Natal. Esperança morta de um céu para lá das estrelas, é bom que a finjam ainda as mãos áridas de um homem. Filho dos deuses ou dos homens, é um menino que nasce, é a evidência da eterna promessa para o nosso olhar cansado. É uma expectativa de nada, de apenas nos suspendermos à revoada dos ventos, das chuvas, da névoa, dos sinais da memória. Imagens ternas do que passou. Minha comoção oblíqua. As horas correm lentamente como se tivessem uma eternidade a cumprir. E eu com elas. Longo tempo me demoro ainda na incerta ausência de mim, enquanto o vento quebrando, a chuva abrandando, cai agora clareada, quase perpendicular, e no espaço ressoa do côncavo do vale o fervor de uma braveza apaziguada. Na dúbia luz da sala, o clarão do radiador aos meus olhos, de novo nele se me acende o tremular da memória, indistinto à fluidez da distância, cintila de longe em longe o rasto do que acabou. Natal. Breve harmonia, breve refúgio de um calor de se estar bem, de apenas ficar contemplando. E fechar os olhos à lassidão. E talvez dormir.
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