quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Contra a indiferença

O Fernando Nobre (AMI) explicava há pouco na SICN (excelente entrevista) que mantém intacta a sua crença no divino, mesmo após toda a devastação, ódio, sangue e barbárie que presenciou no terreno durante os seus 25 anos de carreira. Fica-se assombrado de tanta generosidade para com o Criador. Mas como absorver isto? A responsabilidade com a História do Homem, dizia ele em traço grosso, é do próprio Homem e de toda a avidez e corrupção que lhe está nos genes. Apesar do óbvio "la Paliciano", fica-se estupefacto com a nobreza de tais considerações genuinamente sentidas. Imensa sapiência e altruísmo, sem dúvida alguma. Inatacável doutrina filantrópica. Mas afirmar isto do Criador é depreciar o divino para uma categoria abstracta e intangível à sujidade de animal. De puro alheamento para com o difícil coabitar humano. Resta saber porque (e não como) mantém a crença, sendo que esta sempre foi uma convicção baseada em algum grau de necessidade, baseada num qualquer tipo de expectativa. Uma intuição quinto essência todo ela humana. Como dispensar o divino de justificações perante a vida, se é só ela que o Homem parcamente descortina? Como manter uma crença e imperturbavelmente isentá-la de uma realidade atroz? Excluindo a maluqueira ficcionada das religiões, deliberadamente omitir o divino de toda a indecência humana é a mais alta prova de devoção no Criador. O que inventamos a nós próprios para não estarmos sozinhos em face da morte é realmente prodigioso. Mas ainda assim menos prodigiosa que a imensa Humanidade do Fernando.


Led

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