domingo, 21 de dezembro de 2008

Top 15- 2008

Como habitual no final de cada ano, aqui deixo as minhas 15 preferências para os álbuns saídos durante 2008. Se bem que a primeira posição do top foi para mim sempre indiscutível (tal como “In Rainbows” (Radiohead) o era em 2007, “Pearl Jam” em 2006 e “Future Perfect” (Autolux) em 2005), todas as outras foram naturalmente sofrendo alterações na colocação consoante a volubilidade da minha disposição.

1. Bon Iver – For Emma, Forever Ago

Assim, é sem qualquer surpresa que Bon Iver ocupe o primeiro lugar do top. Não é habitual que um conjunto de canções tão humildes e descomprometidas apareçam com frequência na compressão imediatista do mercado musical contemporâneo, francamente obcecado com “a próxima tendência” que igualmente abdica com rapidez. “For Emma, Forever Ago” demonstra com brilhantismo uma evidência indelével – que por qualquer quantidade de produção aparatosa e lustrosa recheada de letras pré-formuladas e açucaradas e exercícios cosméticos de estilo, nada se pode comparar à honestidade de um homem com a sua guitarra e emoções reais. Por isso a música delicada e despojada de Justin Vernon (Bon Iver) absorve-nos por completo até à impenetrabilidade da nossa intimidade. Não tenhamos dúvidas, a batalha catártica de Justin Vernon com a sua desilusão, é uma batalha em todos nós.

2. Mogwai – The Hawk is Howling

Em segundo surgem com naturalidade os Mogwai com o seu 7º disco de estúdio “The Hawk is Howling”. E que mais posso dizer desta banda senão que é uma das minhas predilecções pessoais há quase uma década? Os Mogwai raramente colocam letras nas suas músicas, mas a poesia está latente por toda a sua obra e este 7º disco é disso um excelente exemplo. Para mim “The Hawk Is Howling” resume o melhor dos Mogwai, o pendor etéreo dos 3 melhores discos da banda - “Young Team”, “Ten Rapid” e “Rock Action”- com o acréscimo experimentalista sintético de “Happy Songs...” e “Mr Beast”. Enquanto a música de bandas comparáveis como Explosions in the Sky ou Sigur Rós é evocativa de paisagens majestosas e impessoais, a música de Mogwai liberta emoção bruta de um modo extraordinariamente conciso e açambarcador. Mestres do fornecimento de tensão após tensão até que a libertam suavemente na corrente sonora do clímax, com instrumentos que conseguem amargurar e dulcificar ao mesmo tempo, esta é uma obra que nos deixa a levitar em múltiplas dimensões. Existe aqui a brutalidade do metal, a textura sintética da electrónica, as melodias de cordas dos épicos e depois aquela secção rítmica do Martin...que coisa impressionante! Um excelente, excelente, excelente disco de uma banda completamente indispensável (e um concerto a não perder em Fevereiro na Aula Magna).

3. Youth Group - The Night is Ours

Em seguida, temos Youth Group, um grupo estranhamente ainda pouco divulgado no continente europeu mas que me conquistou logo em 2005 com o seu segundo álbum “Skeleton Jar“ e me foi atraindo progressivamente com o terceiro álbum “Casino Twilight Dogs” que continha a versão rockeira da sempre “kitschie” e etérea canção “Forever Young” dos Alphaville. The “Night Is Ours” é contudo distinto de todos os outros discos da banda em muitos aspectos, sendo um deles o seu processo de gravação. O quarteto australiano gravou o seu quarto álbum num depósito abandonado do porto de Sydney conseguindo criar um ambiente singular que se sente por todo o disco. O resultado é uma obra coesa e convincente, combinando com destreza e modéstia géneros, instrumentos e atmosferas aliados aos brilhantes recursos letristas de Toby Martin. O disco mostra o progresso firme de uma banda experimentando novos sons mas ainda assim mantendo sólida a paixão delicada e melancólica pop que edificou a excepcionalidade desta banda. "Dying At Your Own Party" é uma canção simplesmente brilhante.

4. Deerhunter – Microcastle /Weird Era Cont.

Na 4ª posição aparece a banda que andou a abrir concertos dos NIN este Verão com o magnífico terceiro álbum “Microcastle”, seguramente dos mais ouvidos pela minha pessoa na segunda metade deste ano. “Microcastle” pega nos elementos mais espaciais e hipnóticos do afamado disco anterior “Cryptograms” e acrescenta-lhes um pouco mais de melodia e aperfeiçoamento de estúdio. O resultado é uma amálgama narcótica de harmonias surpreendentemente viciante. Absolutamente recomendado para todos os vanguardistas da música alternativa que ainda apreciam melodia.

5. Cat Power – Jukebox

Em seguida, surge a carismática Cat Power com o seu segundo álbum de covers “Jukebox”, a sequela natural e evolutiva ao “The Covers Record” de 2000. Um disco genial onde Cat e a sua excelente banda de apoio refazem temas de outros artistas (incluindo a própria) criando a ilusão que sempre foram seus. Mas esta é também uma Cat mudada, mais estável e amadurecida emocionalmente. E essa mudança nota-se perfeitamente na nova versão de “Metal Heart” incluída neste disco. Não mais um hino sussurrado ao folk, mas uma carta de amor com bateria e piano à antiga e frágil Marshall que outrora a escreveu por volta de 1998. “You’ll be changed”, ela canta. Não podia estar mais perto da verdade. E nós tranquilizamo-nos, porque amamos a figura.

6. NIN – Ghosts I-IV

Na 6ª posição coloquei o disco experimental “Ghosts I-IV” (aka Halo 26) dos NIN, o sétimo grande lançamento da banda de Trent Reznor pela primeira vez sem o apoio editorial em quase 20 anos de carreira. O álbum é uma colecção estilhaçada de harmonias concebidas durante os anos de preparação de “Year Zero” (análogo na forma à experiência “Pastichio Medley” do EP “Zero” dos Smashing Pumpkins), uma compilação de texturas sonoras sem uma referência e direcção lógica, expandindo o seu som sintético e industrial para instrumentos mais orgânicos como marimbas, banjos ou guitarra de slide. No conto geral é um disco suave e inteiramente ambiental que deixou muitos fãs surpreendidos/desiludidos. A mim seduziu-me por completo pela originalidade e risco calculado e por isso merece estar no top 15, à frente do “The Slip”, o grande lançamento da banda no ano de 2008.

7. Portishead – Third

A 7ª posição é ocupada pelos Portishead com o seu (mais que aguardado) terceiro álbum em 14 anos de carreira após um hiato de 11, simplesmente intitulado “Third”. O disco mostra uma despedida do som mais trip hop dos álbuns anteriores, aqui explorando temas mais sintéticos, minimalistas, duros e repletos de escuridão e claustrofobia cuja apenas a voz transcendente e delicada de Beth Gibbons consegue mais uma vez contrapor com assombro. "Silence", "Hunter", "The Rip", "We Carry On" e o single introdutivo "Machine Gun" são canções absolutamente imprescindíveis.

8. Coldplay – Viva La Vida or Death and All His Friends

Na 8ª posição aparecem os Coldplay com o seu pretensioso mas bem sucedido álbum “Viva La Vida or Death and All His Friends”. Há cerca de um mês foi lançado também o EP “Prospekt's March”, uma extensão do disco contendo alguns temas inéditos (como o magnífico “Glass of Water”) e outros mais desprezíveis (a versão da “Lost” com o rapper da moda Jay Z arrasou por completo a essência da canção) que, na minha opinião, deveriam ter sido incluídos no álbum de modo a criar uma obra mais multifacetada e consistente. De qualquer maneira, já fiz anteriormente a análise ao disco e portanto não vou entrar em pormenores. Apenas volto a reforçar a ideia de que é um erro desdenhoso confundir sucesso comercial com o melhor ou menor valor de um disco e de uma banda. O preconceito funciona para os dois lados e eu sinceramente estou-me marimbando para os dois lados sectoriais do eixo, os que amam e os que odeiam apaixonadamente.

9. Death Cab For Cutie – Narrow Stairs

Na 9ª posição surgem os Death Cab For Cutie com “Narrow Stairs”. Após o equívoco mediático que confundiu muita gente (incluído eu próprio durante uma semana – ver notícia aqui) depois de um internauta ter decidido disponibilizar o disco “Home Waters” (do final de 2007) da outrora desconhecida banda alemã Velveteen com o nome de “Narrow Stairs” (incluindo o nome das canções) e divulgando-o como o novo disco dos DCFC, só após um mês e com a saída do verdadeiro disco dos DCFC é que se chegaram a duas conclusões: que basta um idiota para embrulhar milhares de fãs ávidos e, pelo lado mais positivo, que os Velveteen também são uma excelente banda. Mas voltemos ao autêntico “Narrow Stairs”, um magnífico álbum! Quem duvide que ouça cuidadosamente o single improvável de quase 9 minutos de duração “I Will Possess Your Heart", um tema que começa com 5 minutos de crescendo sem letra antes de encetar numa obsessiva carta de amor. E é assim todo este disco, escuro e compresso ( do qual “No Sunlight” e “Cath...” são mais dois bons exemplos) e absolutamente irrepreensível tecnicamente. O melhor disco da banda até à data.

10. Beck - Modern Guilt

Em 10º, o último disco do nosso (e único) cientologista favorito. Como nunca fui um fã típico de Beck (o meu álbum favorito é o “Sea Change”) atrevo-me a dizer que este é um dos melhores discos deste alucinado multi-instrumentalista californiano em 14 anos de carreira. Há aqui a destreza técnica de “Mellow Gold” e “Odelay” e o intimismo franco do “Sea Change” , deixando ainda espaço para a ironia e obliquidade lírica de “Mutations” e “Midinite Vultures” . “Modern Guilt” é portanto provavelmente o disco mais completo e equilibrado (e viciante também) de Beck em muitos anos depois da relativa desilusão com “The Information” e “Guero”.

11. NIN – The Slip

Na 11ª posição surge o disco “The Slip” (aka Halo 27) dos NIN cujo processo de lançamento via digital transpôs mesmo o fenómeno de marketing “In Rainbows” ao serem disponibilizadas canções de elevada qualidade (ficheiros WAV) e de um modo absolutamente grátis (o download pode ainda ser feito aqui). “The Slip” é também o álbum mais directo e conciso da carreira dos NIN. Não há aqui qualquer vestígio das típicas introduções com crescendos demorados e meticulosos, entrando logo em acção com o tema agreste "1,000,000," e assim mantendo a intensidade e tensão durante metade do disco até gradualmente abrandar nos temas mais suaves e orgânicos do final dos quais "The Four of Us Are Dying" é o mais emblemático. “The Slip” serve como contraponto às excursões temáticas e instrumentais do “Ghosts I-IV”, recuperando o minimalismo sintético e áspero dos idos tempos de “Pretty Hate Machine” ou “The Downward Spiral” e acabando em atmosferas mais alusivas a “The Fragile” . Por outras palavras, um resumo compactado da carreira dos NIN e uma amostra das várias personagens artísticas de Trent Reznor ao longo dos 20 anos de carreira.

12. Uzi & Ari – Headworms

Na 12ª posição surgem Uzi and Ari com o seu mais recente “Headworms”. Se bem que na minha opinião inferior ao anterior registo “It Is Freezing Out” (2006) e mesmo ao disco mais pós-rock “Don’t Leave In Such a Hurry” (2004), “Headworms” mantém os níveis de exigência altos, com temas suaves e delicados que continuam a fazer lembrar o melhor de The Postal Service e dos Radiohead de alguns temas do “Kid A”. Uma excelente crítica em português ao disco pode-se encontrar aqui. Também convém divulgar mais uma vez ao interessados que estes rapazes vêm tocar a Leiria dia 22 de Fevereiro de 2009, concerto integrado na sua segunda tourné europeia.

13. Snow Patrol - A Hundred Million Suns

Na 13ª posição aparecem os Snow Patrol com o seu 5º álbum “A Hundred Million Suns” desde que o excelente “Songs for Polarbears” saiu em 1998. Foi com satisfação que ouvi este disco após o excessivo abuso de sacarina pop que foi “Eyes Open”. “A Hundred Million Suns” é a obra mais completa da banda até então, a sua produção imaculada e energia sónica foram confeccionadas para catapultar a banda para os primeiros lugares do pop rock moderno. Nada de mal nisso desde que usado com moderação. Tal como “You’re All I Have” e “Chasing Cars”, ambos mega-singles do álbum anterior, canções como “Take Back the City” e “If There’s a Rocket Tie Me To It” repetem a formula cíclica, ambas com apenas meia dúzia de notas e uma simplicidade que ajuda a maximizar o potencial da canção. Mas “A Hundred Million Suns” também anuncia novas curvas no repertório da banda, desde “Lifeboats” (uma espumante e discreta canção de amor cheia de mid-tempos e glissandos harmónicos) ao suave hip-hop de palmas “The Golden Floor”, até à ode sinfónica final de 16 minutos de duração “The Lightning Strike”, uma composição em 3 partes de uma grandeza celestial e experimentalismo épico bem sucedido. E é aqui que os Snow Patrol sempre funcionaram bem até alturas de “Final Straw” – na intersecção entre pop/rock acessível e de algo mais desafiante, quer seja um arranjo inesperado ou uma reviravolta melódica interessante. É esta fronteira frágil que a banda tem de saber explorar no futuro sob pena de cair na trivialidade.

14. The Samuel Jackson Five - Goodbye Melody Mountain

Na 14ª posição surgem os noruegueses The Samuel Jackson Five com o seu 3º álbum “Goodbye Melody Mountain” uma das revelações dos pós-rock dos últimos anos. Neste disco eles pegam na fórmula minimalista dos discos anteriores e expandem o som à sua volta, chegando a adicionar novos elementos sonoros (metal e jazz). O que estes tipos já entenderam é que a música está em movimento perpétuo e por isso uma banda que queira crescer tem de arriscar sair da sua zona confortável, misturando novos sons e estilos musicais. A decisão de uma banda de se aventurar em novas temáticas é a principal razão que me leva a considerá-los como a típica banda de pós-rock, pondo de lado outros grupos demasiado ordeiros para mudar o seu som (ou fazê-lo da pior forma, como os Sigur Rós). Não é um disco fácil, eu próprio demorei várias audições até começar a gostar. É um disco demasiado sofisticado, demasiado subtil, demasiado inteligente para ser imediatamente acessível. Mas ofereçamo-lhe a atenção cuidadosa que merece (ouvir com phones) e eu garanto que irão beneficiar das vantagens.

15. Stereolab - Chemical Chords

E na última posição do meu Top15 de 2008 surgem os aliens surrealistas Stereolab com mais umas das suas doses refinadas de experimentalismo pop-lounge anglo-francófono dos anos 60 desta feita felizmente com um conjunto de temas acessíveis e orgânicos em detrimento dos sintetizadores analógicos inabordáveis dos últimos tempos. “Chemical Chords” é um álbum muito interessante e estranhamente agradável (ponham estranho nisso) mesmo para quem como eu nunca partilhou do fascínio intelctualóide com a banda britânica. Para ouvir com muita atenção.

Em resumo:

1. Bon Iver – For Emma, Forever Ago
2. Mogwai – The Hawk is Howling
3. Youth Group - The Night is Ours
4. Deerhunter – Microcastle /Weird Era Cont.
5. Cat Power – Jukebox
6. NIN – Ghosts I-IV
7. Portishead – Third
8. Coldplay – Viva La Vida or Death and All His Friends
9. Death Cab For Cutie – Narrow Stairs
10. Beck - Modern Guilt
11. NIN – The Slip
12. Uzi & Ari – Headworms
13. Snow Patrol - A Hundred Million Suns
14. The Samuel Jackson Five - Goodbye Melody Mountain
15. Stereolab - Chemical Chords

Menções honrosas:

M83 - Saturdays = Youth
REM - Accelerate
The Cure - 4:13 Dream
Kings of Leon - Only By The Night
Los Campesinos – Hold On Now, Youngster
Patti Smith and Kevin Shields - The Coral Sea
Unkle - End Title…Stories For Film
Nada Surf – Lucky
Elbow - The Seldom Seen Kid
Fennesz – Black Sea

Bom natal!

Led

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Volta e meia

Volta e meia e para atestar a qualidade da linhagem, lá aparece um tipo a defender para si o seu quinhão de causas sociais e a autenticidade do seu pólo político consubstanciado nas vezes que arremessa a sua verdade exclusiva e genesíaca contra todos os ismos que ostentam gosma burguesa na peugada, amesquinhando o sujeitículo acomodado do bloco central, esse tipo sem ética corrompido pela base que nunca leu livros progressistas neorealeiros e dado a essa coisa chilra e raquítica do diálogo e da sensatez, à tineta pífia do pormenor com a sustentabilidade e a responsabilidade. O tipório conhecedor do real e do trabalhador seu correligionário é um gajo desafrontado e seguro de si, de fórmulas milagrosas prontas na algibeira, de peitaça larga para a bordoada ideológica, que come bem, bebe bem, fornica bem, de ideias limpas, descomplexadas, tipo porreiro e solidário com as minorias, dorme do lado bom do humanismo, veja-se a nossa sorte, escasso de metáforas quando é preciso, companheirão, sujeito vivido, calmo e teso, nada de subtilezas sofísticas quando é preciso, pão pão, queijo queijo, escorreito, destemido, atestado de tomates e de glóbulos vermelhos e de lições para dar ao mundo.

Volta e meia aparece também a História cheia de estilhaços e sangue messiânico a desdizê-lo. A História, essa apóstata imunda e prepotente.


Led

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Alma Mater

Os Moonspell acabam de regressar de uma intensa tourné norte-americana e canadiana (a sétima incursão por estes territórios) parcialmente partilhada com os deuses noruegueses do black metal Dimmu Borgir que abrangeu 28 concertos durante cerca de um mês. À média de um concerto por dia em festivais e recintos fechados sempre esgotados, começa a ser constrangedor não lhes reconhecer o mérito com mais veemência por causa da típica desconfiança pelo género musical. Até porque em mais de metade destes concertos do outro lado do atlântico, conseguiram a proeza admirável de serem a principal banda de cartaz tendo sido apoiados por bandas locais. Este mês regressaram à velha Europa, com actuações programadas na Alemanha, Itália, Suíça, França, Holanda, Áustria, Hungria e Dinamarca. Quando muito se fala dos novos artistas portugueses que começam a arriscar mercados inóspitos (desde Legendary Tiger Man, passando por The Gift, Fonzie, X-Wife, Buraca Som Sistema ou David Fonseca), seria bom lembrarmo-nos mais vezes do caso incomparável da banda de Fernando Ribeiro que fez do “estrangeiro” palco principal há mais de uma década. Sem pretensiosismos e vitimizações lingrinhas, tiveram a ousadia suficiente para abandonar o ócio doméstico e arriscar num mercado outrora pouco explorado. Hoje são uma referência para o metal gótico em toda a Europa e inevitavelmente mundial.

Nunca os vi lamentar o fado avesso e o desdém do país materno e são eles próprios que o dizem sem ironias ou falsas modéstias: "É incrível, mas já fomos quatro vezes a Moscovo e nunca tocámos em Évora!"

Bem hajam, rapazes!

Sam The Kid, come pó!

Led

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Desabafos, música e cenas

Tenho que confessar o meu profundo desalento. Após noites a fio passadas a gravar fragmentos de sons para o computador para finalizar duas canções, forçando-me mesmo a fixar passagens com teclado (e logo eu, um completo leigo) para acrescer às imensas camadas de guitarra e de baixo já gravadas anteriormente...Hoje deu-me o reviralho no juízo e acabei por apagar tudo por completa impotência por transmitir o que realmente desejava, inicialmente de conceição simples. Apesar da sensação de tempo perdido em coisas realmente úteis, um alívio imediato. Exausto mas resignado, ligo a televisão e vejo um mini-documentário sobre os Buraca Som Sistema e mais o seu wengue wengue desmiolado ou progressivo, como intitulam os entendidos da coisa. “Revolucionários”. “Extraordinários”. “Fundadores do novo som electrónico”. “Os novos embaixadores nacionais”. Mesmo vindo de críticos credíveis e dos cépticos que normalmente me dão confiança. Estou perplexo com as honrarias e o deslumbramento colectivo. Com doses da habitual condescendência quarto-mundista, por vezes. Ou de nacionalismo tacanho, noutras. Mas o sucesso é indiscutível. E agora estou para aqui a tentar perceber o que significa isto. A pensar que vivo realmente num mundo à parte porque já não consigo compreender como certas bandas ou artistas têm tanto sucesso. Onde findaram os juízos puramente estéticos do conteúdo e se começou a dar relevo apenas ao acessório e imediato? A música deve ouvir-se por si, na pura organização dos sons, na essência de si própria que é o ser música sem mais. Muitas vezes sem uma qualquer referência estilística. Mas em alguma parte dos juízos deve estar o mérito com o trabalho passado a construir as canções. Pouco interessa hoje em dia. O importante é o alarido e o hype cintilante. A música hoje é para o alvoroço da colectividade sempre em movimento, cada vez menos uma experiência solitária. Tudo a par com o fim do culto aos objectos sonoros. Compactado e de fácil acesso e digestão. Por outro lado, não ouço música alguma sem um enquadramento imaginário qualquer, o que deve ser um sinal de inferioridade para um ouvinte proscrito. Mas há sempre alguma coisa mais para que aponta, nem que seja o próprio encantamento em si em que a musica já se não ouve. A música é-me o transporte para o que não sei mas vou imaginando enquanto ouço. Mas tudo hoje é caótico e sintético e absurdo e o enlevo é visto como sinal de inferioridade. No canal 2 passa uma excelente série documental do JP Simões (“quilómetro zero”) sobre bandas amadoras nacionais ou que vivem na penumbra da ribalta. Tenho visto e ouvido coisas verdadeiramente geniais. Gente dedicada e engenhosa, mesmo com a falta de recursos. Não sei como esses artistas convivem com a sua genialidade oculta. A mim causa-me uma aflição imensa porque me revejo inevitavelmente nos sonhos de grande parte. Mas esses são músicos a sério. Eu não. Ainda assim, fico impressionado em como o deslumbramento está tão mal distribuído neste país (e em todos). Deverá ser difícil concluir seja o que for desta post (o habitual), até porque toco em pontos diferentes. Deixo essa interpretação para quem se der ao trabalho. Ouço BSS (podiam ser outros) e fico boquiaberto porque já não percebo. Sinal dos tempos. Dos meus. Estou noutro, irremediavelmente.

Mandar tudo à merda. A post. As canções. Os BSS. A música moderna e os progressistas. E os reaccionários. E recomeçar. Amanhã. Ou depois.


Led

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Need tae practice ma Scots...

The ultimate serenade. Sem espinhas e sem tretas. Sempre fabulosa. A canção e o vídeo.

Travis - All I Want To Do Is Rock (1997)

Led

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A verdade é que é noite.

Não, não tenho nada a dizer. Triste sina daqueles que se levam demasiado a sério pela blogosfera, como fogos fátuos. E porque hei-de ter que dizer seja o que for? Deduzidas mesmo as horas de dormir e de me distrair com o trabalho que me certifique de uma (incerta) aura de plausibilidade social, só raramente me passa uma ideia decente, um motivo interessante ao alcance que me impulsione para a partilha. Destas ideias esporádicas, só mesmo uma baixa proporção consegue atravessar o coador de constrangimento até chegar à divulgação a peito aberto. A vida humana é um enorme desperdício em saldo utilizável do que se vai vivendo. Como a matéria de que somos feitos, se reduzida no que é em intervalos, ela ficaria mais pequena de que um bago de arroz, no que se pensa de útil em proporção – ou nem isso. É espantosa a desproporção entre a massa brutal de superfluidades em que uma vida se consome e o quase nada que sobra a resumi-la toda. Mesmo os grandes homens, que é que fica em liquidação do que foram? Um acto ou uma frase, uma ideia, um composto, uma fórmula, a redescoberta do que sempre esteve oculto. Não sou grande homem, ficarei em paz na minha inutilidade bovina. Mas a vida está nas entrelinhas, diz-se. É bem verdade. Como nesta noite plácida e fria. Outono da quietação, do refluxo da vitalidade, do torpor morno e recolhido, do longo meditar. Olho-o pela janela na face das coisas, recolho-me a mim para meditar também. Há então submersas vozes esparsas que de longe me chamam. Inclino um ouvido na alma para as escutar. Podiam materializar-se num eco, num cão que ladra na distância do vazio, no ruído de um motor perdido. Nada ouço. Apenas o vento balança ao alto e a lua medrosa se esconde por entre a neblina. Fico a olhá-la na memória de nada, na imagem que se me insinua de uma saudade vã de tudo o que me saúda de longe, do espaço da juventude como um diadema de luz lunar. Hora da nulidade do mundo. Aí estou. Aí sou.

Led

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Revisitando o deleite nocturno

I lost myself on a cool damp night
I gave myself in that misty light
Was hypnotized by a strange delight
Under a lilac tree
I made wine from the lilac tree
Put my heart in its recipe
It makes me see what I want to see
and be what I want to be
When I think more than I want to think
I do things I never should do
I drink much more than I ought to drink
Because it brings me back you...

James Shelton

Jeff Buckley - Lilac Wine
Led

domingo, 9 de novembro de 2008

Da taça

Não, não vou falar do jogo em si nem da arbitragem deplorável, já uma imagem de marca de Bruno Paixão.
Mas estou satisfeito com o resultado e mais não digo para não (me) chatear.
Apenas queria dar uma palavra carinhosa para os comentadores da TVI pelo excelente exemplo de neutralidade que mais uma vez demonstraram em jogos nacionais com o FCPorto. Umas completas bestas.

Helton, sê bem vindo.


Led

Ladies and gentleman, the world's greatest drummer ever!

Buddy Rich in the Frank Sinatra special - Concert for the Americas (1982)

Perturbador...

Led

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

De raiva

Em directo na Antena 1 Fernando Eurico e Manuel Queiróz, os melhores relatores de todo o mundo, fartos dos olhares escarninhos e dos sorrisos de gozo dos jornalistas ucranianos, desesperavam por intervenção divina para repor a justiça no relvado. Num lance fortuito e inesperado, “el comandante” Lucho Gonzalez faz o impensável e recoloca o Porto no rasto do sonho europeu. Fernando Eurico quase perdia a voz de tanto gritar. A cerca de 4000km a sudoeste de Kiev um jovem português subitamente atacado de frenesi, pulava de alegria esquecendo a enxaqueca e os problemas. O futebol é assombroso.

Led

História feita - o 44º

E imaginar que há 40 anos isto seria não só imoral como ilegal...Uma lição gigantesca de tolerância e de progresso da democracia. Agora falta o resto...E eu vou dormir que estou quase a cair para o lado. O resto fica para amanhã.

Led

Um abrupto dissidente

De Obama para McCain vai um enorme passo. Um passo categórico de serenidade, razão, coerência, discernimento, diligência, moderação, tolerância, eloquência, confiança, ponderação. Não será isto que faz um político experiente? O Pacheco Pereira acha que não. Como sempre, na dianteira da incoerência e da monomania insubordinada. Também diz que estas eleições lhe causam muito pouco entusiasmo. Isto afirma o ideólogo de Ferreira Leite, uma arrebatadora de audiências por excelência. Sempre às turras com o resto do mundo humilde e iletrado este PP. Santa altivez.

Led

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

You still love me and you pushit on me

Não existem canções verdadeiramente geniais?

“We’ve been trying something a little different this tour. We’ve been looking at one of our songs from a different angle, under a different light, so we can hopefully kind of see it almost for the first time. We’d like try that for you tonight, is that okay? We’re gonna need your help though. We’re gonna need your help and your permission, so we need you to find a comfortable space, that is not only comfortable, but vulnerable.

I want you to shut your eyes and go there, and we’ll meet you on the other side...”

Tool - Pushit (live in Portland - "Salival")

Led

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Da crise de resultados no dragão

Têm sido conturbados os recentes desenvolvimentos desportivos pelas hostes portistas. A indiscutível hegemonia a que o meu FCPorto me habituou nas últimas duas décadas preparou-me muito mal para estas mini-crises. Mas sejamos claros. O FCPorto não está bem e sinceramente não percebo exactamente o que se tem passado. Digam o que disserem e apesar de não ser o fim dos tempos (de notar os problemas análogos e a fraca qualidade do futebol praticado pelos rivais da 2da circular), não é normal duas derrotas consecutivas no Dragão e logo com duas equipas francamente inferiores. Uma nevrose colectiva de causas aparentemente desconhecidas. Apesar de tudo parece-me já um facto consumado que este FCPorto tem uma equipa indisfarçavelmente mediana (sem qualidade para ir muito longe na Champions) e inferior à época passada. Não vale a pena compor fantasias. Está amplamente demonstrado que Stepanov, Benitez, Lino, Bolatti, Guarín ou Fárias não são jogadores à Porto. Assim, não querendo por isso alinhar o clássico bode expiatório pelas responsabilidades no Jesualdo (sobretudo após mais uma época miserável de compras idiotas por parte da SAD), acho sinceramente possível fazer repartir diferentemente as posições com o valor dos jogadores e render melhor o peixe (e que peixeirada de Matosinhos a de sábado passado!). Continuo a pensar que os problemas recentes na estrutura da equipa têm a ver com um subaproveitamento das potencialidades (ainda que reduzidas) do plantel. O resto é uma questão emocional que deriva da falta de confiança resultante da deriva constante de posições. Mas enfim...acho que o sistema que oferece mais garantias de sucesso a esta equipa seria um 4x3x3, nunca o 4x2x4 desajustado da segunda parte com o Leixões (com um razoável médio Tomás a inventar como lateral esquerdo e depois direito (!!) e um fraco Mariano na ala direita do ataque) ou mesmo o habitual 4x4x2 com Lucho erradamente deslocado, como se viu na primeira parte. Bastava ao Porto ter um lateral esquerdo a sério, sem a infantilidade de Lino ou mesmo de um Fucile adaptado. Do mesmo modo, o Sapunaru não é o melhor recurso para o lado direito da defesa, mas não existindo outro jogador capaz para aquela posição (estando o lado esquerdo ocupado por Fucile) é tentar ir vivendo com essa deficiência. Outra alteração imediata seria fazer regressar o experiente Pedro Emanuel à posição de central e de capitão. Rolando é uma promessa de jogador mas está visto que ainda não serve. O Bruno Alves precisa de alguém maduro no apoio defensivo. Por outro lado, uma vez que já se viu que na ala esquerda está muito abaixo de render o seu verdadeiro valor, o Christian Rodriguez devia aprender a jogar no meio ofensivo como distribuidor de jogo natural, tal como Lucho. Esta era mesmo a experiência que eu mais gostaria de ver ser posta em prática pois tal com Luís Freitas Lobo comentou ontem, nunca vi o Rodriguez como jogador de ala mas como um médio rápido de distribuição. Até à próxima época de compras o Jesualdo devia conseguir também arranjar um jogador que se adapte como médio pivot defensivo (um Raul Meireles ou mesmo o jovem Pelé) para fazer esquecer o Assunção. Esta é talvez a maior carência neste equipa de jogadores adaptados. Na frente, um Hulk veloz e potente mas que compreendesse o que é jogar para a equipa e aprendesse a jogar na ala esquerda também era capaz de ajudar. Um Tomás Costa na ala direita (ou um Tarik se estiver melhor). Um Lisandro soltinho e demolidor lá na frente. Talvez assim tivéssemos hipóteses de ir longe. Ou então não...

A minha equipa de eleição seria:

Nuno (ou Helton), Sapunaru, Pedro Emanuel, Bruno Alves, Fucile, Raul Meireles (ou Pelé), Lucho, Rodriguez, Tomás Costa (ou Tarik), Hulk e Lisandro.
4-3-3 (preferencial)

4-4-2

PS: Update - Aí estão os auxiliares visuais idiotas só para provarem que ou ando tontinho do miolo ou não tenho nada melhor para fazer (ou os dois).


Led

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Das eleições nos Açores

Se o PS tivesse perdido nos Açores todos os restantes partidos políticos (e o jornal “Público”) se apressariam a cavalgar a ideia de que era necessário tirar ilações nacionais em relação aos resultados eleitorais. Como o PS ganhou (e pela primeira vez em todas as ilhas) o destaque é como é óbvio desviado para a altíssima abstenção, “sinal do crescente descontentamento com a política dos governos do PS da República e da Região Autónoma (Jerónimo de Sousa)”. O jornal “Público”, pelas mãos do já habitual justiceiro e oposicionsita liberal José Manuel Fernandes, até chegou a concluir que foi uma fraca vitória do PS, tudo porque não atingiu a tão almejada “maioria absolutíssima” (?). Assim, no “sobe e desce” da última página, conseguiu a coisa espantosa de omitir a inequívoca vitória de Carlos César e colocar José Sócrates com uma seta horizontal, o grande responsável pelos humildes resultados na eleições açorianas...


Ao quarto mandato de Carlos César, em plena crise económica, o PS continuou a vencer em toda a linha e repete a maioria absoluta de 2004. É preciso muito desdém para tanta indecência a querer parecer jornalismo.

Led

sábado, 18 de outubro de 2008

Desafio - 10 "figuras" nacionais que faltam ser gozadas pelo humor

Tudo começou numa conversa de café (com algum álcool) e que agora extravaso para o caixote de ideias parvas que é este blog. Todos sabemos que a comédia nacional está em franca expansão. Contudo, não posso deixar de anotar que existem ainda umas quantas “prima-donas” que vão estranhamente resistindo ao campo de visão dos humoristas nacionais. Com a excelente excepção que é o segmento do jornal público “Inimigo Publico”, penso que de um modo geral ainda é possível fazer muito mais e melhor pelo humor, partindo do princípio que ninguém deve ser intocável ao foco do escárnio profissional. Sabemos como é fácil gozar com relíquias estimadas como é o caso de Santana Lopes, Paulo Portas, Valentim Loureiro, Rei Alberto João Jardim ou Lili Caneças (basta deixá-los falar ou nem isso, no caso da Lili Caneças). Mas o que eu procuro neste desafio é figuras que a comédia não explorou suficientemente ou que sempre evitou pelo respeitoso consenso geral.

Sendo assim, e sem uma ordem de importância, as primeiras 10 figuras (de uma vastíssima selecção mental que tenho construído) seriam as seguintes:

1) Herman José – não há humorista que não tenha de pedir permissão para arrotar postas devido à imensa veneração pelo senhor todo poderoso da comédia nacional. Já vai chegando a hora que alguém se chegue à frente e aponte o dedo.

2) Jerónimo de Sousa – tal como na religião, a fé inabalável no comunismo é uma fonte inesgotável de humor. O estertores de 41 anos de uma ditadura provinciana de direita ainda fazem mossas na consciência geral e impedem que o humor atinja igualmente ambos os pólos do eixo político nacional. Jerónimo, a face mais visível do PCP, é apenas o símbolo de uma ideologia caduca, austera e fundamentalista. Portanto, tem tudo para resultar no humor.

3) “O dia seguinte” – têm sido tantas as situações ridículas entre os 3 experts da bola neste programa da sic notícias – José Guilherme Aguiar e o seu bigode mafioso, Dias Ferreira e a sua bílis azeda e Fernando Seara e a sua emotividade balofa - entre elas árbitros, leis, discussões inúteis em altos berros e amuos acriançados idiotas que só uma franca cegueira humorista poderia explicar a negligencia.

4) O “taxista português” – qualquer um. Câmara em frente, pressionar o rec e deixar apurar durante 1 hora.

5) Francisco Louçã – o aspecto clean, jovem, bem-pensante e alternativo desta dita esquerda moderna e radical (de ser tão cool e anti-sistema) que tenta disfarçar o fundamentalismo da raiz tem muito para resultar no humor. Tal como no caso do PCP, as sempre comovidas encenações de gongórica a pretexto de combater o imperialismo, reafirmar a validade da luta de classes e defender os povos explorados têm tudo para serem satirizadas. O moralismo sempre foi o melhor filão do humor. Por outro lado, quando este discurso é feito muitas vezes por grupos de jovens mimados e abastados e deliberadamente mal vestidos, ainda melhor.

6) Nuno da Câmara Pereira – fadista, monárquico (e deputado pelas listas do PSD), fervoroso adepto da tauromaquia e tremendamente machista. Preciso dizer mais alguma coisa?

7) João Malheiro – o rígido e cavernoso ex-director de comunicação dos encarnados e actual comentador cor-de-rosa das tardes da sic tem tudo para ser gozado. Foi estupendo vê-lo comentar o vestido de noiva da actual mulher de Pinto da Costa. Mas estão à espera de quê?

8) Margarida Rebelo Pinto – esta já é gozada mas acho que se podia fazer muito mais. A pretensão de cavaleira do feminismo (e sempre segundo uma perspectiva masculina) e de relevo como escritora é de morrer a rir.

9) Francisco Moita Flores – escritor, investigador (de qualquer coisa), e comentador de tudo na televisão. De vez em quando também é presidente da câmara de Santarém. Come on!!!

10) Vasco Pulido Valente – o típico português. Embirrento, azedo, permanentemente desconfiado, populista, demagógico, e decepcionado com tudo e todos. E o melhor, a pretensão de ser uma autoridade relevante na crónica nacional. Contemporâneos, onde andam vocês?

O desafio fica em aberto para quem quiser.
Abraços ou beijinhos.

PS: Epá, não aguento deixar de colocar na lista o jornalista e comentador "cavaquista" da sic notícias Luís Delgado (ainda agora apareceu na televisão)...enfim, é mais um desses comentadores completamente desnecessários e sobrevalorizados que enxameiam o espaço televisivo de banalidades e medianismos intelectuais. Já merecia um "sketchezinho", não?


Led

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Litania da solidão

(...) tenho de justificar não já a vida que se não justifica mas a morte e ao contrário de Alberto Soares que quer “justificar a vida em face da inverosimilhança da morte” eu procuro antes justificar a morte em face da inverosimilhança da vida (...)

Almeida Faria em " Rumor Branco" (1962)

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segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Gatos mais perfumados

Consternação, tristeza, sofrimento, mágoa. São tudo palavras do dicionário. Mas deixemos isso.

Esta noite assisti finalmente ao 2º programa “Zé Carlos”... e porque eu sou um gajo que não consigo mentir nestas coisas só posso mesmo dizer que o novo programa na Sic é mesmo:
Excelente! É muito bom. É bastante razoável. É mais ou menos, é fraquinho.

E digo isto porque tenho uma imensa saudade dos “Gato Fedorento”. Mais exactamente das primeiras 4 séries (Perfeito Anormal, Fonseca, Meireles e Barbosa) na Sic Radical, algures entre 2004 e 2005. Com escassos recursos mas compensados com uma infinita imaginação, inteligência, originalidade e ousadia. Humor aparentemente alheio à realidade, muitas vezes abstracto e sem um sentido único. Mas a crítica social estava lá toda nas entrelinhas. Gostava quando deixavam as interpretações para o espectador. Explicar em demasia é estragar tudo e faz de nós consumidores parvos. E no final, os escassos recursos (os mesmos locais de gravação, os planos amadores das câmaras, o guarda roupa diminuto, as musiquinhas reles de acompanhamento, etc) acabavam irremediavelmente por contribuir enormemente para o efeito cómico geral. Mas já sei. Vão dizer que era inevitável o desgaste e que o bloom de humoristas do género propalou o foco de singularidade para outras paragens no plano nacional. A verdade é que as faustosas séries na RTP e esta nova na Sic generalista mostram o lado social e conscencioso dos 4 humoristas em face do imediato concreto. Uma opção arriscada logo à partida. Mas julgo que o modelo directo não favorece a sua genialidade. Aliás, na minha opinião o modelo expirou há muito. A sedução por um horário nobre e por um público mais alargado acabou por diminuir o grau de exigência (deles e do público), subtraindo o humor erudito e imprevisível num humor mais funcional e aparatoso. O excesso obsceno de publicidade também não ajuda. Tornaram-se num produto de consumo fácil e rápido (lusco-fusco) e consensual (o pior que pode acontecer a um humorista). Acabou-se o humor pirata do boca em boca. Já todos lhes conhecemos os tiques, feitios, objectos da sátira e ódios de estimação. Arriscam menos e sente-se-lhes mesmo o desconforto pela rigidez das expectativas. O humor tornou-se muitas vezes vulgar, conformado e politicamente correcto. Não prende a atenção e desafia a inteligência como outrora. São eles próprios com as suas opiniões e portanto, humor assente em factos incontornáveis. Sorrimos, mas não gargalhamos. Ouvimos, mas logo esquecemos. De imprescindíveis para acessórios. Ganhou o humor a regra e esquadro com uma suave palmatória de causas sociais. Perdeu-se o desleixo, amadorismo e a vaga (e única) sensação de clandestinidade quando faziam rir a sério na sic radical. Tenho muita pena. Mas não quero ser mal interpretado. Continuam a ser os melhores e os maiores. Mas muito mal aproveitados. Na qualidade do humor, claro. Não nos shares de audiência. O que não deixa de ser irónico sabendo onde começaram.


Led

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Interrupção breve da greve de fome para ir almoçar

“(...) Nenhum dos nossos defensores incondicionais do mercado questiona a decisão dos governos de garantir os depósitos, mais por medo de levarem uma tareia do que por terem mudado de opinião, além disso, nesta hora todos estão com medo de ver as suas poupanças desaparecerem e o melhor é uma breve interrupção dos nossos princípios, o fundamentalismo segue dentro de momentos.

(...)

Com o silêncio dos liberais, o empenho dos anti-liberais e o cinismo dos vendedores de utopias vamos salvar os ricos em nome dos pobres e com o dinheiro da classe média. “

In Jumento


Led

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Punch lines

Os heterossexuais que repudiam o sexo homossexual deviam ser a favor do casamento entre homossexuais. Só a velha instituição matrimonial podia arrefecer o os ímpetos sexuais entre pessoas do mesmo sexo, como aliás vem fazendo com distinção ao longo dos séculos com o sexo heterossexual.


Led

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

And they all want you to change


(1:39) Não a recordação (1:20), Não a memória (1:05), Não a história de ti ou do que passa ao lado da recordação para o depósito cru de certezas onde se ajusta a vida (0:48) – Não isso, Não isso. (0:35) mas o nada que se evola como o aroma de um fim de tarde de outono (0:20), na flutuação mole das nuvens (0:25), a oblíqua presença do invisível (0:20)...indistinto já à fluidez de uma distância sem tamanho (0:15), frisado de arrepio (0:10), cintila de longe em longe como o rasto do que te morreu sem notares...(0:05)

Cerrar os olhos e regressar... aqui.(0:00)

The Smashing Pumpkins - Sweet Sweet


Led

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Politically Incorrect, Women/ Feminism


“It is not anti-women just to talk about women. And we’re going to do it now. Because when I say this is a feminised country, first of all understand that I get it that are millions and millions of women who are still the eye realists and millions of millions of men who are anything but…however, for lack of a better term I would say that the feminine values are now the values of America. Sensitivity is more important than truth. Feelings are more important than facts. Commitment is more important than individuality. Children are more important than people. Safety is more important than fun!

I always hear women say, you know, “married man live longer”. Err…yes, and an indoor cat also lives longer! It’s a fur ball with a broken spirit that could only look out on a world that will never enjoy but… it does technically live longer!

See, this is very personal to me because I’m like the last of my guy friends who’ve never got married and their wives, they don’t want them playing with me! You know, I’m like the escaped slave. I bring news of freedom! You know, it’s not a good thing to have me around…”Keep the husbands in the dock, they are happier that way!” But you know, all my married friends, I knew these guys when they were young and… they were mustangs! They used to do whatever they wanted, whenever they wanted! And now, they are not mustangs. They are that horse in the central park with the blinders on, you know…just going around in a circle in a cloud of flies and sitting in a bucket, you know!

So I know women don’t have it easy in America but it is sort of politically incorrect just to be male in this country now. I mean, look at television, look at any sitcom. The wife is always brilliant and ethereal and right about everything and the husband is always a dumb fuck, lucky to have found her! The only smart men on television are Frasier and is brother, both of them are gayer than Little Richard’s underpants.

So, I understand that women suffer but I don’t think it’s as much publicized that a lot of men in America are living lives of quiet desperation. Lobotomised of their libido. Anaesthetizing themselves with sports and pornography. And living in an Orwellian world where we have to pretend to concord with the women’s point of view. On any TV show in America have someone got up there and said, you know, “Women are smarter than men”- automatic round of applause! If someone said, “Men are smarter than women” - you would be booed out of the stage!

I mean, what does that tell us about our culture? That we have to pretend that one sex is smarter than the other: “Women are smarter than men!” “If women ran the world there’d be no war!” “Being pregnant is sexy!”...You know, just a whole raster of things that we don’t really believe but we pretend to believe cause it’s easier to make women nod than to live in the doghouse! I heard one on daytime TV the other day - only a women could have said this and of course everyone pretended it was true -. She said: “- A couple should explore their mutual fantasies”… There are no such things as mutual fantasies! Yours bore us. Ours offend you. Trust me.

Ladies, trust me. There is no fantasy where a handsome prince runs to you across a meadow and takes you in his arms and pledges his undying love…and then cums on your face, ok? That would be a mutual fantasy if you ever seen a porn movie.”

Excerto retirado de : “Bill Maher - Victory Begins at Home (2003)”

Link you tube

Led

The forgotten gist


- Do you know what it means when a flag flies upside down?
- No...?
- Its an international distress signal...
- No shit?
- No shit! It means we're in a whole lot of trouble so come save our asses 'cause we ain't got a prayer in hell of saving it ourselves.


De "In the Valley of Elah"

Led

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Quando o crítico diz bem é bestial, quando diz mal é besta, quando não diz nada é Rui Santos

O pior da imprensa desportiva. Ver a Sic notícias colocar imagens de intimidações de jogadores do FCPorto a árbitros passadas há mais de uma década para alicerçar a habitual palmatória destrutiva de Rui Santos (a propósito das recentes declarações de Jesualdo Ferreira sobre o facto de o FCPorto ter sido penalizado nos últimos jogos). Com os habituais toquezinhos de empáfia que lhe percorrem nervosamente todo o discurso lá veio este senhor preparar novamente a tunda pessoal para o FCPorto esquivando-se de comentar directa e especificamente as declarações do treinador do FCPorto no tempo presente. Eu não queria esmiuçar a série de disparates que este senhor nos abastece semanalmente e sempre doutoralmente. Mas com franqueza: então a gente há-de suportar uma vez mais essa parlapatice conspirativa e cínica do processo apito dourado ter sido infrutuoso por coacções superiores? A estratégia não é nova, é sintomática do caldeirão beberrão nacional que formou o pior crítico da aldeia (e logo ele, que se contempla ao espelho da vaidade, tão eloquente e moderno): o apelo à desconfiança crónica nas instituições. A insinuação parola de um descrédito numa justiça que não lhe fez a vontade. É de mestre. A gente predisposta para o ódio alheio vai aplaudir emocionada. Evita-se falar nos pénaltis, mete-se o apito dourado à mistura e recicla-se umas imagens avulsas de intimidações de jogadores do FCPorto passadas há 15 anos. Toda a gente vai ficar enraivecida e nem se vai lembrar que as imagens não têm nada a ver com o assunto em discussão e que essa prática infeliz era comum a todos os clubes nacionais.

Obviamente que isto é apenas o fumo de um tenaz incêndio larvar. Há um escândalo que vai resistindo irritantemente a todos os assaltos e que é, ao que parece, a história bem sucedida do FCPorto interna e externamente nas últimas décadas. E isto é que é duro de roer e é necessário urgentemente liquidar, de acordo com a cartilha dos muitos Rui Santos que andam por aí mais os seus espíritos democráticos.

Estranho que uma alma caridosa ainda não lhe tivesse confessado discretamente ao ouvido que Rui Santos é obviamente um crítico medíocre e desnecessário. Porque é desta massa de pessoas falhadas que se fazem normalmente os críticos azedos, ressentidos por uma desgraça de que ninguém teve a culpa. Mas o ser-se medíocre devia obrigar precisamente à modéstia e à contenção. Rui Santos não está forçado a elogiar toda a gente ou a adornar um clube, mas não é bonito que venha palrar de cátedra com recurso à mais mirabolante estratégia alegórica da sociedade da tecnologia, o uso abusivo de imagens descontextualizadas.

Que Rui Santos se julgue com o monopólio da verdade e com automático direito ao desempenho de funções inquisitoriais é lá com ele e com a sua ilusão de importância que a gente vai gozando, agora a Sic Notícias prestar-se a tamanho grau de desfaçatez e manipulação do passado é no mínimo indigno para um canal que se quer considerado e imparcial.

Led

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Gélido

Admiráveis “Jack-in-the-box studio effects” num esforço inábil de disfarçar uma gritante falta de ideias e de substância. Excesso de beats, sintetizadores, drum machines, overdubs de guitarra e monocordismos frios e enfadonhos repetidos até à exaustão. Não há um fio condutor. Intimidade? O oposto. Parece um conjunto grosseiro de demos ou de remisturas inacabadas e feitas à pressão com o maior número de geringonças para impressionar os deslumbrados patrióticos da NME. É este o 3º álbum? O tal que se deveria destacar? Parece uma banda desligada de si própria e com uma incompreensível vergonha do seu passado. Com uma imensa pena minha só posso descrever este disco em duas palavras: Altamente decepcionante.


Salve-se a capa.


PS: Canções dignas de lados-b mas que ainda assim se destacam do enfado : "Biko", “Signs”, “Better Than Heaven” e “Ion Sphere”.

Led

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Give Peace a Chance

Em 1965, Paul McCartney e os restantes membros dos “Fab Four” foram banidos do estado de Israel porque as autoridades religiosas temiam as luciferinas influências do rock na sua juventude. Hoje, meados de 2008, o estado de Israel resolveu finalmente escrever uma carta de desculpa pelo sucedido há 43 anos atrás lamentando as mentalidades retrógradas de então. Não só isso como convida o próprio McCartney para um concerto associado aos festejos dos 60 anos de independência do estado após a guerra dos 6 dias. Como é óbvio, Paul recebeu já várias ameaças de morte de líderes islâmicos radicais sediados na Palestina e no Líbano. Como é óbvio, Paul, um ser apolítico e pacífico mas famoso e determinado activista anti-guerra e pelos direitos humanos, não ligou nenhuma às intimações porque só faz música para quem o quiser ouvir. A prova de que a secularidade e laicidade de um estado só contribuiu para a tolerância e desenvolvimento de um povo enquanto outro permanece firmemente escravo da bruteza de dogmas medievais.

Led

Citação estúpida e contagiosa do dia

“Toda a gente sabe que eu sou cigano, porisso às vezes tenho fome. Semperdisse que candaminha vida me permitissavia de comer um melão e háde ser hoje. Tens uma naifa?”

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Led

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Ciência do futebol

"(...) O novo Domingo Desportivo tem três lugares para comentadores: dois permanentes e um rotativo. Num mundo ideal, Carlos Daniel ocuparia os três. Num mundo ideal, Carlos Daniel apresentaria, comentaria, faria as reportagens, desenharia os cenários, e governaria o país. Mas, como Rui Santos escreveu esta semana no Record, estamos condenados a viver na imperfeição imperfeita deste mundo apenas aparentemente perfeito, e temos de nos resignar às presenças de João Vieira Pinto (campeão em título do mergulho semântico) e Luís Freitas Lobo (ainda imbatível no arremesso do facto). Não tenho nada contra Luís Freitas Lobo. É difícil ter algum problema substancial com alguém que sabe mais sobre um avançado da Naval chamado Michel Simplício (ex-Esporte de Pelotas) do que eu sei sobre mim próprio. Aliás, Luís Freitas Lobo, algures no seu arquivo Borgesiano, deve ter uma ficha com o meu perfil, currículo e estatísticas completas. Luís Freitas Lobo existe neste mundo como argumento teológico: prova irrefutável de que a omnisciência é possível e está ao alcance de todos; mas dá imenso trabalho, e oblitera quaisquer outras virtudes. (...)"

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Hooliganismo

Para não dizerem que sou só eu que torço pelas nossas cores...

Led

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Bon Iver / Good Winter


Preciso de o reforçar. O disco do(s) Bon Iver – “For Emma, Forever Ago”- é seguramente um dos melhores do ano. De muitos anos. Perante tão belo conjunto de canções que me arrebataram de imediato, senti a necessidade imperiosa de fazer um comentário adicional (com a divagação usual). O músico “singer/songwriter” em questão é Justin Vernon, um músico “amador” desiludido com o rumo da sua vida. O local da génese, uma remota cabana de caça do seu pai, no âmago das montanhas geladas do Wisconsin. O período de gravação foi de 4 meses seguidos em plena dureza invernal, onde Justin era obrigado a cortar lenha para se aquecer e a caçar para sobreviver. Durante este tempo escreveu e gravou a maior parte das canções que vieram a formar “For Emma, Forever Ago”. Em resultado disso, o disco é uma colecção despojada de canções recheadas de imagens paisagísticas e exorcismos catárticos genuínos transmutados num formato folk-acústico intimista (com óbvios paralelismos (puramente) estéticos a “Little Wings”, “Iron & Wine” ou mesmo “Eddie Vedder - Into the Wild”) – o som de um homem sozinho com as suas memórias e guitarra. Os detalhes biográficos por detrás da criação de um disco normalmente não devem importar quando se trata do puro desfrutar do ouvinte. Mas será interessante analisar o processo de criação que levou ao disco, até porque as canções que irrompem suavemente (outras vezes, não) do silêncio coalhado de cristais gelados que as conduzem, traduzem na essência o universo imaginário e conturbado do músico que procura uma luz por entre as nuvens apertadas. Além do mais, “For Emma, Forever Ago”, emana tão intenso sentimento de solidão melancólica e apartamento que se poderia inferir da possibilidade de um drama latente. As várias interpretações para tal desvanecimento sugerem o desmembramento da sua antiga banda, uma saúde comprometida e um problema amoroso como principais impulsores do retiro ascético. As causas específicas não deveriam contudo merecer muito relevo, o problema essencial é simbólico e facilmente reconhecível e nele nos reconhecemos, confluindo sempre no ímpeto lato de fuga a uma realidade asfixiante e intransferível e o consequente corte umbilical com o estrépito da vida em colectividade. E é neste espaço ermo e austero e também suspenso que ele procura encontrar a paz e a reconciliação com a vida. É nas pequenas coisas que ele encontra o secreto palácio da fascinação. Daí o que me move e me apaixona inelutavelmente neste disco, a arte/música como último refúgio de um homem. O acesso ao profundo frémito da vida que ressoa no côncavo inerte massivo da montanha. O que conta no fim é o acto criador. O regresso de um homem a si, unificado à pureza da montanha e da sua íntima verdade. Este é, antes de mais, um registo palpitante sobre esperança. Um excelente, excelente disco.

Led

domingo, 21 de setembro de 2008

Gluey feathers on a flume

Libertou-se de tudo, do suor e do sangue e da dor, dos enredos previsíveis, da agilidade da estupidez, das relações para uma plausibilidade da sua glória, da baixeza, da mesquinhez de quem esmola uma atenção, do lio obtuso das palavras, dos louvores, da miséria de tudo o que é miséria em relações humanas – e foi puro diante da canção como da sua única divindade. Toada longínqua na vertigem dos acasos. Música dolente cheia do frio e dos invernos perenes. Doce melancolia que se escoa de prazer e amargura. Um homem canta ao mistério de uma manhã de outono.


Led

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Rebelde way

Ontem na Fnac de Sta. Catarina vi o disco daquela amálgama de cabelos e maquilhagem germânica chamada de Tokio Hotel alinhado na secção de punk e metal.

Para não mais lembrar e nunca esquecer.

Led

Tags: nin discipline meathead gay disco dance balls reznor fucking genius

NIN - Discipline

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Os ideais sacralizados, para substituição dos deuses

“(...) Não há ideal a que possamos sacrificar-nos, porque de todos eles conhecemos a mentira, nós os que ignoramos em absoluto o que seja a verdade. A sombra terrestre que se alonga por detrás dos deuses de mármore basta para nos afastar deles. Ah, com que amplexo o homem se estreitou a si próprio! Pátria, justiça, grandeza, piedade, verdade, qual das suas estátuas não traz em si os sinais das mãos humanas para que não desperte a mesma ironia triste que os velhos rostos outrora amados? Compreender não significa necessariamente aceitar todas as loucuras. E, no entanto, quantos sacrifícios, quantos heroísmos injustificados dormem em nós... “

André Malraux, em “ A Tentação do Ocidente” (1926)


Led

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

sábado, 6 de setembro de 2008

Das cerimónias militares

É inquietante rever excertos do congresso republicano. De McCains, Palins, Romneys, Huckabees, Giulianis... Um espectáculo deplorável que recicla o discurso sempre a empolar o militarismo nacionalista, a intolerância mascarada de ética cristã, o tom autoritário de lobo-mau, o reaccionarismo mental e a decadência intelectual. Pelo desafio subjacente à frase mais simples que se diga com a frieza de quem já viveu tudo e não guarda um sentimento de quem tenha vivido menos. O orgulho correligionário cheio de símbolos despóticos de força e segregação contra o elemento externo e contra a mutabilidade natural. O elemento externo, a Europa, a Rússia, a Venezuela, Chile e Uruguai, a rua muçulmana e o eixo do mal mas também os media, as celebridades de Hollywood e a comunidade “artística” de esquerda, o supremo tribunal, os desertores, os terroristas, os fracos, os pacifistas, ecologistas, cientistas, pro-choicer's, liberais e homossexuais, todos urdidos numa maquinação contra eles, os verdadeiros americanos, orgulhosamente sós, os conservadores, detentores da verdade única, brancos, decentes, hercúleos e redentores. Uma delegada dizia que sempre que se lembrava de Obama pensava nas suas “visões socialistas e marxistas” e continuava, emocionada, assegurando que Bush tinha sido um “excelente presidente”. Apesar da recessão, do desemprego e pobreza disseminada, das relações externas cortadas com inúmeros países, do conflito supérfluo, consumidor e sanguinolento no Iraque e do fracasso no Afeganistão e na captura de Bin Laden, do Katrina, do conflito nuclear eminente no médio-oriente, do Guantânamo, dos contínuos atropelos ao ambiente e desprezo por quem tem alertado para o abismo ecológico em que o mundo vai rapidamente mergulhando, apesar de todos os escândalos na administração e a impotência para fazerem face a um mundo globalizado e multicultural e multiproblemático. Ainda assim, a mesma ignorância de há 8 anos, a desconfiança e o medo a induzir a ofensiva, a mesma devoção cega, a mesma incapacidade de perceber a América no mundo actual e a história recente que o definiu. É impossível ficar alheio aos destinos de um país que também é o nosso porque a ele pertencemos em múltiplos aspectos. Não votamos, mas devíamos. A grande virtude da direita, afinal, é que forçou a uma melhoria na esquerda. Mas esperemos mesmo que tenha sido suficiente pois a direita não quis definitivamente aprender nada. E a cedência à ignorância sempre foi marcada por um augúrio de sangue e infortúnio.

Led

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Ainda da barba...

Como eu te percebo, Bruno, como eu te percebo...

Led

Vieirices

Ponto prévio de esclarecimento: esta post não visa os benfiquistas nem o chamado “benfiquismo”....

Depois da agressão do Barbas 2 ao fiscal de linha - um tipo a que aliás se deu um asqueroso direito de antena por toda a imprensa, inclusive com uma entrevista a contar a bonita história da sua vida e da sua pubescente promessa - e da multa ridícula a que o clube foi sujeito, da agressão do Luisão dos copos ao Sapunaru com a decisão de sumaríssimo convenientemente adiada para depois do jogo com o Sporting, veio agora ao lume mais um interessante detalhe do último derby.

Só para rir....

Imagino o alvoroço e a chinfrineira que se instalaria na imprensa se tudo fosse ao contrário com os selvagens e corruptos do norte. Platini, FPF, Platini, Liga, Platini, UEFA, Platini, FIFA, Platini, Governo, Platini, e só terminava no Papa antes de se queixarem ao Platini......

Alguém que explique ao Vieira que as pessoas já andam fartas do jogo da terra queimada como evasiva. Alguém que explique ao Vieira demagogo que é normal um presidente suspenso e acossado andar rodeado de delegados da liga durante jogos desta natureza. Alguém que explique ao Vieira que, de intenções, está o inferno cheio (por inferno subentende-se a sede da LPFP). Alguém que explique ao Vieira consciencioso que não é o facto de ele próprio estar suspenso há 2 meses o verdadeiro cerne da questão, sendo simplesmente grave o próprio “voluntariamente” (como ele diz) se ter dirigido aos balneários da equipa da arbitragem ao intervalo quando a sua equipa estava a perder. Dá a ideia que se não estivesse suspenso ele acharia um procedimento normal. Mais uma daquelas coisas “normais” como a escolha de árbitros para as finais da taça de Portugal de que ele tanto se "orgulha", como declarou há uns tempos na RTP. Alguém que explique ao Hermínio que tanta normalidade só pode ser sinal de anormalidade, por favor!...

Led

A direita liberal também quer acreditar

“Então, dou por mim a pensar: por que estamos nós juntos por Obama, enquanto o pessoal de direita e centro-direita com que mais me identifico acusa o homem de ser um golpe de marketing e aposta o ordenado em John McCain?

Claro que há o lado factual: dizer, como Pacheco Pereira disse, que Obama é só marketing - ou seja, que ele não tem nada mais do que talento para falar em público e vender ideias vagas de "esperança" - é uma profunda idiotice, que não resiste a dois minutos de análise séria. Mas há mais do que isso. Eu diria que a direita conservadora está tão habituada a desconfiar de toda a gente que acaba por ter vergonha de acreditar em alguém. Noventa e nove por cento das vezes, estará certa: o estado de permanente suspeita é um forte escudo contra a desilusão e uma forma eficaz de vigiar a acção política. Só que o problema é quando ficamos cegos ao que efectivamente brilha, tão habituados que estamos a nivelar tudo por baixo. Obama fala tão bem que não pode deixar de ser fabricação, certo? Mas e se, por uma vez - só desta vez -, ele for o artigo genuíno?”

João Miguel Tavares , DN

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Do progresso educacional

Diminuem os alunos no básico. Fecham-se as escolas do básico. “O sistema educacional tem de se adaptar aos novos tempos !” Que brilhantes conclusões a FENPROF tira? Que é a altura de os professores fazerem greve para emprego e... aumentos salariais. Com retroactivos. Diminuem os alunos no secundário. Fecham-se escolas do secundário. “O sistema educacional tem de se adaptar aos novos tempos !” Que brilhantes conclusões a FENPROF tira? Que é a altura de os professores fazerem greve para emprego e... aumentos salariais. Com retroactivos...

Porque é que qualquer discussão sobre o sistema de educação nacional descamba sempre para os problemas e direitos invioláveis dos professores? Arre, que é demais tanto chico-espertismo e estupidez juntas!

É mais forte do que eu... já não consigo ouvir a voz ciciante do Mário Nogueira na prega galopina e borlista habitual, recheada dos arcaísmos paternalistas, jogadas emocionais e artifícios retóricos do dogma bolorento de que nunca se conseguiu distanciar.

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