quarta-feira, 12 de abril de 2006

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Esta notícia!

Led

8 comentários:

Simplicitas disse...

Chamaram-me hoje a atenção para esta notícia... http://sic.sapo.pt/online/noticias/vida/20060413-Ler+muito+ver+televisao+e+navegar+na+net+pecado.htm. A princípio achei imensa piada porque sinceramente não acho que de algum modo me diga respeito, mas depois comecei a interrogar-me quantas vidas irá realmente influenciar... e de que forma.
Não quero com isto estabelecer comparação com o que se passa no Mundo islâmico, que envolve uma outra violência... descomunal, mas infelizmente existe aqui um mesmo princípio... o do extremismo absoluto. É sempre esse o problema, qualquer que seja a ideologia ou religião... e está em todo o lado.
Acredito que é na nossa tradicional ponderação ocidental que habita de facto a razão. A solução para os conflitos com os muçulmanos, a existir, não surgirá de certo no tempo das nossas vidas, e parece-me que assenta tão pouco no simples obliterar de diferenças como na exacerbação de um ódio irreprimível. Mas lá está, sejamos honestos... até que ponto é que muitos de nós se preocupam mais com estas questões do que com o preço do petróleo? E sempre estiveram lá, a que se deve este súbito despertar? Estaremos todos a tentar exorcizar os demónios da nossa cada vez mais decadente democracia?
Resumindo e concluindo... não há vontade real. Os problemas só se resolvem quando se interiorizam as razões certas para o fazer...tens apresentado muitas, e tens toda a razão, mas a única coisa que move a vontade política (e bélica...) é o barril de crude...e isso desilude, mas infelizmente é a nossa realidade... não existem "guerras santas"...

Ledbetter disse...

De facto...essa nova missiva vinda do actual pontificado dos “novos pecados” é completamente ridícula... ( e quase cómica, não fosse ela extremamente perigosa) consequência natural dos ares mais conservadores e hipócritas que percorrem Vaticano nos tempos actuais... Suponho que a liberdade de expressão vai sempre colidir sempre com as idiossincrasias eclesiásticas... Mas já não esperava muito desta facção católica de Roma, depois da descrição que fez da homossexualidade e da resposta que teve em relação aos cartoons. A defesa da liberdade não é uma questão «necessária e urgente» na agenda do actual pontificado. Mas pelo menos não manipula violentamente os seus seguidores ou, por outro lado, pelo menos a nós é nos dada a capacidade de poder criticar e descodificar em segurança e tolerância estas “epístolas sagradas”.

Mas a verdade é que como disseste e bem, os problemas com o mundo islâmico estão num outro patamar de extremismo e resultantes de uma recusa política da democracia, de uma recusa cultural da tolerância, da liberdade, das diferenças... Dizes que a solução para os conflitos com os muçulmanos não assenta no debelar de diferenças...mas nisso discordo em absoluto. Não suporto quando me vêem com o argumento desculpabilizante de “São outras culturas! É deixá-los estar!” e muda-se imediatamente de assunto como se tudo isto fosse um filme a milhas da realidade. Dizem-me que há um islão moderado. Mas não o vejo condenar Bin Laden e o terrorismo, a tortura de reclusos, o assassínio de apóstatas, a aceitar a separação da Igreja e do Estado, a renunciar à sharia, a admitir a igualdade dos sexos ou defender a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Estas são as diferenças essenciais que gostaria de ver debeladas, e não quaisquer outras abstracções culturais.

Concordo com tudo o resto incluindo o “barril de crude”!
Obrigado pelo comentário muito bem escrito, como já vem sendo hábito.
Bjos!

Simplicitas disse...

À partida pode parecer demasiado branda toda a argumentação que implica alguma compreensão de uma cultura em violento choque com a nossa. Branda é a última coisa que quero parecer, principalmente depois das centenas de barbaridades que já todos vimos ser cometidas em nome do tal Alá. Apesar de tudo parece-me importante não desumanizar completamente a questão. Esta é exactamente uma forma de não a tornar tão distante de nós... e quem sabe acreditar numa solução. O Islão moderado deve existir, simplesmente não na visão de líderes género Mahmoud Ahmadinejad (só o nome arrepia...) que segundo se diz nunca saiu sequer do irão. Não sei... mas pergunto-me muitas vezes quantas realidades existem dentro do mundo islâmico de que não temos conhecimento profundo. De que forma é mantido o aparente consenso em volta destes líderes maníacos radicais? Quantos estão descontentes?
Quando se cresce sem conhecer qualquer outra referência para além da imposta por uma religião secular... pois, mais que uma simples fé, a lei absoluta. Não desculpa de forma nenhuma as atrocidades cometidas contra a Declaração Universal dos Direitos do Homem, mas lá está... de que forma podem muitos deles saber sequer que têm direitos? Ou o que são direitos? Repara bem, não saber viver de nenhuma outra maneira, e não ter sequer hipótese de o fazer... uma ignorância assustadora, mesmo entre as classes mais instruídas. Uma existência absolutamente medieval...
Raiva sinto muitas vezes (de todas as vezes que abro um jornal...) e acho que é uma atitude muito natural de defesa, por isso compreendo perfeitamente aquilo que dizes. Mas apesar de parecer ingénuo e evasivo, de vez em quando é preferível pensar assim... talvez por ser em algo que aparentemente todos somos incapazes de mudar...

Boa Páscoa!!! :)

Ledbetter disse...

Cara amiga, percebo o que queres dizer, que no fundo no fundo acaba por soar a desculpabilização pelas causas sociais e culturais. Mas já me começa a cansar um pouco argumentação que remete tudo para os líderes, como se o povo fosse uma entidade inerte , apática e conformada com a violência dos regimes... . A revolução tem de começar dentro deles e são mesmo raras as vozes contrárias aos rumos extremistas que estes países vão seguindo. Repara que mesmo na questão mediática dos cartoons, eu não consegui encontrar ( mesmo nos muitos fóruns por onde andei a deambular na altura) uma única sequer opinião de um muçulmano ( na maioria residentes europeus) que conseguisse entender o que significavam mesmo valores como a democracia ou a liberdade de expressão. Todos davam a entender que compreendiam a liberdade como apenas um adereço linguístico e que devia ser moderada, quando em confronto com os valores superiores da religião ( seja esta qual for). Parece quase existir uma intrínseca recusa cultural de compreensão destes valores. Repara que o islamismo é seguido por 1,2 biliões pessoas e está espalhado por todo o mundo com uma grande percentagem residente no mundo ocidental! Já era tempo de começar a ver uma resposta massiva dissonante e não apenas casos pontuais de intelectuais perseguidos pelos regimes dos países natais!

Sinceramente estou farto de ver rastejar a hipócrita e politicamente correcta Europa perante as imposições prepotentes de regimes totalitários medievais e desumanos...a dualidade de critérios é evidente e incomoda-me muito o tabu e a susceptibilidade com que o “assunto” islão é tratado . Renunciar aos direitos conquistados na Europa, contra o clericanismo, é regressarmos ao fundamentalismo romano. O islão actual é igual ao cristianismo da inquisição e das cruzadas e semelhante ao estalinismo ou nazismo e se isto não é razão suficiente para fazer manifestar o nosso profundíssimo desacordo com a veemência e afinco com que nos opusemos à guerra no Iraque, então já não sei onde param os nossos ditos valores....De silenciosas boas intenções está o inferno cheio!
Bjos e boa páscoa para ti*

Simplicitas disse...

Só muito rapidamente, porque já não há muito mais para dizer.
Na altura, as caricaturas chegaram a ser publicados por um jornal jordano. O director do jornal foi despedido e preso. O mesmo aconteceu no Yemen, e desta vez o jornal foi mesmo encerrado (na wikipédia ainda encontras mais casos…). Nada mau, se tivermos em conta que alguns jornais ocidentais se recusaram a publicar as caricaturas...
Também não concordo que o povo islâmico se encontre resignado a um papel de submissão medonha e absoluta manipulação. Existem milhares de conflitos entre esses 1,2 biliões de fiéis, e isso deve provar alguma coisa. Se algum dia isso contribuirá ou não para minimizar o radicalismo de algumas das suas facções, isso é algo a que ninguém pode responder. Apesar de tudo existe algo que os torna a todos numa unidade, e que é no fundo o cerne da questão. O ódio pelo Ocidente. O mesmo que muitas vezes os acolhe, mas onde nunca se integram completamente, devido a diferenças abismais que representam uma ameaça a um modo de vida defendido com todo o afinco. O facciosismo de muitos líderes não tem ajudado… de que outra forma se explica que as caricaturas tenham sido publicadas por um jornal egípcio em Outubro de 2005, em pleno Ramadão, e ninguém tenha ligado nenhuma? Dizes que é difícil para um muçulmano compreender os significados de democracia ou liberdade, concordo, mas a crise das caricaturas mostrou-nos que de certa forma o mesmo acontece com muitos europeus... criados nesses conceitos... e que simplesmente abdicaram da sua defesa, desfazendo-se em desculpas desnecessárias. Suponho que seja aí que entra a hipocrisia europeia de que falas. Justificações à parte, sim, é certo que deveria haver um maior esforço por parte de muitos emigrantes islâmicos para se integrarem na nossa sociedade, e sim, a violência dos radicais e o silêncio de muitos daqueles que supostamente se dizem moderados é absolutamente irritante. Mas relativamente a nós, que nos opusemos à guerra do Iraque... porque pela nossa cultura informada nos apercebemos de muitas das mentiras em que se baseava... pelo pudor na imposição de uma cultura e democracia... devemos sempre saber reconhecer e denunciar o perigo que este inimigo e a sua forma de pensar representa, tentando ir no entanto um bocadinho mais além da simples questão bons vs maus. Faz parte da nossa tradição curiosa, ponderada e moderada, aquela para que começamos a despertar com o final da idade média... e que constitui também um direito fundamental.

Ups, expandi-me um bocadinho. Só queria mesmo deixar bem explícita a minha opinião, com toda a humildade e a melhor das intenções...
Bjos.

Ledbetter disse...

“Só muito rapidamente, porque já não há muito mais para dizer.
Na altura, as caricaturas chegaram a ser publicados por um jornal jordano. O director do jornal foi despedido e preso. O mesmo aconteceu no Yemen, e desta vez o jornal foi mesmo encerrado (na wikipédia ainda encontras mais casos…). Nada mau, se tivermos em conta que alguns jornais ocidentais se recusaram a publicar as caricaturas...”

Com esse exemplo selectivo quase que dava para esquecer a violência das multidões selváticas em fúria, exigindo vingança e queimando bandeiras dinamarquesas , norueguesas e americanas (?); das retaliações diplomáticas; das ameaças de bomba; da destruição de embaixadas; da expatriação de cristãos e das sanções económicas....Com franqueza, a dimensão da resposta de cada um dos lados é incomparável e sinceramente desonesta a argumentação leviana que estabelece um mínimo de analogia.

“Também não concordo que o povo islâmico se encontre resignado a um papel de submissão medonha e absoluta manipulação. Existem milhares de conflitos entre esses 1,2 biliões de fiéis, e isso deve provar alguma coisa. Se algum dia isso contribuirá ou não para minimizar o radicalismo de algumas das suas facções, isso é algo a que ninguém pode responder. “

Esse é um bom exemplo que poderia indicar precisamente como muito do povo muçulmano é submisso e manipulado, mas apático no que respeita às lutas pelos direitos humanos. Os conflitos são complexos e específicos das várias facções muçulmanas, mas nunca são contra os líderes religiosos nem a favor de causas como liberdade religiosa, criminalização sexual, liberdade de expressão, etc . São pura aversão religiosa, racial, política e territorial. Acho utópico e desconexo dizer que isto poderá minimizará o radicalismo das suas facções mais extremistas, pois acho que se prova alguma coisa, prova exactamente o contrário, não? Que cada vez mais os valores que prevalecem no mundo islâmico são assentes no fascismo tirânico, na intolerância e na irracionalidade.... Mas, quer se pense quer não, o facto permanece e a subserviência do Ocidente perante a intimidação islâmica, a propósito dos cartoons da Dinamarca ou de qualquer outro pretexto, envergonha e humilha.

Mas eu percebo as tuas boas intenções e sei que concordas comigo porque acompanhas o meu raciocínio com excelência no cerne da tua post.

Obrigado pelo comentário, que nunca é o grande o suficiente quando se debate por causas superiores.

***

Simplicitas disse...

Condenar a violência? Sempre. Denunciá-la? Também. Não tentei estabelecer analogias. Se excepções existem, devem ser sempre reveladas, por mais irrelevantes...
Utopia e desconexão... pois, se calhar… mas os verdadeiros valores de justiça e liberdade surgem sempre como resultado de uma evolução lenta e muito dura, mas natural. Não é isso que o nosso passado nos diz? E olha, vou continuar a acreditar nisso. Tal como acredito que não há nada melhor do que dizer o que nos dá na gana ;)

Ledbetter disse...

Surgem primeiro que tudo de revoluções e de individualidades corajosas que acreditem verdadeiramente na genuinidade da igualdade entre seres-humanos contra todo o senso-comum mais consensual, sem excepções...***