terça-feira, 18 de abril de 2006

O que a democracia permite...


”Paulo Portas, ex-director do Independente, deputado do CDS e director espiritual da «banda» parlamentar do seu partido, produziu esta tarde, a propósito da comemoração da Constituição da República, a seguinte afirmação: «A Constituição de 1976 é um erro histórico: atrasou economicamente o país, equivocou-o socialmente e excluiu-o da realidade contemporânea».
Não se pode exigir a Paulo Portas o discernimento que lhe faltou no entusiasmo com que apoiou a invasão do Iraque; a sensatez que não teve ao atribuir à senhora de Fátima a decisão de afastar de Portugal a maré negra do naufrágio do Préstige; o sentido de Estado que teria evitado encomendar dois submarinos (um para subir, outro para descer) quando as condições financeiras do País se tinham deteriorado e a própria Nato os considerou dispensáveis; a lucidez de não confundir a condição de ministro da Defesa com a de parente da Irmã Lúcia a cuja missa de familiares assistiu.
Paulo Portas não é um epifenómeno da nostalgia salazarista, é um demagogo inteligente, um reaccionário perigoso e um poço de ambição política.
As razões antigas do nosso atraso estão bem diagnosticadas nas «Causas da Decadência dos Povos Peninsulares», de Antero de Quental, e as recentes, numa ditadura de meio século, na guerra colonial, no ensino reduzido para 3 anos de escolaridade para as meninas e 4 para os meninos, no analfabetismo, na mortalidade infantil e na emigração que o Salazarismo provocou.
Para Portas, talvez a Constituição autoritária de 1933 tivesse colocado Portugal na vanguarda dos mais civilizados países da Europa, mas foi o contrário que sempre aconteceu. Portas não tem o carisma de Le Pen, nem a fortuna de Berlusconi. Portas nasceu numa época diferente de Hitler, Mussolini, Salazar, Franco e Pétain. Portas só pode resignar-se a ser o mordomo empertigado de um qualquer líder do PSD.
É este o drama de quem tem um passado suspeito, um presente penoso e um futuro pouco promissor.
Portas é um erro histórico, um erro de casting num país europeu e democrático.”

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