Há algo que se corrompe inelutavelmente no caminho entre o ser-se fiel a princípios e o ser-se fiel a ideais. A firmeza de ideais pode ser uma forma vistosa de camuflar a falta de substância intelectual. Assim o é frequentemente na política. Apesar de todo o histórico convénio tácito e rico em virtudes que envolve a expressão, ter firmeza de ideais é muitas vezes reconhecer uma asneira mas permanecer nela. Na condição, todavia, de nunca reconhecer a asneira publicamente. Ninguém exalta a firmeza de ideais de alguém, se nada põe em causa as doutrinas que defende. Não se diz de ninguém que tem firmeza de ideais, se toda a vida afirmar que a terra é redonda. Só há firmeza de ideais, se uma doutrina se mostrou errónea e se persiste nela (como o benfica). A firmeza de ideais (não a de princípios) é portanto um acto de orgulho (ou de pedantismo, ou de estupidez ou de ridículo, consoante o tamanho do valor que é posto em causa). Mas o ser-se sério (e inteligente) é de outro calibre. Ser-se sério na política é antes de mais, o ser-se disponível.
E todo este longo raciocínio defeituoso e grosseiro porque o primeiro-ministro denunciou hoje no debate parlamentar o PEV como um apêndice camaleão do partido comunista em resposta a uma acusação de Heloísa Apolónia de falta de seriedade. A resposta da líder parlamentar foi a esperada (a mesma dos últimos 30 anos), “Falta de seriedade é prometer governar à esquerda e depois direita, direita, direita...” E nesta velha cortina anacrónica politiqueira e catequista se esbate a discussão política em Portugal desde o 25 de abril. "Esquerda"-"Direita"-"Esquerda"-"Direita"-"Esquerda"-"Direita"...sempre o mesmo discurso maníaco e quadrado! Como não perceber que não há somente uma forquilha para a esquerda e a direita? Raio de tísicos ideólogos vaidosos mais a prosápia pueril e os dividendos morais da coisa! Como não perceber que as questiúnculas algébricas sobre a posição precisa e milimétrica da ideologia são tudo menos essenciais? Há nuances e tendências e deflexões e inflexões “ideológicas”, cujas poucas fronteiras se diluem cada vez mais como o próprio mundo. Perder tempo com isto é que é ser-se pouco sério. Sejamos competentes antes de mais, pode ser? O resto são reminiscências retóricas e decorativas de um mundo há muito prescrito.
Led
E todo este longo raciocínio defeituoso e grosseiro porque o primeiro-ministro denunciou hoje no debate parlamentar o PEV como um apêndice camaleão do partido comunista em resposta a uma acusação de Heloísa Apolónia de falta de seriedade. A resposta da líder parlamentar foi a esperada (a mesma dos últimos 30 anos), “Falta de seriedade é prometer governar à esquerda e depois direita, direita, direita...” E nesta velha cortina anacrónica politiqueira e catequista se esbate a discussão política em Portugal desde o 25 de abril. "Esquerda"-"Direita"-"Esquerda"-"Direita"-"Esquerda"-"Direita"...sempre o mesmo discurso maníaco e quadrado! Como não perceber que não há somente uma forquilha para a esquerda e a direita? Raio de tísicos ideólogos vaidosos mais a prosápia pueril e os dividendos morais da coisa! Como não perceber que as questiúnculas algébricas sobre a posição precisa e milimétrica da ideologia são tudo menos essenciais? Há nuances e tendências e deflexões e inflexões “ideológicas”, cujas poucas fronteiras se diluem cada vez mais como o próprio mundo. Perder tempo com isto é que é ser-se pouco sério. Sejamos competentes antes de mais, pode ser? O resto são reminiscências retóricas e decorativas de um mundo há muito prescrito.
Led
2 comentários:
Cambada de gatunos, de ladrões e de chupistas!
E de idiotas vaidosos.
Estava muito nevoeiro ontem na madeira, não estava Soeiro? Aquela claque feminina e endiabrada do nacional sempre com a mania dos fogos...
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