quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Demora-te...

Demora-te ainda um pouco, demora-te ainda um pouco. Fugir dos lugares da opressão, do vexame, do rancor, do aplauso, do mínimo interesse exterior que fale em ti. Alheamento do viver à superfície de nós, do que está ligado ao que é da vida imediata, dos enredados das mil futilidades com que se nos enchem os dias. Atrasa-te nas horas mortas da vida, nos intervalos rápidos em que ela se distrai a pensar. Demora-te ainda um pouco, demora-te ainda um pouco. E então saberás o que é que em ti é imperioso e revelador. Descer à gravidade de ti, ao precipício hiante do teu ser a saber-se existindo. Lugar do aparecimento de Deus mas sem Deus e apenas a sua inundação de grandeza que és tu criador. No sentir palpitante que está antes e mais longe que tudo. Espaço rarefeito e assombroso, lugar da grandeza do homem e do que nele é fundamental e trágico até ao impossível da morte. Aí és verdade de sangue para a infinidade dos séculos. Há tanto ainda que ver, que pensar, que admirar... De todo o real imediato transborda todo um mistério oculto para quem entende e interroga. Por isso..., Olha. Escuta. E a vida te desdobrará na infinitude que é a sua. E tu viverás sem a desperdiçares no incomensurável da sua grandeza. E terás vivido sem nada deixares atrás quando ouvires o sinal de que é a hora. Mesmo no derradeiro instante, abre ainda os teus olhos – e vê. A vida é tão espantosa. Não terás talvez tempo de a saber. Mas demora-te ainda um pouco. Há muito ainda que amar...
Led

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