos de tiras douradas. Os temas são reproduzidos freneticamente e sem falhas, com as interrupções necessárias para as palmas e outras demonstrações de veneração. Goste-se ou não se goste, os Muse são hoje indubitavelmente uma banda de massas. Estão feitos à imagem de uns Queen, U2 ou Pink Floyd. Estão mais marketizados, mais cintilantes e vanguardistas, mais empenhados no conceito de concerto-espectáculo. Contudo, e ao contrário do que afirmei aqui para Coldplay há uns tempos (também no Atlântico), os Muse são tremendamente eficazes na mensagem e não irritam pela previsibilidade. A verdade é que o assombro sensorial é tão vertiginoso e hipnotizante que instantaneamente o pirronismo dos mais teimosos e acautelados (como eu) é avassalado pelo incrível virtuosismo de todo o panorama sensitivo. À força das evidências que só se alcançam ao vivo, rapidamente todo o cepticismo se varre mal entram em cena os acordes ritmados da “Uprising”. De resto, eles falam muito pouco, não repetem banalidades, deixando uma impressionante máquina bem oleada de rock tomar conta do resto. Os Muse são hoje uma banda de dimensões galácticas e é compreensível a necessidade de uniformizar os concertos para que todos os fãs tenham direito ao melhor. Os Muse são hoje gigantes.

Em suma, um espectáculo verdadeiramente deslumbrante. E como dizia alguém, depois de tantas esperas e expectativas, vai ser difícil resgatar a rotina depois deste domingo passado.Talvez tendo como pensamento que, conforme disse o Dom no final do concerto, eles regressarão já no próximo ano a Portugal. Se em parceria com os U2 ou se em algum festival de Verão, logo se verá.
A vida segue dentro de momentos...

Os meus temas da noite: Uprising; Hysteria; Feeling Good; Unnatural Selection; Exogenesis; Stockholm Syndrome.

Foi assim…
Feeling Good (live Lisbon, 29-11-09)

Led (
e pelos vistos atingiu-se o record de canções tocadas em PT, 21!;))

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

6 (+ 14) canções para o fim-de-semana

Guten Abend, Berlin!

00 - We Are The Universe, Absorbing itself, Destroying Itself (intro)
01 - Uprising
02 - Map of the Problematique
03 - Supermassive Black Hole
04 - Resistance
05 - Interlude
06 - Hysteria
07 - New Born + Headup riff (Deftones cover)
08 - Cave (Piano version)
09 - Popcorn (Hot Butter cover)
10 - United States of Eurasia
11 - Starlight
12 - Keyboard Intro
13 - Undisclosed Desires
14 - Time Is Running Out
15 - Unnatural Selection
Encore
16 - Stockholm Syndrome

17 - Plug In Baby
18 - Harmonica Man (Ennio Morricone cover)
19 - Knights of Cydonia
20 - Exogenesis : Symphony Part 1 (Overture) (Bonus track, Berlin 29-10-09)


P.S. Caso alguma canção ofereça problemas na audição através do leitor do blog (ex. lentidão, intermitência) : " salvar como" ou "abrir numa nova janela".

And use your headphones!

Led

Estatísticas de uma banda em Portugal


1) 23 de Agosto 2000 - Ilha do Ermal (Minho); Showbiz tour - 9 canções tocadas.
Inesquecível.
2) 19 de Abril 2002 - Hard Club (Porto); Origin of Symmetry tour - 15 canções tocadas.
Razoável.
3) 21 de Abril 2002 - Aula Magna (Lisboa); Origin of Symmetry tour - 15 canções tocadas.
O melhor.
4) 4 de Agosto de 2002* - Festival Sudoeste (Zambujeira); Origin of Symmetry tour - 15 canções tocadas.
Fui... mas coiso, não me lembro bem.;)
5) 9 de Junho 2004 - Festival Superbock (Lisboa); Absolution tour - 12 canções tocadas.
Não vi.
6) 26 de Outubro 2006 - Campo Pequeno (Lisboa); Black Holes...tour - 19 canções tocadas.
Colossal.
7) 6 de Junho 2008 - Rock In Rio (Lisboa); Out-tour - 12 canções tocadas.
Não vi.

8) 29 de Novembro 2009 - Pavilhão Atlântico (Lisboa) ; The Resistance tour - ?

* Obrigado pela lembrança, Jo.;)

Led (Freitas Lobo)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

I promise you to blow it all away

Led

Mas será mesmo algo assim

Source : MuseWiki; Muselive; Muse.PT

Led

Carta Aberta aos senhores Muse

Excelentíssimos senhores Muse:

Tendo eu tomado conhecimento há quase uma década da vossa assombrosa capacidade de resistirem durante longos períodos de tempo tocando ao vivo sem interrupções como que possuídos de um frenesi diabólico - conseguido mesmo atingir números de canções executadas que inclusive já ultrapassam a marcante fasquia de vinte e cinco momentos de puro arrebatamento - e esperançado que tendo eu alcançado a ilustre consideração de velho fã que até já vos viu por 5 vezes, gostaria agora de vos apresentar uma humilde sugestão de setlist para o próximo dia 29 que seguidamente exponho no final desta curta missiva. Antes disso apenas desejaria fazer logo aqui a pequena achega que me bastaria um pequeno quarteto de cordas para os temas mais sinfónicos, não sendo por isso (absolutamente) necessário virem acompanhados da filarmónica londrina de 40 músicos que vos auxiliou no último álbum. E sim, eu sei que os 3 distintos músicos a que me reporto nesta modesta epístola são artistas com dons divinos capazes de multiplicar sons e instrumentos e emoções que facilmente imprimem a ideia no incauto ouvinte de estar perante uma orquestra sobrenatural e que preferem fazer sempre tudo sozinhos (ainda que com a ajuda de um quarto cavalheiro sortalhudo chamado de Morgan Nicholls na primeira parcela da Exogenesis quem por vezes têm tocado nesta tournée), mas ainda assim gostaria que fizessem deste concerto em Lisboa a tal experiência sinfónica que andam a prometer aos fãs desde 2004. Depois de atentarem em tão despretensiosa e equilibrada proposta de setlist apenas queria ainda acrescentar que estou confiante que não corro o risco de os tão meus estimados diabretes de Teignmouth me apelidem de “demente espacial” e me mandem para as termas do Lago de Como curar a “megalomania” que normalmente antecede o “apagão”.

Atentamente.

Um vosso fã idiota.
Led

sábado, 21 de novembro de 2009

Out of time


Led

Ressaca

Pip Pip. I'll keep running running running till I'm out of breath. Through the forest in the poorest of directions. Abandonar-me num poço fundo e não pensar. Embalado, alheado e esquecido de mim. Regressar à planície frondosa da imaginação, deitar-me nela, escutar a maresia no remoto oceano da intenção, longe do tumulto da consistência realista, da polvorosa de vozes eriçadas e sempre exclusivas e sempre importantes que nos estilhaçam a alma de brilho ofuscante. Permanecer na margem do flúmen viçoso. Ser marginal. Não por desprezo da norma comum. Não por amoralidade, tristeza, miserabilismo ou abjecção. Mas pelo cansaço plasmado, pela fadiga resultante da imputação de ter de corresponder, exangue tédio derivado da previsibilidade de ter de convir, fina humilhação pela premência coerciva de definição, encolhido pudor de se ser em reciprocidade. Ser apenas do lado da vida em que não passa muita gente. Permanecer no friso esconso da calçada. Solitário transeunte no trem errante da regressão. Dedicado Guarda livros asceta da biblioteca deserta da imaginação. Ser apenas no sereno recato de nós, na curta dimensão de nós. Como as insuladas lágrimas dispersas no areal pelo alto-mar. Não por comodismo, mágoa, falsa modéstia, ressentimento. Não por nada disso ou outras coisas disso, mas só para nos não perdermos de nós, não nos esbanjarmos na invasão da devassidão absorta. Abandonar-me num poço fundo e não pensar. Embalado, alheado e esquecido de mim. A tua palavra é breve, não a prolongues ao que não é. E o teu pensar, o teu sentir, o teu ser. Não os sejas mais do que és. E então talvez aí o sejas sem o seres.

Led

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

6 (+6) canções para o fim-de-semana

Bvdub - Time Will Tell
Deftones - Digital Bath

Jimmy Chamberlin Complex - Lokicat

The Envy Corps -Pip Pip

Youth Group - All This Will Pass

The Search - Woman in the Corner

Cymbals Eat Guitars - Wind Phoenix (proper name)

Fanfarlo - We Only Come Out At Night (live, SP cover)

Laura Gibson - Shadows On Parade

Team Sleep - Elizabeth

Ringo Deathstarr - Summertime

The Cure - If Only Tonight We Could Sleep (live Berlin, 2002)

P.S. Caso alguma canção ofereça problemas na audição através do leitor do blog (ex. lentidão, intermitência) : " salvar como" ou "abrir numa nova janela".

And use your headphones!

And all this shit (sadness, horror, inconceivability, trauma) will pass.

Led

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Fragmentos do exílio

Falareis de nós como de um sonho.
Crepúsculo dourado. Frases calmas.
Gestos vagarosos. Música suave.
Pensamento arguto. Subtis sorrisos.
Paisagens deslizando na distância.
Éramos livres. Falávamos, sabíamos, e amávamos serena e docemente.

Uma angústia delida, melancólica, sobre ela sonhareis.

E as tempestades, as desordens, gritos,
violência, escárnio, confusão odienta,
primaveras morrendo ignoradas
nas encostas vizinhas, as prisões,
as mortes, o amor vendido,
as lágrimas e as lutas,
o desespero da vida que nos roubam
-apenas uma angústia melancólica,
Sobre a qual sonhareis a idade de oiro.

E, em segredo, saudosos, enlevados,
Falareis de nós – de nós!- como de um sonho.


Jorge de Sena – “Ode para o futuro”, Pedra Filosofal, 1950


Led

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

You don't have to speak



Led

Raskólnikov

“Deus enlouquece primeiro aqueles que pretende destruir.” - Eurípides

Todo o homem acarreta em si a semente da loucura. Como um ardor danado germinando nos infinitos sulcos de uma lucidez volúvel e aparente de bonecas russas. Submersa numa densa nebulosa de confusão e pavor abstracto. Uma raiva surda imprecisa na sua ordem e magnitude. Latente no seu fundo intáctil a qualquer sensatez superficial, como um estranho dentro de si mesmo. A parte besta do homem ocupa, aliás, a maior extensão dele. Entorpecida nas relações quotidianas, despertando quando as circunstâncias a favorecem. E tão fácil foi sempre favorecê-la…Tão ténue essa distância infinitesimal que nos atiça o nosso alarme de desvario animal. Tão fácil para alguns transmutá-la em ódio fulminante. Infinito é assim o ódio em potência do homem mas as circunstâncias e os subterfúgios não são nada… Porque as razões não existem numa dimensão de loucura. Porque nunca houve pretextos habilitados e suficientes que dessem vazão ao ódio. Porque ao princípio sempre foi o ódio e não a razão de odiar. Ou ao princípio é a importância ególatra que o homem se dá a si e todos os pretextos convenientes para a impor sobre os outros.

O homem é um milagre precário, frágil miragem da representação que conserva de si mesmo. Ao mínimo deslize, ele recai nas quatro patas, que é o seu mais pesado destino de besta solitária. Criando ou tirando vida, comparando-se assim ao divino que engendrou para não estar sozinho. A loucura é assim acessível a todo o homem, é do destino de todos que partilham o absurdo de ser. Mas loucos são só os que não regressam dela.

O homem é um prodígio oculto e ilimitado. Para o bem e para o mal. Esse excesso de si a que alguns chamam Deus. Esse deus a que alguns chamam excesso.

Led

sábado, 14 de novembro de 2009

Anymore

Toda a noite uma forte tempestade, com chuva grossa, batida a grandes ventos. E agora, pela madrugada, fortes bátegas, balanceadas a ventania, invadem todo o horizonte. E eu e tu. Longínquo compasso de desejo. Distância entremeada de temor. E as estrelas cruas da aurora a desdizerem com a sua acidez de vidro. E a significação imaginada no incerto vago de todo um mistério. E os aguaceiros pesarosos por sobre isso tudo.


Led

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

War Is Loud



Led

A fórmula do deus do êxtase: drogas, afectos ocultos e limonada

"Ficar acordado até muito tarde esta noite. Apanhando maçãs, fazendo tartes. Colocar uma pequena qualquer coisa na nossa limonada e levá-la connosco. Estamos semi-acordados num império falso. Estamos semi-acordados num império falso. Em bicos de pé pela nossa cidade brilhante. Calçados com os nossos chinelos diamante. Fazendo o nosso ballet gay no gelo. Pássaros azuis nos nossos ombros. Estamos semi-acordados num império falso. Estamos semi-acordados num império falso. Desliga a luz, diz boa noite. Não pensar durante um pouco. Vamos tentar não entender tudo de uma só vez. É difícil seguir-te ao caíres do céu. Estamos semi-acordados num império falso. Estamos semi-acordados num império falso."

The National - "Fake Empire" (tradução idiota)


Led

sábado, 7 de novembro de 2009

Like spinning plates

As grandes doutrinas do pensar, as grandes correntes literárias e artísticas, os grandes ideários políticos e religiosos, valores identitários de qualquer espécie. Tudo progressivamente para o caixote. Restos detritos fragmentos gelatina ideológica inestética. E cá vai - merdas - para manter-me - up to date- com a literatura actual. Tudo passou. Toma então o teu excedente paleolítico na mão e senta-te nos degraus da assembleia ou na respectiva paróquia mais próxima a esburgar os ossos do esqueleto que te é mais conveniente. Num presente narcótico de valores casuais e revolucionários civilizados em civilizadas ousadias, não há passado nem sombra de pecado. Por isso levanta-te, abre os braços, fecha os olhos e repete comigo: Ámen! A vida é assim o valor final e do qual ainda dispomos pagar seja o que for. E é por isso que o suicídio valoriza por extensão o que se houver realizado. E o valor dele é tanto maior quanto os inocentes a que se estende. Os bombistas ensinam-nos o nosso vazio desarmado a toda a hora.

Olho pela janela o grande espaço de cinza que invade todo o horizonte, o mundo transfigurado numa memória de génese. Uma voz de pregador na rádio intromete-se entre os espectros, fala de uma esperança para depois. Que pena ter-se perdido a inocência. Um coro interrompe-o, ergue-se por sobre o desastre, irmana-se à melancolia do céu. Mas de tudo o que olho e escuto, o que alastra em mim e fica em mim é a desolação da chuva lá fora e a imagem que dela se ergue é de um mundo submerso, perdido no silêncio de um falecimento universal.


Led

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

6 (+ 6) canções para o fim-de-semana


Blind Zero - Collapse
NIN - We’re In This Together
UNKLE - Chemistry
Yeah Yeah Yeahs - Heads Will Roll (A-trak remix)
Thom Yorke - And It Rained All Night (Burial remix)
Muse - Unintended (MG remix)
Télépopmusik - Breathe (SirAric Gravity remix)
Miami Horror - Sometimes
Ladyhawke - Magic
Billy Corgan - Walking Shade
Daniel Johns and Paul Mac - Home
Imogen Heap - Hide and Seek

P.S. Caso alguma canção ofereça problemas na audição através do leitor do blog (ex. lentidão, intermitência): " salvar como" ou "abrir numa nova janela".


And use your headphones!

Led

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Fizeram ontem duas décadas que

and...

Led

p.s.: Correcção - parece que saiu mesmo em junho de 89 mas só a 3 de novembro foi certificado com a platina.

Madame Bovary sou eu

Eu não tenho nenhuma coragem, mas procedo como se a tivesse, o que talvez venha dar ao mesmo.” - Gustave Flaubert

Eu tenho o problema inverso. Tenho mesmo muita coragem. Mas procedo como se a não tivesse. Por intrépida cobardia.

Led

domingo, 1 de novembro de 2009

A mágoa é relativa

Afinal, o mais triste nas despedidas é estar a passar “A Baía de Cascais” (Delfins) na rádio e eu a ouvir.

Led

sábado, 31 de outubro de 2009

Hooliganismo

Ninguém pára o Ben…efício da dúvida?

Led

Citações ilustres

“Os Radiohead têm fama de ser uma banda para malta deprimida, um boato obviamente espalhado por quem faz batota para se deprimir e - o que é mais grave - não gosta de música.”

Vasco M. Barreto In A Memória Inventada, Março 2006


Led

Memória fragmentada

O Vergílio Ferreira fazia a seguinte observação com os desgostos amorosos. Eu, com toda e qualquer despedida do que nos foi marcante: O mais amargo nas despedidas é que a nostalgia dolente que nos lateja no peito nos aflui de um lugar insondável da evocação e por isso se juntam nelas todas as anteriores despedidas e as que ainda estão para ser…ou algo assim.


Led

2 canções para o fim-de-semana

Nusrat Fateh Ali Khan / Eddie Vedder - The Face of Love
Eddie Vedder / Nusrat Fateh Ali Khan - The Long Road


Led

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Everything From Here To There

“Mind-Body-Soul integration”, assim define William Patrick Corgan (aka Billy Corgan) como o propósito último do seu novo blog, uma coisa a pender para o espiritual/místico de velho ancião retirado e superior ente erudito da caverna que cogita sobre o mundo enquanto vai tentando reunir os destroços de mais um projecto de banda:

"This is not a place of judgment, nor a place of making proof. We begin with the idea that there is a God. We begin with the undying belief that there is a unifying intelligence that manifests itself in Every-thing."

OK, coisas budistóides e afins...so far, so God.

Mas depois o nosso Corgan (enquanto dispensa mais um baterista) vira-se para a menos trascendental actualidade e embrenha-se na tão virulenta (…) questão da necessidade da vacina para o vírus H1N1, reprovando a onda histérica mediática que se instalou (com os meus aplausos) mas chegando mesmo a apontar o dedo ao Obama acusando-o de ter declarado como emergência nacional algo que, nas próprias palavras do presidente norte-americano, seria apenas uma medida preventiva:

“Our American President Obama has declared a national emergency about this virus, which he in his own words said was, at this point, a preventative measure. So, why declare an emergency if there isn’t one?”

Está bem…eu até concordaria vagamente assim em abstracto, pelo menos se lesse isto fora do contexto. Mas depois…

“I have read reports from people who say (as doctors) that there is evidence to suggest this virus was created by man; to call it Swine Flu is then a misnomer, as it really is Swine Flu plus some other stuff stitched together. These doctors said such genetic mutation was impossible in nature.”

Repiso: “stuff stitched together”... Ou mesmo a maravilhosa referência a essa gente credibilizada da ciência que publica "reports" que ele tão objectivamente denomina como “these doctors”...

Oh, não... You done it again, old Billy boy! Minha nossa...mas estará realmente o nosso favorito ególatra rezingão a entrar em mais uma paranóia conspirativa (do tipo religioso, por ser imune a todo e qualquer facto refutador) sobre uma suposta e secreta ordem universal que tudo controla e tudo manipula? Para a ignorância bater certa com a realidade distorce-se a realidade na medida da ignorância, ainda não sabias disso, meu caro Billy? Mas pronto, não tomes a vacina que ninguém te obriga. Mas eu explico-te o que entendi das palavras do Obama e de todos os líderes mundiais (com a correspondente vénia de um GRANDE fã da tua música) : A razão por detrás da declaração de emergência nacional tem apenas que ver com o absentismo e associado crash geral (Money! it's (allways) a hit!, lembras-te?) e não com a letalidade de um vírus apenas divergente do sazonal por permanecer mais tempo na atmosfera e assim potenciar o efeito contagiante. O risco de mortalidade é muito baixo, mas pode-se ficar uns bons (maus) dias sem se poder ir trabalhar. Humm…mas não andarás a dar demasiada atenção ao Bill O’ Reilly?

"I am not a doctor, and I am in no way suggesting that you should follow any medical advice from me."

Acho que é mesmo melhor, dado todo um historial...

Mas enfim, a cereja no topo do bolo metafísico:

"I am willing to question anything: the existence of God, the existence of me or you or Robert Zimmerman"

OK, tudo dito. E que tal questionares o porquê de até mesmo o Jimmy ter abandonado pela 2ª vez um barco à deriva e cada vez menos com formato de abóbora fantástica?

O teu blog vai definitivamente para a minha lista de favoritos. Talvez na secção de lost souls.

Led

terça-feira, 27 de outubro de 2009

As she walks in the room...


on w.a.s.t.e. central

Led

Aurora

Tolhido embevecido de ridícula aparvalhada submissão fulminado de uma tirânica e indomável opressão em vez de lhe soprar enfim ao ouvido todo o incrível e implícito fascinante do mais oculto e dolorosamente indesvendável de si enquanto à volta a saraivada tortuosa de um mundo obtuso firmado em escombros institucionalizados e certezas vãs subitamente se defraudava no tímido recurvar do olhar doce que o encontrava na vertigem intemporal e lhe ouvia sussurrar em sorriso retraído e meiga repreensão que tolo e desviando em acordo tácito palavras ímpias se demoravam fitando o halo luminoso da aurora que ainda cresce no horizonte da sua imaginação doentia torrente emotiva excessiva vaguear erradio da sua evocação que nunca tem divisas ou interdições


Led

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

6 (+7) canções para o fim-de-semana


Engineers - Sometimes I Realize
JJ72 - Formulae
Built To Spill - Hindsight
Animal Collective - Summertime Clothes
Doves - The Outsiders
Slowdive - Dagger
93 Million Miles From The Sun - Room2
M83 - Graveyard Girl
Muse - Blackout
Gregory Alan Isakov - This Northern Hemisphere
Scott Matthews - Elusive
The Cure - Maybe Someday
The Killers - Mr. Brightside (Thin White Duke remix)


P.S. Caso alguma canção ofereça problemas na audição através do leitor do blog (ex. lentidão, intermitência): " salvar como" ou "abrir numa nova janela".

Led

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O Quinto Império: Acordai, Portugal!

Vai para aí uma sarrabulhada mais disparatada....Ouvi há pouco na rádio que existia um qualquer abaixo-assinado (com a conivência vergonhosa da mais distinta apelidada imprensa nacional) exigindo lacrimosamente à embaixada brasileira para emitir um pedido de desculpas oficial por causa daquele Silly moment da Silly Maité naquele vídeo irrelevante gravado há 2 anos. E não é que conseguiram mesmo? Hein? Podem repetir? Mas haverá coisa mais saloia e paroquial de um Portugal absolutamente pequenino, moralista e complexado? Da nação da grandiloquência sebastianista, do cabo Bojador, da grandeza perdida da pátria, do Prof. Hermano Saraiva em tom cavernoso, do “deu novos mundos ao mundo”? Mas não haverá nada mais importante e que nos possa mover a intervir em semelhantes níveis de indignação? Algo que tenha a ver com assessores de presidentes da república, por exemplo... Mas foi nesta bagatela medíocre que resultou a ressaca noticiosa pós-eleicções? Preferia a Gripe A. É que, sem desconsideração, é só uma actriz de novelas!! Mas haverá melhor forma de se estimular o estereotipo que a Maité e muitos brasileiros sempre alimentaram de nós em piadas depreciativas? Estereotipo algo insultuoso, sim. Como em todos. Sem objectividade e sentido autocrítico, também. Que até tenho dúvidas que (os de lá) acreditem realmente nele, mais um misto de desprezo e ignorância. Mas a reacção de muitos portugueses a rasar o histerismo também veio a evidenciar a nossa falta de cultura democrática quando a crítica (que tentava o humor) vem de fora. E até um estereotipo que, aproveito para informar os melindrados nacionalistas, foi criado pelas próprias elites burguesas portuguesas que dominavam o Brasil oitocentista logo após a independência (sim, continuamos os melhores a gozar connosco mesmos). Um estereotipo baseado num preconceito novo-nacionalista, oriundo principalmente das metrópoles do Rio de Janeiro e São Paulo que recebiam as maiores massas de emigrantes portugueses logo após a abolição da escravatura. Emigrantes oriundos de famílias extremamente pobres do norte de Portugal que vieram a ocupar ofícios do pequeno comércio. E aí está! Gente pobre, iletrada e com a abundância de folículos pilosos em zonas recônditas característica de pessoas desesperadas que têm mais em que pensar do que em considerações estéticas. Gente “esquisita”, pensam as muitas Maités daquele enorme país. Mas infinitamente corajosa, principalmente. Estereotipo sem especial afinidade com o Portugal actual, também. Mas um estereotipo que nós, infelizmente anjinhos e paternalistas ou positivamente indiferentes e abnegados, nunca demos grande cavaco (termo escolhido casualmente). E a isto se poderia acrescentar ainda o óbvio do reflexo da medalha corporizada no estereotipo que conservamos do país do futebol, crime, samba e prostituição (ver comentários do Youtube ou fórum TSF). Mas este caso mostrou-nos ainda pior... Vai-se treslendo rapidamente os comentários ao vídeo e a reacção é ainda mais pavorosa. Fica-se absolutamente aterrado com o racismo latente... não só com os comentários dos portugueses, diga-se em abono da verdade. De ambos. E é que estão mesmo bem uns para os outros no nível de indecência. Dos comentários dos brasileiros ressalta um desdém que é típico dos países grandes. Uma arrogância enorme e ao mesmo tempo uma permanente desculpabilização: parece que tudo o que funciona mal no Brasil resulta de termos sido nós os colonizadores há quase 200 anos. E dos Portugueses, um complexo de inferioridade e provincianismo que é verdadeiramente confrangedor e inquietante. Eu acho que este episódio absolutamente irrelevante tem apenas uma pequena vantagem antropológica. Ajuda a dissipar alguns equívocos culturais que existem na relação entre os portugueses e os brasileiros (a sagrada mitologia dos países irmãos). De facto, tirando as novelas e a música brasileira que os portugueses consomem, os portugueses e os brasileiros não se conhecem - os portugueses sabem pouco da cultura brasileira, os brasileiros não sabem nada da cultura portuguesa (o que até é normal, dada a desproporcionalidade 1/20). Os brasileiros vivem mal com a sua história e isso tem a ver com a maneira como se relacionam com Portugal. E os portugueses também vivem mal com a sua história, mais isso já todos nós sabíamos ou então bastaria deslocarmo-nos a Santa Comba Dão. Mais, o caso evidencia que somos parecidos pelo menos num aspecto. Numa enorme falta de respeito que temos por nós próprios. Se a auto-estima dos portugueses é realmente abalada com uma pequenina cuspidela numa fonte do Jerónimos, então vou ponderar emigrar. Para a Argentina, provavelmente. E eu sou daqueles que, apesar de tudo, ainda prefere a Maité ao Scolari.

E o Cavaco, já falei do Cavaco?


Led

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

6 (+6) canções para o fim-de-semana


My Bloody Valentine - You Made Me Realise
The Pains Of Being Pure At Heart - Higher Than The Stars
Death Cab For Cutie - Meet Me On The Equinox
Cats On Fire - Lay Down Your Arms
Thom Yorke - Hearing Damage
Muse - Undisclosed Desires
Concerto For Constantine - Minsk
Black Rebel Motorcycle Club - Done All Wrong
Vampire Weekend - Horchata
Kings Of Convenience - 24-25
Hope Sandoval & The Warms Inventions - Trouble
Bon Iver - Lump Sum (live at Riverside 11-10-09)

P.S. Caso alguma canção ofereça problemas (e.g. lentidão; intermitência) na audição através do leitor do blog: "salvar como" ou "abrir numa nova janela".

Led

3 a.m.

Well its 3 a.m again, like it always seems to be. Drivin northbound, drivin homeward, drivin wind is drivin me. And it just seems so funny that I always end up here, walkin outside in the storm while looking way up past the tree-line. Its been some time…Give me darkness when i’m dreaming. Give me moonlight when i’m leaving. Give me shoes that weren’t made for standing. Give me tree-line, give me big sky, get me snow-bound, give me rain clouds give me a bed time…just sometimes...

Gregory Alan Isakov - 3 a.m.



Led

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Prosa de um funcionário cansado

Adormecer. Ver apagar-se ao longe o ruído do ser-se em colectivo. Ver apagar-se ao longe o ruído do ser-se em disputa e em jactância inútil, deixar para trás toda a matéria terrosa que obriga a ser-se em público e devassidão, dar por suspenso o combate mecânico e a obediência proletária, a necessidade de fazer o seu “número” coreográfico como o trapezista do circo, a agitação e o receio de empenhar expectativas, e os sorrisos palacianos e compassivos, e o linguarejar interminável e estéril, ser o paladino ascético da vida em abandono, apodrecer ao sol indolente da meia tarde, recolher à enseada da eterna promessa e aí quedar, não olhar muito para a abóbada celeste do futuro de um futuro incerto, limitá-lo à sua certeza obtusa, que é breve demais para ser certeza futura. E ser-me em tudo longe...Noite finda, trémulo bruxulear de claridade que ainda resiste. Estender ao morno da quietude. E ser-me em tudo longe...Adormecer...

Led

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Memória sem face nem nome

Uma certa hora de aragem estival, de gotas de chuva fria lucilando no beiral, do aceno final do sol no véu nacarado, de uma certa lua promitente no crepúsculo, do rumor ameno do vento numa madrugada nefelibata. A beleza indistinta que se não sabe dizer. A memória pura sem referenciação. A memória de si mesma. Tão pouco isso que é tanto. Porque é o tudo que isso cifra e fica em nós como a ressonância do mistério que por tudo isso se estende e diz para sempre adeus...


Led

O caminho faz-se a andar

Cansado de te perderes. O astro do firmamento que te conduz e nunca viste perde cintilação e o que em ti era sentido bussolar. Há uma treva cerrada no teu encalço. Há uma treva cerrada para o teu caminhar. E a única máxima que te sobra é a de estares aí parado. Cansado de te perderes. De perdido andares. Não pares.

Led

Snap Shot

Passou a sua vida a elaborar uma frase tão inovadora, tão original e tão bizarra que rapidamente se tornou em máxima irrevogável. Suicidou-se logo em seguida porque se tornou numa Frase feita.

Led

Asilo

Teve em jovem a sua ideologia cativante e temível. Mas envelheceu com ela. E com a velhice as perdas de memória. E daí a obstinação que o tornou num maníaco extravagante e amorável.

Led

Não ser eu toda a gente e toda a parte

O maravilhoso amparo comunicador do novo mundo cibernético. Os fóruns sociais. Como o habitual afluir de expedientes quando a moléstia é insanável. Os fóruns sociais. Disfarçam com deslumbramento e alarido tecnológico a nudez do monarca no seu trono solitário.

Led

Mentiroso compulsivo

Se queres mentir com eficácia histórica comprovada, põe-lhe tanto de exotismo como em detalhe. Foi assim que se teceram os grandes ideários políticos e religiosos.

Led

Fósseis

O tempo arcaico das palavras. O tempo de as conversar e de não as atropelar. O tempo das ideias encorpadas em vez de bocados medíocres de cortiça seca transaccionáveis como artigos de supermercado. O tempo epistolar antes do tempo s.m.s. O tempo em que havia tempo. Esse tempo. Fóssil arcaico adequado a museu como o esqueleto de Lucy.

Led

Porvir

Vem, Sol espantadiço. Vem, Sol fugidio. Adornas a coroa mas não amornas a coração. Avisto contigo os horizontes da vida e da linha que os percorre. Mas calor que me faça sorrir não vem. Aqueço-me à memória de quando vinhas e do que em mim ia contigo e me fazia sorrir nesse teu vir. Vem, Sol medroso. Vem, Sol clandestino. Regressa amanhã. Talvez eu me agasalhe contigo e o calor que acalento em mim tenha preguiça em partir.

Led

Vives

rodeado de enigma e jamais lhe serás relevante. Aceita-o, respira-o. E aconchega-te nele como no seio morno que te fez divino por um só ocaso entre duas noites eternas.

Led

domingo, 4 de outubro de 2009

Back to the music

Volcano Choir - Island, IS

Led

Imaginação ao poder

É talvez a altura certa para o declarar em tom solene e oficioso:

Este blog (assim como o requintado diabrete seu criador) apoia com veemência a candidatura “Coimbra com Ambição” à autarquia de Coimbra, encabeçada pelo Prof. Álvaro Maia Seco.

Sem querer cair em excessiva retórica oca de campanha, destaco apenas o dinamismo, honestidade, rigor e visão integrada de futuro que bem caracterizam o candidato em questão.

É tempo de acabar com 8 anos de marasmo, inaptidão, oportunismo e constrangimentos judiciais protagonizados pela maioria PSD/CDS/PPM e da não surpreendente conivência do PCP.

Como em todas as campanhas visando o preestabelecido, este será certamente um combate difícil e entre forças desequilibradas, mas também só assim certamente valerá a pena no final.

Muito boa sorte!

Estou indisponível para impropérios e directrizes de consciência apolíticas.;)

Led

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

6 (+5) canções para o fim-de-semana

Supersuckers - I Say Fuck (live, 90...)
Nirvana - Endless, Nameless
Wipers - Return of The Rat
Sonic Youth - Malibu Gas Station
Melvins - Lizzy
Dead Boys - Sonic Reducer
Mudhoney - Tales of Terror
Fastbacks - Just Say
The Vaselines - Son Of A Gun
Alice in Chains - All Secrets Known
Nirvana - The Man Who Sold The World (live, 92)

P.S. Caso alguma canção dê problemas no leitor do blog: "salvar como" ou "abrir numa nova janela".


Led

Album of the week: AIC - Black Gives Way To Blue

"These songs will strike a chord and make a similar impact on all of you out there that were moved by this band in the first place." - Layne Staley

Led

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

"Bronzeados" cerebrais

”The rock band (Muse) was forced to play in playback during an italian tv show about football "Quelli che il Calcio". So Muse decided to exchange their instruments and positions. The singer became a drummer, the drummer sang and played bass, and the guy who usually plays the bass played guitar and keyboard. Nobody (in the tv show) noticed the difference. Furthermore at the end of that fantastic performance the hostess interviewed the drummer that still acting like the singer talked about his friend Mathew in the drums (he his the real singer). Dominic Howard is telling Simona Ventura why he chose Italy to record the album, says it's a wonderful country, he likes to be there, and that the drummer Matt lives in Como and they have just built a recording studio and enjoyed a lot and is a beautiful place to be creative. PS. sorry for not perfect english and remember that not all italians are ignorant and egocentric like the staff of that show”

(and Berlusconi).

Obrigado pelo link, Viegas.

Led

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Diálogos de interesse relativo

(..)
- Nada é absoluto porque tudo é relativo!
- Mas essa proposição Kelseniana não vale de muito e sempre foi usada para depreciar qualquer argumento!
- Porque “tudo é relativo” é de facto um "absoluto"?
- Sim. Mas também porque tudo é relativo como a exactidão absoluta desse axioma circular.
- ...
- ...
- Continua a parecer-me um pénalti claríssimo.
- Absolutamente relativo.


Led

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

6 (+1) canções para o fim-de-semana

Tyler Ramsey - Birdwings
Feist and Ben Gibbard - Train Song
A.A.Bondy - The Mightiest of Guns
Marissa Nadler - Ghosts and Lovers
JJ72 - Black Eyed Dog (Nick Drake cover)
Antony and Bryce Dessner - I Was Young When I Left Home

Neil Young - Light A Candle

PS: Caso alguma canção dê problemas no leitor do blog : "salvar como" ou "abrir numa nova janela".

Led