quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Prosa de um funcionário cansado

Adormecer. Ver apagar-se ao longe o ruído do ser-se em colectivo. Ver apagar-se ao longe o ruído do ser-se em disputa e em jactância inútil, deixar para trás toda a matéria terrosa que obriga a ser-se em público e devassidão, dar por suspenso o combate mecânico e a obediência proletária, a necessidade de fazer o seu “número” coreográfico como o trapezista do circo, a agitação e o receio de empenhar expectativas, e os sorrisos palacianos e compassivos, e o linguarejar interminável e estéril, ser o paladino ascético da vida em abandono, apodrecer ao sol indolente da meia tarde, recolher à enseada da eterna promessa e aí quedar, não olhar muito para a abóbada celeste do futuro de um futuro incerto, limitá-lo à sua certeza obtusa, que é breve demais para ser certeza futura. E ser-me em tudo longe...Noite finda, trémulo bruxulear de claridade que ainda resiste. Estender ao morno da quietude. E ser-me em tudo longe...Adormecer...

Led

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