sábado, 6 de outubro de 2007

Destroços

Estamos mesmo no grau zero da civilização. Será que não há nada mais visível para além de nós próprios? Tudo é certo explicável mensurável plausível banalizável experimentável consumível. É o vazio irrespirável e nele temos de respirar. É o ruído lancinante e nele temos de nos escutar. Nenhuma causa se pode hoje inventar para se morrer por ela. Todos os mitos se dissiparam e nada em nós hoje pode segregar um novo. Tudo se nos intromete na alma para relacionamento com o exterior e nada mais. A obscenidade moral em directo na tv 24 horas por dia. Moral, família, crença, política, ideais de qualquer espécie – tudo alegremente para o caixote. Todas as diferenças planificadas a rasoiro, tudo se é em colectivo aperfeiçoado asséptico consolidado até aos limites como as unidades fabris. Desconstruir, desmistificar, dissolver, negar, animalizar. São as palavras actuais de tudo na vida. Nada vale nada porque tudo vale tudo. Desta degradação geral dos valores não surpreende portanto o apelo paralelo e inútil da metafísica das crendices. Ou os suicídios colectivos de certas seitas e fundamentalistas muçulmanos. Porque é o preço da utopia que garante o seu valor. Tudo hoje se cumpre portanto na agressão ideológica, mas a ideologia já não diz nada e só ficou apenas a agressão como ímpeto. Como criar novos valores no meio deste vendaval pragmático e excessivo de informação que tudo devassou? Como ignorar ainda a inquietante sensação de deriva geral? Porque nos limitamos a entreter com as questões da política, do amor, do ciúme, da traição, das minhoquices e merdilhices de questiúnculas de atrasados mentais? Como sair dos espectro de paralisia geral? Como omitir que é belo o sol e estúpido o vento e estamos para sempre sós e gratuitamente vivos e não somos eternos? Como nos pensar para daqui a um milhão de anos quando já estivermos extintos?
Noite densa. Silêncio na terra. Esquecer e adormecer. Amanhã é um novo dia....
Tanto me faz.
Led

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