segunda-feira, 2 de junho de 2008

Tempo de vacas magras e de lobos famintos

“A participação de Manuel Alegre numa iniciativa do Bloco de Esquerda é um direito de cidadania que não se discute, mas a participação de um deputado do PS em acções que contestam o seu próprio partido, deixa de ser um direito à diferença para se tornar numa contestação política concertada com forças concorrentes.
i
Há aqui um afrontamento ao PS, independentemente das razões substantivas das divergências, afrontamento que faz parte do legítimo combate político mas vedado, por razões de solidariedade institucional, aos membros do grupo parlamentar.
i
Manuel Alegre é uma referência da luta contra a ditadura, um intelectual de grande dimensão e um político cuja vida se confunde com a militância partidária. A sua saída seria uma perda para o PS mas a sua hostilidade é uma perda para si próprio.
i
No período conturbado que se vive, em tempo de vacas magras e, possivelmente, com dias piores que se avizinham, é fácil ser popular criticando mas difícil ser credível sem alternativas que é urgente apresentar.”

Afixe-se.

O resto da post aqui.
i
Led

6 comentários:

DN disse...

pq perdeu.se ou nunca ainda existiu o tempo de construir em vez de seguir, ordens, porque simples cor... assim deveria acabar o costume na AR, de uma vez por tds. o..voto da bancada, da cor, nao é nada, ou pelo menos e risco de nao o ser.. haja tempo de ideias e principios.

Ledbetter disse...

Nada contra a iniciativa do Bloco de Esquerda. Nada contra o pluralismo e a discussão de ideias, desde que haja um mínimo de razoabilidade. A minha questão prende-se com a legitimidade de um deputado participar numa festa de contestação ao governo mantendo-se como membro da bancada do partido desse governo na A.R.. A Helena Roseta é o exemplo de uma política com legitimidade para dizer e fazer o que lhe vier na telha (como já o provou muitas vezes), ainda que possamos criticar as suas posições flutuantes. No caso de MA, a situação é um pouco diferente. A partir do momento que MA assume constantemente e publicamente posições contrárias à do partido em que está inserido e para o qual foi designado representante, usando para tal da visibilidade de um partido da oposição, está a fugir à regras (ainda que formais, como todas) da democracia representativa. Os partidos tem de obedecer a uma colectividade ideológica, não podendo por isso andar constantemente ao sabor do vento que sopra mais alto quando as condições climatéricas são más para a capitania (perdoa-me a analogia náutica), dependentes de indivíduos ou facções minoritárias que contribuem para a dispersão. A dispersão normalmente resulta em caos governativo (alguém está a pensar no Santana?). As regras de um partido são o que são e não o que gostaríamos que fossem. Quem não concorda com os princípios básicos e ideias basilares desse mesmo partido, torna-se independente. Tudo o mais é eticamente reprovável e mesmo um exercício de cinismo político. Sejam as intenções honrosas ou não. E acho mesmo que ele devia ter tomado logo essa decisão antes de se ter candidatado às presidenciais (pelo menos teria tido o meu voto). A democracia representativa consegue ser uma merda redutora, mas é o melhor sistema que existe. A história já o provou muitas vezes durante o século XX.

DN disse...

as regras nunca sao so formais.. esquece a ratio e nada existe..
para democracia representativa, primeiro democracia..logo pluralidade, liberdade, dentro das tais regras, sim sr, ja sabemos. tds os nossos chavoes mt faceis de soltar.
mas com toda essa fervura nao sei se falo em democracia participativa..
faz falta mais seriedade, precisamente pq falta aquilo q equivale à tal ratio, a substancia, a unica que pode fundar barcos em frente.

nada de politiquices, nao sou por ai :)
(mas deu para mais uma gargalhada, a seguinte à dispersao... quase basta a referencia, o nome.. se me faço entender.. obrigada)

Ledbetter disse...

Falo por mim, dentro do possível objectivo, sinto-me minimamente representado nos partidos em que votei da última vez. Ou melhor, nas pessoas em que votei e nas escolhas que me foram apresentadas na altura. E apesar de toda a legítima inquietação actual anti-partidarista ainda sou daqueles que acreditam que é o menos perigoso dos sistemas para o futuro de um país. Discordo e posso criticar muitas decisões que têm sido tomadas, mas não é francamente viável ter um representante burocrático por cada uma das minhas discordâncias. Dada essa minha posição de velho do restelo, prezo a solidariedade institucional entre membros do mesmo. O assunto que colocava na post tem um pouco a ver com isto e menos com o défice democrático. Não me importo que políticos mudem de opiniões (acho até relativamente saudável, porque os tempos são de mudança ), mas não gosto de oportunismos circunstanciais. Gosto de políticos de verdadeira coragem e que sejam consequentes nas suas opiniões.

A falta de participação dos cidadãos na política é uma questão mais ampla e da qual podíamos estar horas a fio a discutir, dada a multiplicidade de factores sociais que a têm feito declinar. Mas resumidamente, não podemos cair sempre no erro de culpar os políticos, nós somos cúmplices conscientes do crime. Os efeitos castradores da ditadura neste país relativamente pobre (mas que já foi muitíssimo mais pobre) e a primavera económica subsidiária resultante da rápida entrada na comunidade europeia são também possíveis explicações para a nossa negligência actual. Mas as altas taxas de abstenção em todas as últimas eleições são um bom exemplo da nossa incapacidade de perceber o que é um dever elementar de cidadania. Olhar para o nosso comportamento na sociedade de vez em quando também era capaz de ajudar a perspectivar novas soluções.

**

DN disse...

precisamente o meu ponto, unico.. "que sejam consequentes nas suas opinioes", "que mudem de opinioes", que as tenham, e possam ter, num espaço que tem de ser de principios e nao de cores. o que é esta politica da bomba? ha que dizer sempre mal para mostrar que somos, q existimos, que melhor..? e afinal so contradiçoes.
espero pela politica séria dos aplausos do outro lado da barricada no tempo certo. porque isto visto, em filme, so de guerra..
e uma pena.. ou talvez haja bastidores maiores, onde nao tem de haver lugar para ela.

quanto ao "nos somos cumplices".. ai o conceito de democracia participativa, que vai muito para alem do voto..
a minha ideia talvez seja.. é.. dia.a.dia!

Ledbetter disse...

A democracia participativa é muito mais do que ir a votos, claro! Era apenas um exemplo importante da nossa falta de exigência nos momentos importantes. O voto branco ainda conta por aqui...

A democracia participativa também é um pouco o que fizémos aqui!;)

*