sábado, 14 de junho de 2008

Do regresso

Está-se uns dias fora e logo se desenha a expectativa ingénua de que o país esteja mais maduro e sério no regresso. Puro delírio que se esbate imediatamente ao ligar a televisão, jornais ou rádios. Que fadiga imensa... Neuchâtel. É nesta palavra repetida até ao vómito que o país tem estado suspenso nos últimos dias. Greve, petróleo, raça, Ronaldo e Scolari são os termos seguintes. Directos inúteis, entrevistas despropositadas, cânticos inchados e dedicatórias patrióticas de ocasião para sublimar o histórico complexo de inferioridade. A imprensa equipara-nos no grau de bovinidade passiva e nós acenamos afirmativamente à invasão. Muito pouco sobre a nega irlandesa à ratificação a um tratado que parece ser crucial mas que ninguém ainda consegue decifrar senão os habituais críticos de lábia fácil e os profetas da desgraça. Faltam os fogos periódicos para completar o ramalhete carnavalesco. Alguma vez encontraremos a harmonia? Desisto de tentar perceber. Vou colocar os phones nos ouvidos, cerrar os olhos e desandar daqui mais uma vez.
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Led

9 comentários:

João Gaspar disse...

faltam os fogos nas notícias, porque já houve mais do que o ano passado. mas como nenhum foi em neuchatel não se fala nisso.

DN disse...

crucial crucial crucial..???!

e alguem sabe o q e isso da harmonia..?

Celeste disse...

Então sê benvindo! :D

Este país é o que é, já se sabe. Porque é que não emigras de vez? Eu, se a língua portuguesa não fosse o meu principal intrumento de trabalho (e nas suas mais recôndidas metáforas e mensagens subliminares!), já lá estava.

Um abraço :)

Ledbetter disse...

Gaspar: A Suíça é um país demasiado enfadonho para os incendiários. Desta vez até concordo com eles neste ponto.

Dn: Crucial no sentido em que a Europa vai ficar no impasse mais uma vez, perdida nos infindáveis debates existenciais sobre a sua natureza em vez de estar empenhada na resposta a problemas estratégicos correntes como a dependência energética. Acho que ainda não percebemos bem a dimensão do que se está a passar e a imprensa não está a cumprir os deveres informativos que penso desejáveis, focalizada nos detalhes provisórios em vez de estimular uma discussão profunda sobre um problema global que continua sem resposta. Por muito o que a namorada do Cristiano pense sobre a vida e os futuros 8 milhões de euros anuais do “Grande Pai” Scolari sejam assuntos de uma importância incontestável para a nação. Mas não vou dizer mais, porque hoje há bola e esta discussão não tem a ver com futebol (correndo sempre um risco mínimo de linchamento público até merecido por outras razões).

Celeste : Obrigado pela sugestão simpática de exílio! Eu estava a pedi-las! :) E sim, forçado ou não, devo emigrar lá para o fim do ano. Mas eu adoro este país, que não haja confusões nesse ponto!

Cumprimentos a todos.

DN disse...

no papel dos ditos media tens toda a razao! nao cumprem a sua funçao. mas tb, nd q nao fosse de esperar. e so mais do mesmo..
e, mais do q despejar informaçao, era preciso fazer compreender. talvez esse seja um problema da propria ue, ou dos proprios paises membros. porque ainda so nos sentimos cidadaos europeus quando toca ao peditorio de fundos. euros.. e as implicaçoes sao tao maiores do que isso..
e que, neste momento, nao e possivel dar "resposta a problemas estrategicos" sem primeiro saber, sim, qual a natureza desta uniao. nao sao meros dilemas existencias, trata.se de resolver o problema do funcionamento das instituiçoes comunitarias. essencialmente a forma de tomar decisoes, o relacionamento entre "orgaos", a representaçao externa da uniao e mais ainda.. saber se isso corresponde ao projecto, melhor direi sonho inicial, de progressiva integraçao no sentido da federalizaçao..
e importante, sim sr! mas, aqui na minha cabeça.. a resposta nao esta neste modelo.
nao deixam, mas voto nao.

João Gaspar disse...

yap, a suiça foi o país mais irritantemente bonito e arrumadinho onde já estive. uma seca.

Ledbetter disse...

dn: Percebo o que dizes e acho que tens razão em alguns pontos. Eu confesso a minha ignorância sobre o essencial do tratado ratificador e portanto não arrisco dizer sim ou não, parece-me um pouco redutor reduzir a questão a estes termos. De qualquer maneira, do pouco que li, parecem-me pontos positivos o reforço do direito à subsidiariedade e o seu controlo pelos parlamentos de cada país membro, a diminuição do número de membros da Comissão Europeia, a criação do ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, a atribuição de valor legal à Carta de Direitos Humanos, além da clarificação das fronteiras com as atribuições do Estados-membros. Mas estes pontos são apenas 0.00...1% das centenas de páginas do tratado, na sua maioria artigos jurídicos inóspitos para “leigos” como eu. Por isso mesmo sou contra os referendos como instrumento banal de decisão de matérias como esta; defendo que em democracias representativas como a nossa, as decisões devem ser tomadas em sede própria – a Assembleia da República. Nunca fomos chamados a dar opinião em assuntos europeus, nem sequer sobre a adesão à entrada na CEE, agora que já lá estamos penso que devemos deixar a decisão para quem sabe (ou devia saber) mais. Não acho viável imaginar a minha avó a dar parecer sobre um calhamaço de títulos jurídicos incompreensíveis mesmo para especialistas, dado que são, na sua maioria, alterações introduzidas aos tratados anteriores. Por outro lado, não sei se estiveste atenta à miserável campanha pelo “Não”na Irlanda onde, por entre outras barbaridades lançadas pelas organizações anti-europeias ligadas à extrema-direita e extrema-esquerda e encabeçadas pelo milionário e antigo Embaixador dos EUA nas Nações Unidas, se disse que o “Sim” traria o aborto para a Irlanda, um enfraquecimento da economia céltica e uma fragilização da NATO. E será justo que o “Não” de apenas 40% dos eleitores de um país de 4 milhões possa condicionar o futuro colectivo de 500 milhões de cidadãos europeus? Por outro lado, em 2001 um terço dos eleitores da Irlanda tinha votado “Não” ao tratado de Nice, tratado este que incluía o alargamento a 27. Já em 2002, em novo referendo, mais de metade da Irlanda acabou por votar favoravelmente este tratado. O que é que isto nos diz? Diz-nos que, dada a volatilidade, usar mecanismos referendários para matérias como esta pode trazer consequências desastrosas para o funcionamento de uma união que devia funcionar em bloco.

Ledbetter disse...

Gaspar: Vou lá estar em Julho e prometo cuspir no chão.

DN disse...

incompreensiveis mesmo p quem tenta nao se afundar neste mundo do direito.. tens toda a razao..
sao mts questoes interessantes polemicas politicas estrategicas legais culturais e sei la q mais.
e a tentaçao de te responder a cada palavra e tao! grande... mas nao posso.. seria prolongar estes comentarios mt mais do q me permitirias :)
so nao deixo de responder directamente a tua pgta dos 40% de eleitores com um sim fundado na minha convicçao de q a soluçao para a europa nao pode passar pela construçao de um estado federal. nao e materia de justiça, e antes a tal importancia maior da natureza da uniao que ha que resolver para perceber e poder responder a todas as outras! uma uniao de estados e nao um estado unido.