quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Pessoa Intemporal (1888-1935)


Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma

Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.

Fernando Pessoa, 1934.

terça-feira, 29 de novembro de 2005

Musical Hints

What has been cycling in my stereo for the past 3 weeks:

Snow Patrol – “Songs for Polarbears” (1998)
dEUS – “Pocket Revolution “ (2005)
David Fonseca – “Our Hearts Will Beat As One” (2005)
Coldplay – “ Safety EP” (1998), “Brothers and Sisters EP”(1999), “The Blue Room EP” (1999), “Parachutes” (2000), “ A Rush of Blood to the Head” (2002),“ X&Y” (2005)
Jim O’Rourke – “Eureka” (1999)
Tortoise – “Millions Now Living Will Never Die” (1999)
The Postal Service – “Give Up” (2003)
The Cardigans – “Super Extra Gravity” (2005)
NIN – “The Downward Spiral” (1994)
Take care!

Album of the week: dEUS – “Pocket Revolution”

The members of dEUS named their band after God, which takes no small amount of chutzpah. It also sets the bar kind of high. I imagine that if God made music it'd be pretty special, maybe the kind of thing that would physically blow your mind out your ear or herald the Earth's final destruction. Think about how disappointing it would be if God was on the bill and you got a milquetoast singer-songwriter or boring lap-pop.

dEUS' music isn't godly, but in the second half of the 90s they released three very good albums that weren't easily pigeonholed. The first two in particular hop from genre to genre, while 1999's "The Ideal Crash" took all their manic eccentricity and channelled it into a slightly more accessible package. Six years later, "Pocket Revolution" continues that evolution with a sharp, direct attack that undoubtedly has more commercial potential than anything they've released before. This comes at the expense of the messy charm that made their early music so enjoyably chaotic, but anyone who originally liked them for the Frank Zappa, Charles Mingus, Don Cherry, and Captain Beefheart affinities they once flew like a flag won't be totally disappointed, as their music still has those elements. They're just packaged more subtly.

Case in point is "Cold Sun of Circumstance", a wildly rhythmic song stuffed with faux blues riff age and frenetic vocals. The main thing separating it from the craziness of "In a Bar, Under the Sea" is the band's restrained production, which has a smoothing effect on all of the material. The proggier songs are held back a bit by the approach-- "What We Talk About (When We Talk About Love)" in particular features a monster rhythm track topped with Beefheartian interjections and could have had the same explosive quality of "Fell Off the Floor, Man" with looser engineering-- but the band's pop side is finally given full flower, so it's a trade-off.

In the past, songs like "Little Arithmetics" were almost token bones thrown to the European singles charts, but "7 Days, 7 Weeks" is the closest thing to a sure hit they've written. Tom Barman's double-tracked vocals throw off the song's cloak of heavy ambient keyboard, the mellow verses abetted by e-bowed guitar and mellotron. It's catchy in the same way R.E.M. once were-- not in your face with its hooks, just very precise about how they're placed. The band also embraces vocal harmonies whole hog on Pocket Revolution, a step that hugely enriches songs like "Include Me Out", which comes across as sort of a half-way point between Pink Floyd and late-60s folk-pop. And then there's closer "Nothing Really Ends", a which borders on lounge (in a good way) with its cocktail drums, vibes and sturdy, crooner-worthy melody.

So dEUS have settled down with age and returned from their hiatus as a more craft-conscious, restrained rock band. I'd be lying if I said I liked them more this way than I did for In a Bar..., but as transitions go, they've made the leap to greater maturity with a lot of grace. Pocket Revolution is an accomplished re-introduction to one of Belgium's greatest exports.

Worst Case Scenario (1994)
My Sister = My Clock (1995)
In A Bar Under The Sea (1996)
The Ideal Crash (1999)
No More Loud Music (2001)
Pocket Revolution (2005)

from Pitchforkmedia
Led

domingo, 27 de novembro de 2005

Holodomor

O Presidente da Ucrânia, Viktor Yushchenko, pediu ontem à comunidade internacional que considere a Grande Fome verificada na década de 1930 um genocídio provocado pelas autoridades soviéticas.

"O mundo deve saber desta tragédia", disse o Presidente Yushchenko, na abertura de uma exposição dedicada aos perto de dez milhões de ucranianos que morreram de fome em 1932 e 1933, quando Estaline lhes retirou os seus produtos e mandou proceder à reforma agrária. Crê-se que teria morrido perto de um quarto da população, existindo relatos dramáticos de situações que chegam inclusive ao canibalismo.
A Ucrânia decidiu que o dia 26 de Novembro deve ser dedicado às vítimas do genocídio de "Holodomor", o assassínio pela fome, e a outras perseguições políticas da era comunista soviética.
Led

sábado, 26 de novembro de 2005

Candidato afónico


O silêncio persistente de Cavaco tem intrigado muita gente. Por mais que o candidato de Boliqueime seja espicaçado, da sua boca não sai nada - ou, quando sai, tudo se fica pelas ambiguidades, como sucedeu na entrevista a Constança Cunha e Sá. Nem sim, nem sopas. Claro que um silêncio pode dizer muito e até ser uma poderosa força de resistência, como vimos no Silence de la Mer, de Vercors, ou com os escritores da antiga RDA; porém, a mudez de Cavaco não tem nada de admirável. Bem pelo contrário, é um silêncio arrogante e estúpido. O candidato não fala, porque sabe que isso não só deixaria à vista de todos a sua falta de ideias, como faria dele uma figura mais humana e fragilizada: falar, seria descer ao nível da populaça eleitora. O prolongado silêncio, pelo contrário, responde à necessidade de auto-estranhamento das massas e converte-o numa espécie de ídolo ou homem providencial aos olhos dos portugueses.

(in www.a-bomba.blogspot.com)
Led

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

O Contra-Golpe 30 anos depois



25/11/1975 - Em Portugal, forças democráticas impedem uma revolução de extrema-esquerda, impondo a democracia como rumo para o país, e terminando o PREC ("periodo revolucionário em curso).

“…Cerca das 10 horas da própria manhã do dia 25, prontos para desencadear as operações, os conspiradores — numa diligência conjunta do «Grupo dos Nove», Eanes, Jaime Neves e oficiais dos Comandos da Amadora — procuraram e conseguiram obter a aprovação e cobertura institucional do Presidente da República, o general Costa Gomes – para anularem o previsível golpe militar apoiado pelo PCP, movimento operário e esquerda militar (MFA) com vista ao estabelecimento de uma ditadura comunista.

Poucos dias depois, o chefe do EMGFA, general Costa Gomes, enviou aos três ramos das Forças Armadas uma directiva na qual se afirmava que «só os militares [...] estão em condições de servir o projecto de construção da sociedade proposta pelo Movimento do 25 de Abril, sociedade onde não seja mais possível a exploração do homem pelo homem» (Jornal de Notícias, 2-12-1975).

E, ao tomar posse como Chefe do Estado-Maior do Exército, no dia 6 de Dezembro, Ramalho Eanes, então promovido a general, declarou como «objectivos políticos prioritários a independência nacional e a construção de uma nova sociedade democrática e socialista.» ( Jornal de Notícias , 7-12-1975)…”
Quem quiser saber mais sobre o 25 de Novembro pode ir aqui!
Led (devia ser feriado nacional)
Posted by Picasa

Coldplay em Lisboa


“Dois meses depois de os bilhetes terem esgotado para o espectáculo de Quarta-feira, 23 de Novembro de 2005, os Coldplay regressaram a Lisboa para arrebatar uma multidão. Já há dois anos tinham-no feito, no mesmo Pavilhão Atlântico. Fiando-se, agora, num repertório amadurecido, que inclui o mais recente álbum "X&Y", a banda de Chris Martin foi explosiva o suficiente para transformar até os temas menos dinâmicos em hinos. A confirmação de que, não tarda nada, os Coldplay conquistam um estatuto semelhante ao dos U2 em Portugal.

Chris Martin é o culpado pela proeza. Irrequieto e irrepreensível, quer ao piano, quer à guitarra, o vocalista subiu ao palco do Pavilhão Atlântico com a lição bem sabida e voltou a surpreender com os seus conhecimentos da língua portuguesa. Começando com "Temos todo o prazer em estar aqui", em jeito de refrão entoado à viola, e terminando com o elogio "Vocês são fantásticos" - na primeira despedida da noite, quando os ursos projectados em luz treparam as bancadas do pavilhão no tema 'Talk' ­ - o líder dos Coldplay provocou o maior tumulto quando atravessou o Atlântico até à régie de som e, de lá, interpretou 'In My Place'.

Ficando-se por um encore ­- o público português, mal habituado, insistiu nos aplausos - , os Coldplay deram um espectáculo consistente, pródigo em momentos marcantes. É o caso da recuperação de 'Yellow' (daqui a uns anos, chamar-lhe-emos "clássico"), em que dezenas de balões amarelos caíram do tecto do Atlântico. A invulgar qualidade do som no recinto, cuja acústica não é habitualmente convincente, aliada a um sumptuoso jogo de luzes que atingiu o seu auge no arco-íris de 'Clocks', foram outros dos extras técnicos que ajudaram a tornar o espectáculo memorável. Mas o melhor da noite foi a forma descontraída com que Chris Martin interrompeu canções a meio, como aconteceu em 'The Scientist', quando lhe escapou um 'fuck' ao enganar-se na nota ao piano. "Everybody makes mistakes", justificou o vocalista, em risos, repetindo a interrupção em 'Til Kingdom Come', faixa escondida de "X&Y", que abriu caminho para um momento country em 'Ring of Fire', de Johnny Cash. Com a letra da canção projectada no palco, 'Swallowed In The Sea' abriu o único encore, encerrando o espectáculo com o terno 'Fix You', na promessa de que as 'lights will guide you home'. A luz da lâmpada a extinguir-se em palco aconchegou o caminho até casa.

Na primeira parte, os britânicos Goldfrapp tentaram brilhar com o seu pop electrónico, mas o público esteve maioritariamente desatento. Os sons locomotivos de 'Train', a sensualidade de 'Black Cherry' ou a precoce despedida com 'Ooh La La' mereceram, ainda assim, palmas suficientes para Alison Goldfrapp dizer "you're amazing". No final deste concerto, sob a égide do "Comércio Justo" de que Chris Martin é porta-voz, o ecrã gigante por detrás do palco exibiu um vídeo da campanha MakeTradeFair, no qual celebridades como Bono, Brad Pitt, George Clooney ou Bob Geldof estalam os dedos, simbolizando a morte de uma criança a cada três segundos devido à pobreza extrema. A mensagem "Queremos a Tua Voz" foi, de resto, cumprida em volume máximo pelo público durante a seguinte hora e meia de concerto dos Coldplay. “
Tirado: de
Alinhamento:

"Square One"
"Politik"
"Yellow"
"Speed of Sound"
"God Put a Smile Upon Your Face"
"X&Y"
"How You See the World"
"White Shadows"
"The Scientist"
"Til Kingdom Come"
"Ring of Fire (Johnny Cash)"
"Green Eyes"
"Clocks"
"Talk"

Encore:

"Swallowed in the Sea"
"In My Place"
"Fix You"

Led (Coldplay got terribly big)
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terça-feira, 22 de novembro de 2005

19.999 pessoas e eu todos ao rubro


Sem grandes novidades a mais que provável “setlist” para amanhã à noite será:

"Square One"
"Politik"
"Yellow"
"God Put a Smile Upon Your Face"
"Speed Of Sound"
"Low"
"Warning Sign"
"Everything's Not Lost"
"White Shadows"
"The Scientist"
"Til Kingdom Come"
"Don't Panic"
"Clocks"
"Talk"

Encore:

"Swallowed in the Sea"
"In My Place"
"Fix You"


Parachutes (2000)
A Rush of Blood to the Head (2002)
X&Y (2005)

E a minha impraticável "setlist" para o concerto seria:

Square One (“X&Y” – 2005)
Politik (“ A Rush of Blood to The Head” – 2002)
Brothers & Sisters – New Version (“Trouble” Single - 2000)
Don’t Panic (“Parachutes” – 2000)
Shiver (“Parachutes” – 2000)
White Shadows (“X&Y” – 2005)
Easy to Please (“Brothers & Sisters” EP - 1999)
Clocks (“ A Rush of Blood to The Head” – 2002)
Trouble (“Parachutes” – 2000)
Daylight (“ A Rush of Blood to The Head” – 2002)
Bigger Stronger (“Safety” EP – 1998)
Talk (“X&Y” – 2005)
Spies (“Parachutes” – 2000)
Such a Rush (“Safety” EP – 1998)
Fix You (“X&Y” – 2005)

Encore 1:

The Scientist (“ A Rush of Blood to The Head” – 2002)
Til’ Kingdom Come (“X&Y” – 2005)

Encore 2:

See You Soon (“The Blue Room” EP – 1999)
Yellow (“Parachutes” – 2000)


Cool-Play!

Led

segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Astrólogos da Música

Calhou-me isto e parece ter algum fundamento!

“You Are...My Bloody Valentine.

You tend to be a bit distant and reclusive. You are a leader as opposed to being a follower. You are a perfectionist and pay very close attention to detail. You have the tendency to be lazy, which sometimes get's in the way of you achieving whatever it is you may be trying to perfect. You don't really care about what's typically looked upon as the norm. You really don't care about what people think about you at all, or at least so you try and make it seem. You care most about just being yourself.”
brought to you by Quizilla
Led

domingo, 20 de novembro de 2005

sábado, 19 de novembro de 2005

Sensacionismo



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo
....
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão - princípe - todos eles princípes - na vida
...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?
...

Álvaro de Campos - "Poema em linha recta"

segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Human Mating Strategies


“Humans have evolved a complex menu of mating strategies. These include long-term committed mating, brief sexual encounters, and extramarital affairs. Long-term mate preferences are complex, reflecting desires for many different qualities such as kindness, intelligence, mutual attraction, love, dependability, and good health. Two universal clusters
of sex differences are the desire for youth and beauty (men value more than women) and the desire for a mate who has good financial prospects and elevated social status (women value more than men).

These profound sex differences have been documented not just in studies of expressed preferences; they have also been confirmed in studies of actual marriages, responses to personals ads, and tactics of mate attraction, mate retention, competitor derogation, and intersexual deception. The empirical evidence is strong that men have evolved a more powerful desire for a variety of sex partners. The evolutionary logic for this sex difference is clear-cut – men who succeeded in securing sexual access to a variety of women would have achieved greater reproductive success than men who did not. Nonetheless, there is a hidden side to female sexuality, and some women some of the time also pursue short-term matings. These must have been beneficial for women in the currency of good genes, increased access to resources, or the ability to switch to a superior mate. Nonetheless, women who cuckold their husbands historically have inflicted large reproductive costly on their regular mates. Cuckolded men risk diverting years or decades of parental resources to a rival’s offspring.

The principle of co-evolution predicts that men will have evolved adaptations designed to defend against the diversion of their mate’s sexual and reproductive resources. Jealousy as an emotion has been proposed as one such evolved defense mechanism. The empirical evidence strongly supports several evolution-based hypotheses about the psychological design of jealousy. Male jealousy, more than women’s, is engaged by signals of sexual infidelity and rivals to exceed them on the qualities that women are known to want in a mate such as good financial prospects.

Women’s jealousy, more than men’s, is activated by signals of emotional infidelity (and hence potential long-term diversion of commitments) as well as by rivals who exceed them on facial and bodily attractiveness. Much more research needs to be conducted on the complexities of human mating strategies. At this point in evolutionary science, however, we have some of the broad outlines of the fundamentals of human mating strategies and the ways in which they are designed differently in men and women. Further research is needed on the context-sensitive nature of human mating strategies. Precisely which circumstances might cause a person to shift from a long-term mating strategy to a short-term mating strategy and vice-versa? Which circumstances might trigger an extramarital affair, or conversely, cause someone to forgo an alluring sexual opportunity? How do the various desires combine, given social contexts and a person’s own level of desirability, to form actual mate choices? These and other complexities of human mating are currently being explored by scientists who have grasped the centrality and importance of human mating to so many different dimensions of social living.”

Taken from here!

This cruel pattern can also confirmed here or here or…here!
You can also simply go to a fashionable or high-standard disco (where long-term mating is most happen to kick off) and check out with whom the most attractive girls tend to be. It’s different for each different individuality, but common, this prototype truly exists! It’s not political correct nor it is at all romantic (I praise this above all), but animal sexual selection never was a pretty sight to see.
Yep, this world’s a bitch!Good luck for any of you sexual competitors out there! :)

Led (I wanna be loaded)

domingo, 13 de novembro de 2005

Inevitabilidade Causal ?

“Se se pensa que está consolidada nas democracias a condenação da violência como instrumento político, pensa-se mal. Desde que os movimentos radicais da extrema-esquerda e extrema-direita, que defendiam a violência "revolucionária", perderam influência e se desintegraram nos anos 80, com o fim do surto terrorista que das Brigadas Vermelhas italianas, às FP portuguesas, atravessou toda a Europa, que parecia haver um consenso político de intransigência quanto ao uso da violência nos sistemas democráticos. O caso da ETA e do IRA eram excepções que confirmavam a regra de que em democracia a violência estava de todo excluída.
Mas desenganemo-nos. Bastou surgir uma nova violência, com novos actores e novas causas, ocupando, mesmo que ilusoriamente, o local e a memória dessa violência radical do passado, para se verificar que importantes sectores políticos da nossa sociedade democrática mostram uma enorme complacência com a sua utilização como instrumento político. Nos sectores tradicionalmente da "esquerda", e numa "direita" complexada e temerosa, volta de novo a haver um caldo cultural para que a violência política surja como aceitável, como "justificada".
O mecanismo fundamental de aceitação da violência nos nossos dias é uma espécie de sociologia de pacotilha, mais herdeira do marxismo do que parece, que explica a "revolta dos jovens" (bem-aventurado eufemismo) pelas condições sociais da sua vida. É uma "explicação" que tem muito de voluntarismo político e pouco de ciência, embora, como também acontecia com o marxismo no passado, pretenda fornecer uma inevitabilidade causal. Antes, os proletários deveriam fazer a revolução violenta porque eram explorados e a sua "mais-valia" apropriada pelos capitalistas, agora os jovens revoltam-se porque não têm "esperança no futuro" e são marginalizados. Em ambos os casos há sempre uma explicação social útil, que ilude o adquirido político do pensamento democrático, dissolvendo-o nas mesmas perigosas ideias sobre a "justificação" da violência pela causalidade social.

De novo, aqui se está num terreno de dupla ilusão: nem a "revolta" é tão "social" como parece, e inclui dimensões criminais, de vandalismo juvenil, de "mentalidade", que não são redutíveis à economia, como são deliberadamente minimizadas as motivações de ordem cultural, religiosa e civilizacional, bastante mais importantes do que parecem. É evidente que há factores "sociais" que explicam o que se passa, mas não é por aqui que se vai longe. Há desemprego, guetização, marginalidade, exclusão e racismo, mas há também outras causas de que se evita falar, tão "sociais" como as anteriores, como seja o efeito em populações deprimidas da intensa subsidiação do providencialismo do Estado, gerando expectativas artificiais e um direito permanente de reivindicação, cada vez mais incomportável numa Europa em declínio, da recusa do trabalho por uma "vida de rua" sem controlo, nem "patrão", de discriminações sexuais de origem cultural e religiosa que têm a ver com a ideia patrimonial da mulher muçulmana pelos homens da sua família. O urbanismo dos HLM é culpabilizado, mas cada uma das cités que agora se inflama - e pouco sabemos, porque ninguém nos quer dizer, se é significativo o número de "jovens" envolvido - é um verdadeiro paraíso comparado com os bidonvilles onde os emigrantes portugueses viveram.
Que a explicação "social" circulante é um passe-partout simplista, torna-se evidente quanto ela se centra na condenação da acção policial, na recusa da criminalização dos actos de destruição e violência, na ênfase na culpabilização do Estado, do Governo e dos políticos, na sucessão até ao infinito das desculpas para o que acontece, como se fosse inevitável que acontecesse. Abra-se um jornal, ouça-se uma rádio ou uma televisão, assista-se a um debate e é desculpa sobre desculpa, tudo isto culminando com a conclusão que os "jovens" têm razão em "revoltar-se". Ora isto tem mais a ver com a política do que com a sociologia.
É por isso que nenhuma desta mecânica explicativa se usaria se os tumultos tivessem origem em grupos racistas da extrema-direita, ou de grupos neonazis. Aí, o que se ouviria de imediato era o apelo à repressão, a criminalização ideológica, a exigência de acções punitivas drásticas. Ora, tanto quanto eu saiba, a proliferação de grupos neonazis, na Alemanha de leste, por exemplo, também traduz a mesma "falta de esperança" de uma juventude que tem elevadas taxas de desemprego. Só que aí ninguém avança ou aceita explicações "sociais", e ai de quem minimizasse qualquer violência desses "jovens" que nunca teriam direito a este tratamento tão simpático, mesmo quando também são jovens...
Outra variante da desculpa "social" para a violência é o factor identitário, a crise da segunda geração entre dois mundos culturais muito diferentes. Só que também muito voto para Le Pen e muito da violência racista alemã traduz igualmente a crise de identidade dos nacionais, quase sempre mais velhos e encurralados, face a um mundo que lhes parece estrangeiro, agressivo e hostil.
O que está em jogo não é o pastiche sociológico carregado de culpa que nos querem vender, num daqueles sobressaltos de unanimismo explicativo, a que estamos a assistir cada vez mais desde a guerra do Iraque, feito de pouco pluralismo, simplismos brutais e ideologia dominante do politicamente correcto.
O que está em jogo é o primado do Estado de direito - contam-se pelos dedos de uma mão as pessoas que tiveram a coragem de falar das leis - e, com ele, as nossas liberdades e direitos adquiridos. Sim, são as nossas liberdades e a nossa democracia que ardem nos arredores das cidades francesas, não é Sarkozy, que, se fosse demitido, seria o melhor atestado da fragilidade do Estado francês e a receita para muitos mais tumultos em que ninguém teria mão. A oposição socialista em França e a cizânia dentro da maioria andam aqui a brincar com o fogo.

A minha geração namorou o suficiente com a violência política para a conhecer bem. Tinha as melhores das razões para esse namoro, havia um Estado ditatorial que conduzia uma guerra iníqua. Mas, como muitas vezes acontece, há uma mistura entre as melhores das razões e as piores das ideias, e há que reconhecer que o impulso terrorista que levou aos crimes das Brigadas Vermelhas também existia por cá. Se o 25 de Abril não se tivesse dado em 1974, vários grupos da extrema-esquerda portuguesa teriam caminhado para o terrorismo político que se prolongaria mesmo em democracia. Felizmente, a alegria e a força da liberdade reconquistada varreu tudo e todos e essa mesma geração tornou-se um pilar da democracia portuguesa, a que trouxe outras experiências de vida e luta.

Por isso, podemos perceber bem o que se está a passar na Europa. Os "jovens" são de facto os filhos dos imigrantes, cuja demografia salva e condena a Europa ao mesmo tempo, salva-a da extinção demográfica e condena-a a ser uma Europa em cujo espelho a antiga Europa greco-latina e judaico-cristã, a única que há, não se reconhece. Este dilema não está apenas a fazer arder os carros, está também a incendiar a democracia política com ideias que lhe são alheias e hostis.

Este dilema só pode ser superado com intransigência na defesa da lei e do direito e na proclamação, sem dúvidas, de que não é legítima em qualquer circunstância, insisto, em qualquer circunstância, o uso da violência para obter objectivos políticos quando se vive em liberdade. Este é um adquirido de muitos anos de luta, que custou muito sacrifício e muito sangue, mas é das coisas em que a Europa deve ter orgulho e não culpa. O modo como se está a ser complacente com os tumultos franceses mostra que onde devíamos ter orgulho passamos a ter vergonha, e passamos a ter culpa.

Estamos velhos e com medo, este é o estado da Europa.”

Pacheco Pereira


Led

sábado, 12 de novembro de 2005

Fósforo

Finalmente, dois anos e meio após a invasão, foram encontradas armas de destruição maciça no Iraque.

Mais concretamente, descobriu-se que as forças armadas norte-americanas utilizaram fósforo branco, uma arma química, aquando do seu ataque à cidade de Faludja, há uns meses atrás.
Foram encontrados em Faludja diversos corpos, entre os quais de mulheres, crianças e idosos - não-combatentes - cujas partes expostas se encontravam completamente queimadas por um agente que se supõe ser fósforo branco, hipótese que é confirmada por pelo menos um soldado norte-americano que participou no ataque a Faludja.

Sabemos agora que, tal como o exército iraquiano bombardeou nos anos 80 a cidade de Halabja com químicos, para matar, de forma bárbara, a sua população civil, o exército norte-americano fez o mesmo, em 2004, na cidade de Faludja.
Pormenores...
Led

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Album of the week: In Your Honor - Has Dave Grohl stretched himself too far?



"As Dave told NME a few weeks ago, it was never part of the Foo Fighters game plan to end up in Planet Rock's premier league, either. In Dave's head this is the same band that began as the few demos that he threw together while bored in the fall-out from Nirvana. Over the years, the line-up has stabilised into guitarist Chris Shiflett, bassist Nate Mendel and, of course, everybody's favourite peroxide party lieutenant, Taylor Hawkins on drums. Sure, they've happened upon a few pan-generational anthems along the way, the best of which being 'Everlong' from 1997's 'The Colour And The Shape', a song so preternaturally uplifting that I want it at my wedding and funeral. But Dave remains fully aware that his place in history remains as a drummer, proved post-Nirvana by electrifying stints with Queens Of The Stone Age, Garbage and Nine Inch Nails. Both of those factors have meant the guy has become a demigod; and when he found himself headlining Reading for the second time, it forced a rethink.

"It was amazing how popular we'd become. We'd reached a level and it meant something," he said. In other words, Dave's decided he wants a piece of the pie in his own right. And who on God's earth could blame him?

'In Your Honour' sets out to blow apart the perception of Foo Fighters as a glorified side-project in the same way that 'American Idiot' destroyed the notion that Green Day were thick. And Dave has done such a great PR job of talking up this record as 'definitive' that there's a heftier weight of expectation surrounding it than any record he's been involved in since 'In Utero'.

Everything about 'In Your Honour' is over the top. For starters they built their own 8,000 square-foot warehouse. Next they decided to use it to make that most preposterous of labours, a double album, one half formed from their heaviest metal, the other an acoustic disc so slight that it's barely even there. No more mixing of messages. This is where they have become great.

Disc One features loads of thundering guitars and manic drum breakdowns, classic Foo structures (brash verse, anthemic chorus) and aggressively contemplative lyrics. Single "Best of You" muses furiously about the frailty of the human heart, asking clunky questions ("Were you born to resist, or be abused?/ Is someone getting the best of you?"), Grohl's chest-screams barely seeping through his bandmates' soupy guitars. The song fades out where it should climax, bleeding into "DOA", a twisty, death-obsessed cut ("It's a shame we have to disappear/ No one's getting out of here/ Alive") with docile vocals (that almost sound as if they were snatched from another song.) Meanwhile, the 70s rock-infused "Resolve", a dynamic call for tenacity, is memorable-- but still weirdly reminiscent of nearly every Foo Fighters single ever shot to radio
It's the quiet half that really makes you point and look. We've been here before of course, their starting point clearly being the solemn 'Walking After You', again from 'The Colour And The Shape'. And there was a lone moment of sublime contemplation that really did deserve a revisit. Here, finally, is the sound of a band pushing themselves, in its very restraint. If you were in Foo Fighters, it really must be difficult to resist the temptation to rock out with your cock out, but they manage it here. Disc Two opener 'Still' wafts in on a cushion of opium reverb and its feet never quite touch the ground; it's apparently the tale of a teenage suicide Grohl witnessed back in Virginia at the age of ten. Already you get the feeling that after having a rip-roaring good time of the rock half, this is actually the new Foo Fighters album. The seriousness continues on 'Friend Of A Friend', a harrowing story of wasted youth that dates back to Grohl's earliest days in Nirvana. But there's light as well: Taylor Hawkins, the band's resident funboy, gets a go at fronting the band on the zippy, handclappy 'Cold Day In The Sun', the closest cousin of vintage acoustic Foos tracks like 'Big Me'. But most striking of all is the fabled Norah Jones collaboration 'Virginia Moon', a lilting bossa nova smooch that's all the more lovely for being played totally straight.

Dave wanted this to be remembered as the definitive Foo Fighters album. Well, we're afraid that one's still 'The Colour And The Shape'. 'In Your Honour', on the other hand, feels a bit like your bedroom partner trying on all kinds of flash costumes and gadgets to try and excite you, and the realisation that it wasn't really necessary and they wouldn't have had to bother had you just shown them a little more love in the first place. But then you still have a rip-roaring session anyway, even if you do now have to live with the image of your girlfriend having the face of Dave Grohl.
There is a ten-on-ten single album lurking somewhere within this record's mammoth tracklisting but even that wouldn't be the sort of Green Day-style reinvention that silly us were expecting; because you don't want that from Foo Fighters. Like New Order or the post-Richey Manics, they've always been the sound of survival, and survival is a dependable, workmanlike thing that, just like Uncle Dave, is never supposed to be too dangerous. At least when he isn't behind the drumstool, Grohl is never going to make your spine do somersaults and you wouldn't want him to. The guy that once did that - his mate, our Messiah - is dead. Instead, Grohl can rest easy simply being the everyman. 'In Your Honour' is fine, but Dave didn't need to try being superhuman, because there goes my hero: he's ordinary. "
From Pitchfork and NME

Led
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quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Analepse

E uma saudade mais funda, uma instantânea dissolução de todas razões de existir. Então ergo-me sem me erguer, porque na imaginação é que é tudo. Ou na memória. As coisas transcendidas à pureza da sua verdade nesta súbita opressão de uma casa vazia. Dou a volta ao escritório todo com um olhar, os móveis quietos no seu lugar, o sofá, os quadros, o vaso de vidro verde, os cortinados suspensos, filtrando a luz da noite até à intimidade comigo, tudo à espera de continuar a ser quotidiano, apelando a atonia...
...Eis que porém me recomponho, te arrebato à minha violência, rebento os ferros cruzados da nossa cumplicidade mútua, do nosso pecado comum, da nossa distância interposta. Corro liberto ao longo do areal deserto, o sol ainda ao alto, disparado de fulgor, o mar raiado no horizonte, injectado de grandeza às minhas veias, sou livre! Poderoso! Absoluto! Como poderia errar a juventude do meu sangue? Largo atrás o rasto do meu signo mortal e os meus olhos iluminam-se à evidência da luz oblíqua...corro desembaraçado e deixo toda a trampa metafísica opressiva para trás...vejo-te no extremo da rampa de areia e acenas sorridente...corro para despojar-me de uma vez, íntegro e esclarecido, todo no ar. Efémera a vida, eterna, tu – como poderia mentir-me a beleza feroz da minha raiva? Tu aérea, no horizonte da minha vida, my love, e a comoção do teu sorriso doçe desdobrado a um apelo infantil...
...Pelos vidros da janela deste escritório te relembro mais um pouco...No silêncio audível das coisas a noite cai devagar, uma aragem recompõe a respiração da terra...
Led