domingo, 24 de setembro de 2006

Rewind

E à primeira vibração das teclas de um piano, toda a emoção do passado se me abre. Estou lá, nesse tempo, revejo-o num aceno de uma alegria vã. É a alegria do que nem sempre foi alegre, a imagem do que passou e levou a vida consigo e a conserva irreal no absoluto da irrealidade. Ela passa, a minha imagem, eu estou. A memória comove-me de fascínio porque apela ao absoluto que transfigura aquilo que se evoca; a recordação, detestável porque me traz de volta a uma verdade desabitada e indesejada. Silencioso a vejo desaparecer no horizonte e me recolho de novo a mim, fechado de resignação, ao apelo brando de um choro terno no mais oculto de mim. E todo o passado se me dissipa em turbilhão. O amor eterno dos homens será apenas eterno na sua intensidade, não na sua duração que nem dura a vida daqueles que esse amor ama. Retórica lamuriosa de consumo rápido para fim de noite erudito.



Led

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