segunda-feira, 14 de maio de 2007

Eduardo Lourenço


Ontem, na revista Pública - a saborosa entrevista ao melhor ensaísta, pensador e critico literário e político português dos últimos 50 anos:


Eduardo Lourenço fala das suas origens beirãs; dos tempos de estudante em Coimbra ; da geração de 70 e das suas referências literárias e políticas; da ruptura anunciada e do ostracismo a que o remeteu o PCP após escrita de “Heterodoxia”; do exílio em França; da URSS e da queda do Muro; do Maio de 68; da Guerra Fria; da diabolização em abstracto de Salazar com a urgência de Abril; da nostalgia do catolicismo; de Pessoa, etc,etc...

Enfim...imprescindível para os admiradores!

"(...) O paradoxo é que estar em toda a parte e não estar em nenhuma, é também uma forma de solidão. E, talvez como forma de nos defendermos dessa dispersão, dessa ubiquidade, em vez de sairmos e voltarmos a casa, como fez a geração de 70, agora queremos é mesmo estar numa Tormes permanente, com a televisão a fornecer-nos as vistas. Eu não a ponho em causa. À noite, quando não tenho mais que fazer, vejo muita televisão. Sobretudo noticiários, mas também o canal ARTE, que tem coisas que os outros não têm. A televisão pode oferecer momentos muito interessantes. Pode ter-se ali, com agrado, uma espécie de cultura de bolso. Mas uniformiza os conhecimentos e os comportamentos de uma país- os bons e os maus – a todos os níveis.


(...) Mas a nossa tendência é a vivermos guetizados. Agora estamos todos, seja aqui ou na Patagónia, a ver o mesmo ecrã. É como o cosmonauta que viu a terra de fora pela primeira vez. Só que agora a vemos na televisão ou na Internet. No entanto, a verdade mais profunda é que a televisão serviu, sobretudo, para aproximar internamente o país. Vila Real e Bragança estão em Lisboa e vice-versa. O país está mais compacto. Mas, ao mesmo tempo, há uma auto-guetização. Veja um acontecimento como o das qualificações académicas do primeiro-ministro, sem dimensão, sem interesse, nem dentro nem fora de fronteiras, mas que pode ocupar o país um mês inteiro. Isto numa altura em que se estão a passar no mundo coisas que interessam aos destinos da humanidade. A televisão tem esta capacidade de estar em toda a parte, mas é um espelho que também nos pode reduzir à dimensão de um quarto de dormir. Estamos todos na mesma casa-de-banho. Continuamos na mesma ilha, agora com vistas para o mundo inteiro, mas que são só vistas. O que nos interessa mesmo é que se passa cá em casa. Mais uma vez, o Eça ilustrou isto : “O que nos interessa é o pé da Luisinha” (...)"


Led

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