A “vida malvada” dos últimos dias trouxe-me de volta a um caminho musical inesperado. Regressei (espero que por breves momentos) à bizarria de uma fragmento da adolescência ao reciclar a discografia do Brian Warner (aka, Marilyn Manson). Desde o nojo visual e caótico do “Portrait of an American Family” (1994) até ao nojo opulento do sexto e último álbum “Eat Me, Drink Me“ (2007) ”. A verdade verdadeira é que, diga-se o que se quiser do ser vivo em questão, Marilyn Manson conseguiu sempre manter acesas as luzes da ribalta e da polémica. Com mais teatro ou encenação, com deuses humanos, insectos, minhocas, mecânicos ou anjos da destruição, com mais actrizes porno ou modelos fetiche, ou reverendos satânicos e colecções nazis, toda a miscelânea informe da sua vida pública será para sempre indissociável da sua concepção de movimento artístico a que designou em certa altura de “idade de ouro do grotesco” : the more you hate him, the more he loves you”. Por mim, fico-lhe meramente grato pela contribuição musical que foi o disco mais conceptual e marcante da sua carreira, “Antichrist Superstar” (1996). Com a produção do próprio e de Trent Reznor, a qualidade dos temas (aqui manifestamente marcados pelo metal industrial mais gótico) é francamente assombroso. Inspirado em Nietzche, o disco conta a história em 3 capítulos/ciclos de uma pessoa inerte e abusada (“The Worm”) que se vai transformando (metamorfoseando, para usar os conceitos do disco) numa celebridade influente e finalmente se converte no poderoso “desintegrator” (o tal de “anjo” ou “anticristo”) que acaba por ser condenado à morte pela sua comuna numa cerimónia de apedrejamento público (“The man/monster that you fear”).
Esta é apenas uma das muitas interpretações do disco, deliberadamente vago, para suscitar polémica e embaraço na comunidade (ainda me lembro de em 1998 membros da opus dei terem pago bilhete no atlântico para poderem protestar contra a presença da figura em terras lusas....bons tempos...quando ainda havia coisas que chocavam...). De qualquer modo, controvérsias à parte, este parece-me ser o disco mais coeso e melhor produzido pela banda até à data. Aqui fica portanto uma lembrança desses tempos com o tema mais representativo e violento do disco no pleno apogeu do desintegrador. Prometo regressar ao conforto colorido do indie um dias destes...
Marilyn Manson - The Reflecting God
Led
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