sábado, 30 de agosto de 2008

Do desperdício

Há pessoas que não suportam a ideia de amizade por verem nelas apenas uma submissão ao de quem são amigos ou por uma ideia que a amizade as desconsidera da sua posição elevada de controle. E a forma de lutarem contra tal ressentimento e submissão é traírem a confiança do outro de modo a consolarem o ego abatido e saírem fortalecidos e impolutos da situação. Incapazes de assumirem fraquezas e defeitos neste mundo de gente forte e perfeita, ambiciosos de haver neles só motivo de elogio, qualquer desatenção pelo seu papel capital no seu enredo solitário parece monstruoso à sua ambição e vaidade e daí o serem implacáveis com essas fraquezas e obrigatoriamente, para com os outros. Mas a esperteza é uma falsa inteligência, uma inteligência a meia dose, sendo a outra meia preenchida pela astúcia, a fraude ou a artimanha elaborada. Há pessoas em quem a deslealdade é assim a forma inata de afirmarem uma emancipação e desprendimento que nunca tiveram.
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Os outros, por vezes. Que desperdício de consideração. Não lhes abras a porta. E esquece, esquece. Seguros da sua importância e virtude, da propriedade de si e do mundo. A narrativa do homem foi sempre a narrativa da sua importância em face de si e dos outros. O resto são meios expeditos de isso se cumprir. Os outros, por vezes. Têm o seu emaranhado de intrigas, manhas, glórias fúteis, espelhos partidos, veneno. Esquece, esquece. Está sol, foguetes ao longe e os pássaros cantam electrizados e isso basta para acenares à alegria genesíaca, ao eflúvio indizível de seres. Que um sorriso de pacificação banhe a tua alma. E tudo estará bem.
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