Ainda não tive férias. Com isto não quero dizer que o rendimento foi o habitual (já de si bastante humilde) porque estaria a mentir descaradamente. Mas enfim, não me queixo, fui trabalhando. Inevitável agora que o mês está no fim a estranha impressão que fiquei atravancado num qualquer estágio do desenvolvimento biológico anual, atrasado em relação aos colegas que chegam agora frescos, espadaúdos e bronzeados da praia, o destino natural do português neste mês. Olhamo-nos surpreendidos, eu branco e baço como sempre, eles fortes e niquelados pelo sol, estranhamo-nos com uma curiosidade antropológica. Como as noites sem dormir, para sempre irrecuperáveis. Ou como certos amigos que, por qualquer infortúnio da vida, ficaram detidos no ensino secundário e os vemos por vezes a vaguear desalentados pela rua. Reconhecemo-nos mas a distância imposta pelo tempo é maior que tudo o resto e evitamo-nos com nuances a desprezo de castas. Fiquei por aqui isolado mais uma vez neste mês e sinto que desaproveitei algo só desvelado a um conluio iluminado. O sol não é para todos, poderia acrescentar com humor duvidoso. Desacertaste com a vida porque a não soubeste viver, diz-se com frequência e adianta-se às vezes como se deveria ter vivido e frequentemente vem seguido do novo catecismo pós-moderno do optimismo paternalista e escorreito, do carpe diem beato e da felicidade que tem de ser para todos. Não consigo achar nisto justiça ou sentido algum. Vivemos a vida com o prazer e a felicidade relativa que podemos nas hipóteses contigentes a esse viver. Lamento francamente é as hipóteses.
i
Led
3 comentários:
Caga nessas merdas, ó Matos! Não foste não foste. Ficaste aí, pronto. As hipóteses afiguravam-se mesmo de aproveitar ou era naquela?
Caga. Talvez tenhas ganho mais um ano de vida ao cancro da pele.
Abraço
brilhante.
um abraço.
yaybuba (juro)
Bora lá à praia neste Domingo? Eu levo um bacalhauzito com coubes e tu um garrafaozito de tinto. Arranjaremos uma barraca para eu estar à sombrinha enquanto tu te esticas ao sol.. Vamos de manhazinha para aproveitar o dia e daremos um passeinho à beira mar. Ficaremos até o sol desaparecer. No fim do dia estarás vermelhusco do sol, mas feliz, embora um pouco indisposto com o excesso de azeite que usaste para regar o bacalhau.
Beijitos.
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