terça-feira, 25 de abril de 2006

Extermínio étnico em Darfur

According to Human Rights Watch:

"The government and its Janjaweed allies have killed thousands of Fur, Masalit, and Zaghawa—often in cold blood—raped women, and destroyed villages, food stocks and other supplies essential to the civilian population. They have driven more than one million civilians, mostly farmers, into camps and settlements in Darfur where they live on the very edge of survival, hostage to Janjaweed abuses. More than 110,000 others have fled to neighboring Chad but the vast majority of war victims remain trapped in Darfur..."

"Despite international calls for investigations into allegations of gross human rights abuses, the government has responded by denying any abuses while attempting to manipulate and stem information leaks... The United States Agency for International Development has warned that unless the Sudanese government breaks with past practice and grants full and immediate humanitarian access, at least 100,000 war-affected civilians could die in Darfur from lack of food and from disease within the next twelve months."


Região de Darfur...poucos sabem o que é ou onde fica. Confesso que também só desde há pouco tempo me encontro um pouco mais informado sobre o conflito que por lá vem decorrendo. Também o que lá se vem sucedendo desde início de 2003 não tem cativado o interesse dos nossos media nem das pessoas em geral. Mas nesta distante área do Sudão ocidental na África do Norte morrem dezenas de pessoas todos os dias. Região esta palco de chacinas e extermínio étnico praticadas por diferentes facções de milícias motivadas por racismo e diferenças religiosas com o apoio de um regime ditatorial no governo desde 1984. Um genocídio que é incontornavelmente patrocinado pela nossa “apatia” ocidental tal como foi o genocídio no Ruanda que resultou na morte de quase 1 milhão de pessoas devido à recusa dos membros do concelho de segurança da UN para aprovarem qualquer acção militar necessária. Talvez a comunidade internacional só desperte quando a hecatombe atinja dimensões massivas e os gritos de morte e a destruição sejam ensurdecedores. Provavelmente daqui a uns tempos lá virá a choraminguice e consternação encenada dos jornalistas fazendo a mesma questão de sempre : “como é que isto foi acontecer?”. Depois virão as reportagens e os documentários fatigantes de sempre intercalados entre as notícias desportivas, os estudantes mimados franceses ou os índices económicos. Mas aí será tarde de mais para milhões de pessoas. Urge portanto advertir sobre o que se está a passar em Darfur, pelo menos isso. Pelo menos depois poderemos dizer que sabíamos o que se estava a passar mas não nos interessou o suficiente e por isso remetemos para o esquecimento. O genocídio é uma palavra oca, de jornal ou livro, quase cinematográfica, cada vez com menor ligação com a nossa existência diária. A tragédia também de um mundo ocidental anestesiado (cada vez mais) pela televisão com o consequente “virtualismo” do sofrimento e da dor. Eu também acabo inadvertidamente por cumprir o meu papel “politicamente correcto” de mostrar que me preocupo com o mundo e que sou uma “alma sensível”. Mas queria usar Darfur como apenas um exemplo do quanto as desgraças são cada vez mais números desanimados e do quanto nos acomodámos aos novos parâmetros das frequentes adversidades mundiais pela mão selectiva dos nossos media. Para os interessados em números aqui ficam então as pobres estimativas:
- 300 mil vítimas mortais

- 2 milhões de refugiados/deslocados

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Led

3 comentários:

Simplicitas disse...

A letargia ocidental relativamente a limpezas étnica em Darfur ou no Ruanda parece-me tristemente relacionada com o escasso interesse económico que essas regiões apresentam para os países mais ricos. Não quero parecer de um anti-capitalismo desmesurado, mas é um pouco a isso que se resume hoje em dia a empatia ocidental... e mesmo que os media se esforçassem um bocadinho mais... a existir algum tipo de sensibilização... quem garante que duraria muito mais do que a momentânea recordação de imagens caóticas num país desconhecido? No fundo, acho que na nossa sociedade desconhecemos o poder que poderíamos ter se andássemos um bocadinho mais informados, e principalmente, se nos juntássemos em nome de causas mais nobres. Mas também não posso falar muito. O pouco que sei do muito que se passa em África resume-se ao que vou ouvindo de antigos combatentes da nossa guerra colonial. Dizem-me muitas vezes que sempre existiram inúmeros conflitos por todo o continente, em grande parte devido à disputa de recursos e ao carácter intrinsecamente belicista de muitas etnias. Os processos de colonização agravaram e muito estes desentendimentos seculares ao delinearem novas fronteiras que colocavam agora eternos inimigos a viver nos mesmos territórios. E a guerra fria... o apoio táctico de países como a ex-URSS a determinadas etnias para que tomassem o poder dos novos países em formação.

Posso estar a disparatar, porque não sei até que ponto isto se aplica especificamente nos exemplos que apresentas, mas pergunto-me muitas vezes onde pára a culpa de algo que agora nos limitamos a ignorar...

Bjo:)

Ledbetter disse...

As razões da existência dos conflitos são de facto confusas e complicadas sendo que os promotores ou as causas que estão por detrás dos mesmos não são atribuíveis exclusivamente aos Estados ou facções africanas, mas encontram-se claramente inclusive para além das fronteiras do continente africano e dos seus interesses. Alguns conflitos são produto da geografia ou da história (escravidão e colonialismo) e datam de séculos atrás. Outros são resultado de má gestão política e económica durante décadas mais recentes, sendo que estes últimos estão hoje identificados como os principais obstáculos à paz e equilíbrio socio-económico nas contendas actuais.

Eu penso que é uma obrigação da Comunidade internacional, especialmente dos países mais ricos, de voltar a analisar os problemas e desequilíbrios económicos que continuam a afligir a África e de ajudar os africanos (sem recorrer apenas aos subsídios criadores de dependências!!) a resolver os seus conflitos regionais e nacionais. Quando as guerras e quezílias chegarem ao seu fim (esperemos...), a duração da paz dependerá também e grandemente da competência de cada governo assumir a administração dos seus próprios recursos naturais e de gerir o capital de cada país de um modo cristalino, em vista de favorecer todo o povo. Além disso, a comunidade internacional deveria aumentar a sua contribuição para os mecanismos que previnem a produção de produtos que fomentam a guerra em África.

Triste é que continuamos a olhar para os conflitos africanos como inevitáveis e impossíveis de resolver... É o mesmo argumento de sempre mas é o único em que acredito: para lá de todas as diferenças culturais e religiosas e dificuldades históricas, é nossa obrigação como seres humanos antes de mais, intervir com abnegação e inteligência.

Bjo**

Simplicitas disse...

O que realmente me irrita é a maneira como muitas vezes se expiam certas culpas... género... enviar a Catarina Furtado vestidinha de Sacoor com a RTP toda atrás... ”Deixe-se emocionar com “Príncipes do Nada”... Estreia este domingo na RTP!”. Será deste tipo de informação que precisamos? Andar por aí a puxar a lagrimazinha fácil... e 30 minutos depois, quando começa o programa do Malato, já está o Mundo salvo, né?
... pronto, implicância minha...
Fora o desabafo, existe o dever da nossa parte na eliminação da pobreza, na criação de um espírito de autogestão responsável, na fundação da paz... mas com o máximo de seriedade. Como dizes, é nossa de obrigação como seres humanos mudar o que está errado... e não simplesmente andar a carpir de forma gratuita as desgraças do Mundo, quando calha não dar a novela...

Bjo, continua a aproveitar ao máx!