terça-feira, 19 de junho de 2007

Claustrofóbica oposição do claustrofobismo

Desde há uns tempos para cá se tem vindo instaurar na opinião pública a ideia de que a liberdade de expressão está sendo posta em causa por este governo ou ainda, como recentemente Rui Moreira se referiu na entrevista concedida à RR, de um clima generalizado de opressão e “claustrofobia democrática.” Os sindicatos gritam em greve pela direito indissolúvel à greve, o professor Fernando Charrua consegue captar a generalidade dos meios de comunicação social e até do Presidente da República ao queixar-se de falta de liberdade de expressão e da candura dos seus comentários jocosos (maneira aprazível de se referir às origens maternas do primeiro ministro) em relação ao patrão que lhe paga e lhe merece reverência. Na televisão, feirantes apanhados a vender contrafacções gritam contra a proibição da liberdade de vender falsificações. Todos os dias, a direita partidária apregoa que o intervencionismo do Estado asfixia a liberdade individual (até o PCP, vergo-me à ironia) e que a subida de sondagens para o PS e o seu líder é apenas sinónimo do célebre gosto cultural do português ignorante pelo autoritarismo. Os donos das universidades encerradas concluem que o vergonhoso desenlace só pode ser uma violação da liberdade de ensino. A recém instaurada e agressiva linha editorial do jornal Público (pelas mãos de um irreconhecível José Manuel Fernandes) todos os dias propagandeia a ideia de asfixia e condicionamento pelo estado na opinião pública.(Mas aqui estranhamente já ninguém pergunta se a falha do processo de aquisição da PT pela Sonae tem alguma coisa a ver com a súbita mudança de alinhamento ideológico do jornal). Lendo alguns comentadores mais entusiasmados pela escalada emocional generalizada, verifico que até já analogias ao que se passa na Venezuela e mesmo referências ao estado novo fazem parte deste novo dialecto oposicionista. Depois do governo ter cedido a um hiato com o objectivo de realizar mais estudos sobre o futuro aeroporto internacional, eis que, surpreendentemente, verifica-se o efeito oposto, a generalidade dos comentadores verga-se à tese de manipulação obscura do estudo realizado pelo CIP e todo um processo de debate que teoricamente deveria apaziguar a malta que aponta o dedo à obstinação autoritária do governo, rapidamente inquinado. Meus caros, tenhamos calma! Terem liberdade para exaustivamente se queixarem de falta de liberdade de expressão é exactamente um exemplo de quê?

Led

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