sábado, 24 de fevereiro de 2007

Vem


Vem. Quem? Não sei. Ninguém, a graça, o milagre. A beleza impossível. Vem. Amanhece devagar, é a hora de passares. Não digas nada, não quero mais nada, que é que poderias dizer? Nem precisas de olhar. Quero apenas estar atento ao teu passar. È um momento único, não posso deixar perdê-lo. É um instante combinado em toda a eternidade e se o perder não vai acontecer jamais. Combinei-o com os astros, a ordem infinita do Universo, não é um acaso casual. Todos os biliões das nebulosas e das estrelas que nelas brilham foram reguladas nas suas órbitas para nesse instante passares. A graça, o impossível. Eu estou preparado para te ver passar e mais nada. Virás na aragem da tua essencialidade e eu ver-te-ei desaparecer na neblina com que nos afastam o que é já longe. Estarei presente no instante breve de passares. Vem. Eu espero. E toda a massa infinita do Universo integrar-te-á e ao nosso encontro na ordem e perfeição da sua infinitude.

Led

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

A política da intimidação


O que escreveu Rui Tavares no último pingue-pongue com Helena Matos quando o assunto da teatral demissão de Alberto João Jardim veio à baila :

“E eis que em pleno Carnaval –apropriadamente- Alberto João Jardim se demitiu de chefe do Governo Regional da Madeira para logo se voltar a candidatar ao mesmo cargo. Implicitamente, admitiu que a realidade política em que ele se movia mudou de forma radical. Explicitamente, a mensagem que quer fazer passar é a de que só admite jogar segundo as suas próprias regras. Vejamos cada um dos aspectos.

Alberto João Jardim não é um brutamontes agressivo que diz tudo o que lhe passa pela cabeça. Alberto João Jardim apenas parece um brutamontes agressivo que diz tudo o que lhe passa pela cabeça. Essa imagem é crucial para os seus intentos. Nos intervalos, Alberto João Jardim pode ser manobrista, sedutor, surpreendente, um encanto de pessoa. Esta versatilidade permitiu-lhe sempre navegar na política nacional, com algum risco é certo, mas dividendos incomparáveis. Entalou os políticos nacionais e comprou o consenso dos madeirenses. Governou uma região como quis, com os recursos que quis, durante o tempo que quis. Nenhum outro político português se pode gabar do mesmo.

Subitamente tudo mudou. Sócrates foi eleito não apenas com maioria absoluta, mas uma maioria absoluta que dispensa os votos madeirenses. Não só Sócrates não precisava de Alberto João, como nem precisa de se preocupar com a eventualidade de vir a precisar. Foi aí que a arte da intimidação, em que Alberto João Jardim se especializara, deixou de funcionar.

Em que consiste a arte de intimidação? Em deixar os outros permanentemente suspensos, receosos das nossas atitudes. Tudo em Alberto João Jardim, desde a linguagem à retórica, denuncia alguém que se compraz em meter medo aos outros. Quando Alberto João se “porta mal”, pode enxovalhar, insultar, ameaçar. Quando Alberto João se “porta bem”, o que faz nos intervalos, sorri, brinca, lisonjeia. Mas mesmo aí os sues interlocutores continuam encolhidos, à espera da pancada. Alberto João Jardim manipula-os, prolongando o gozo, deixando-os na ignorância de quando virá o próximo acesso de agressividade criteriosamente gerido e encenado. Por isso os madeirenses que o rejeitam se calam em público e os que o apoiam o louvam o mais que podem. Por isso os líderes do PSD vão à Madeira a medo, receando que ele lhes prepare alguma surpresa. Por isso os jornalistas nunca o confrontam, com receio de desencadear uma fúria. Se ele estiver virado do avesso, salve-se quem puder. Se ele estiver um doce, pior ainda: não se pode relaxar.

Esta manha permite-lhe ocultar algumas coisas. Na verdade, já acabou o tempo em que o estilo de Alberto João Jardim beneficiava a Madeira; hoje em dia Alberto João é um peso morto que perdeu a batalha das finanças regionais, não tem amigos nem aliados, não consegue sair da cena por cima. Na verdade, Alberto João Jardim apresenta os continentais como ladrões e os seus rivais madeirenses como traidores precisamente para ocultar que ele, hoje, prejudica mais do que auxilia. Na verdade a Madeira teria a ganhar em ver-se livre de Alberto João.

Na verdade só há uma maneira de enfrentar a política da intimidação: não se deixar intimidar.”
Público 22-02-07

A registar!

Led

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Ainda é possível ultrapassar a mera possibilidade

Ricardo Quaresma, o génio dos génios, o Harry Potter do Dragão, resumia e concluia desta forma:

« O que senti quando vi aquele remate bater no ferro? Fique triste por ver a bola a bater na trave, mas como todos nós sabemos o futebol é mesmo isto. Reagimos bem e tivemos mais oportunidades que o Chelsea. Mostrámos que temos valor para ir a Londres e ganharmos o jogo. Acho sinceramente que podemos vencer em Londres. Mostrámos que não somos inferiores ao Chelsea e criámos várias ocasiões para marcarmos golo. Infelizmente não o conseguimos, há que continuar a trabalhar e manter a consciência tranquila porque fizemos tudo para vencer. Nos últimos dez minutos senti-me um bocado cansado, sobretudo por estar a jogar com uma equipa de topo e por ter feito tudo para ajudar a equipa».
O nosso ( e sempre) grande Mourinho desculpava desonestamente a derrota da sua equipa na última passagem pelo Dragão com o facto de não ter sido “um jogo a sério”, imagino que este finalmente o tenha sido...Se a sua mente engenhosa assim o deliberou, então considero este grau de seriedade do Chelsea francamente acessível ao intrépido FCPorto de ontem à noite, o FCPorto infatigável da “garra” e do arrojo que claramente o individualiza das restantes equipas grandes nacionais quando o desafio é elevado e laborioso. É deste Porto que eu gosto e me orgulho de ver jogar e adorava que a entrega apaixonada fosse sempre do mesmo calibre contra qualquer adversário. Por isso, tal como FJViegas, concordo que “Todos os adversários do F. C. Porto deviam chamar-se Chelsea”.

O FCPorto que não tem medo de correr riscos, de aceitar desafios, de ir à luta, por mais incerto que pareça o seu desfecho. Aproximámos o esférico por 4 vezes do fundo das redes de Petr Cech, mas só por uma vez entrou. Dominámos o jogo quase por inteiro e por várias vezes quase banalizámos a luxuosa equipa londrina. Podíamos também dizer que atacámos inconsequentemente e apenas o quanto o Chelsea ia deixando, mas esta perspectiva é só meia-verdade. A outra verdade é que , pela entrega afeiçoada, foi injusto este empate com o Chelsea. Empatámos com o campeão oriundo do 2º campeonato mais competitivo da actualidade, com uma equipa formidável cheia de talentos, com um orçamento infinitamente superior ao dos dragões (95% acima li algures) e treinada pelo melhor do mundo. Quem quer vencer o Chelsea tem obrigatoriamente de se aproximar da perfeição e ter alguma sorte, porque qualquer erro pode ser fatal. É uma equipa que sabe controlar o jogo sem arriscar muito e sempre a jogar no erro do adversário. Por todas estas razões o desafio era à partida desigual mas fiquei convencido no final que o F.C.Porto era capaz de um pouco mais. Partimos agora como eliminados para Stanford Bridge , onde o Chelsea de Mourinho só perdeu uma vez em casa. Por acaso até foi numa eliminatória dos oitavos-de-final da Champions e este Porto já nos obrigou a acreditar na transcendência e na superação dos desafios mais abrolhosos e emocionantes que muitas vezes teceram o seu caminho glorioso nesta competição. No dia 6 de Março, e mais uma vez contra todas as expectativas, eu acredito não só na possibilidade mas na sua concretização! Não é esta a magia do futebol?

Led

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Blackout

A vida escreve num muro uma rede inextricável de sinais: o artista torna visíveis os que significam.

Muse - Blackout (Glastonbury 2004)

Toda a beleza tem um além de si. E esse além é que era...
Led

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Dos dogmas

Uma verdade que se aceita começa logo a morrer. Ou seja, a ser erro. É a altura de outro erro começar a nascer, a ser verdade.
Led

domingo, 11 de fevereiro de 2007

NIN - Coliseu de Lisboa 10-02-07

Apesar da noite ter começado com uma prestação verdadeiramente dolorosa dos PoPo ; da falta de meios visuais exuberantes que marcaram outros concertos da tourné americana; dos jogos de luzes se terem ido abaixo logo ao terceiro tema ( a que Trent Reznor se referiu com algum escárnio em algo como "of course something has to go wrong on the first night."); da falta de encore ( que, apesar da frustração dos fãs que se mantiveram infindavelmente assobiando, batendo os pés e invocando pelo nome da banda, parece constituir uma normalidade nos concertos dos NIN)...houve um Coliseu a abarrotar de culto abnegado; uma setlist notável que percorreu toda longa discografia da banda (os tais “Halos”); o carisma magnetizador de Trent que não necessita de falar muito para nos hipnotizar com a sua voz assombrosa; a bateria simplesmente imponente e impagável de Josh Freese ( o tal que já lá havia actuado com os A Perfect Circle) ; a consistência do baixo de Jeordie White (ou Twiggy Ramirez); e uma actuação cheia daqueles detalhes e floreamentos sonoros envolventes que nos foram comutando com mestria e fluidez cada um dos mundos inebriantes, sombrios e sofridos de cada canção dos NIN até ao clímax mais visceral e açambarcador...
Sem mais palavras... muita acima das minhas expectativas mais elevadas! O que eu daria para estar lá mais uma vez hoje e amanhã à noite! Terei mesmo que me contentar com a T-Shirt de má qualidade comprada na clandestinidade no final como memorial de uma prestação absolutamente arrasadora...

Eis o alinhamento para um espectáculo de cerca de 1:30 min:

0. Pilgrimage (intro)
1.
Mr. Self Destruct
2. Last
3. Terrible Lie
4. March of the Pigs
5. Something I Can Never Have
6. The Line Begins To Blur
7. Closer
8. Burn
9. Wish
10. Help Me I Am In Hell
11. Eraser
12. La Mer/Into the Void
13. No, You Don't
14. Only
15. You Know What You Are?
16. Hurt
17. The Hand That Feeds
18. Head Like A Hole


Temas da noite: Terrible Lie (tocada com as luzes do palco apagadas); March of the Pigs; Closer; Burn; Hurt; Head Like a Hole

A Mark Has Been Made…


Led

Sim!!!


Led


sábado, 10 de fevereiro de 2007

Preciso

Amanhece já devagar. Da janela aberta para se escoar o fumo do cigarro, ouço o tráfego da avenida com um rumor longínquo como se fosse longínquo. E eu vou com ele na tranquilidade de mim. O Inverno passou, vai passar. E o sol vem aí para se demorar connosco e eu me sentir nele com a alegria de que preciso.

Led

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Infusão

Há uma música bela que te fascina. E toca-la inúmeras vezes como se quisesses apropriar-te dela, transfundi-la a ti. Mas antes de te apropriares da sua beleza, ela desfaz-se. Porque só é belo o que está perto e longe. É aí por exemplo que Deus existe. De muito longe não se vê. De muito perto leva ao ateísmo.


Mogwai – New Paths to Helicon I

Led

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

A verdade é impessoal


Toda a verdade convicta cria logo discípulos. Porque o que seduz na força da verdade é a verdade da sua força. Com a verdade cria-se uma doutrina, com a força pode criar-se um império. E o poder com a extensão do domínio importa mais do que o saber. Mas uma verdade só é verdade quando levada às últimas consequências. Até lá não é uma verdade, é uma opinião.


Led

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Memorable quotes from “25th hour”

After reviewing the movie last monday night, who could forget the fantastic wrathed up monologue from Monty Brogan (Edward Norton) in the “25th hour”?

(…) Fuck this whole city and everyone in it. From the row-houses of Astoria to the penthouses on Park Avenue, from the projects in the Bronx to the lofts in Soho. From the tenements in Alphabet City to the brownstones in Park slope to the split-levels in Staten Island. Let an earthquake crumble it, let the fires rage, let it burn to fucking ash and then let the waters rise and submerge this whole rat-infested place. No. No, fuck you, Montgomery Brogan. You had it all, and you threw it away, you dumb fuck!


Fckin'brilliant!

Led