sábado, 7 de novembro de 2009

Like spinning plates

As grandes doutrinas do pensar, as grandes correntes literárias e artísticas, os grandes ideários políticos e religiosos, valores identitários de qualquer espécie. Tudo progressivamente para o caixote. Restos detritos fragmentos gelatina ideológica inestética. E cá vai - merdas - para manter-me - up to date- com a literatura actual. Tudo passou. Toma então o teu excedente paleolítico na mão e senta-te nos degraus da assembleia ou na respectiva paróquia mais próxima a esburgar os ossos do esqueleto que te é mais conveniente. Num presente narcótico de valores casuais e revolucionários civilizados em civilizadas ousadias, não há passado nem sombra de pecado. Por isso levanta-te, abre os braços, fecha os olhos e repete comigo: Ámen! A vida é assim o valor final e do qual ainda dispomos pagar seja o que for. E é por isso que o suicídio valoriza por extensão o que se houver realizado. E o valor dele é tanto maior quanto os inocentes a que se estende. Os bombistas ensinam-nos o nosso vazio desarmado a toda a hora.

Olho pela janela o grande espaço de cinza que invade todo o horizonte, o mundo transfigurado numa memória de génese. Uma voz de pregador na rádio intromete-se entre os espectros, fala de uma esperança para depois. Que pena ter-se perdido a inocência. Um coro interrompe-o, ergue-se por sobre o desastre, irmana-se à melancolia do céu. Mas de tudo o que olho e escuto, o que alastra em mim e fica em mim é a desolação da chuva lá fora e a imagem que dela se ergue é de um mundo submerso, perdido no silêncio de um falecimento universal.


Led

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