quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Goodnight...


Led

"Eu posso lá morrer, terra florida"

Ainda que só em escassas suspensões nos demos conta...a vida é tão extraordinariamente bela que a inexorabilidade da morte nos é intransponível à imaginação. E então estacamos aí. Há todavia que reconhecer a inclemência da natureza. E resignarmo-nos. E aceitar. Como eu não. E ainda assim…levar comigo para sempre este sol como um cântico que acende lá fora o céu fulgente de azul que rememora em mim um arejamento de mar, levar a neve da minha memória provinciana e infantil, ouvir para todo o sempre o rumorejo glacial de um ribeiro incerto da mocidade. E observo em mim a eternidade que não tenho, na intensidade vertiginosa deste instante fugidio. Céu cerúleo e espairecido de Janeiro que escolta em si um rumor marinho. Como me apetecia cravar em ti a volição mareante de não mais retornar...

Led

O abominável aparelho desmistificador contemporâneo

Dessacralizar o mistério, violar até ao limite o último reduto de evasão, devassá-lo, prostitui-lo com justificações, instalar-se no seu domínio com pieguices de jactância seca - e o resultado é a ininteligibilidade e o vazio enfatuado, porque o sagrado não é para entender e morre com tal entendimento. O sagrado é intocável.

Led

Raposo Manhoso

O cinismo raso. A fórmula protocolar de ressaibo entre pessoas polidas e civilizadas. Mesmo que não sejam próximas.

Led

Metafísica grossa

Tanto se pode amar a transcendência e ser-se agnóstico como ser-se religioso, sem transcendência nenhuma. Tal como se pode engordar sem apetite nenhum do que se come.

Led

domingo, 24 de janeiro de 2010

10 canções para o fim-de-semana

Zwan - Honestly
The Envy Corps - The Dissenter
Laura Veirs - July Flame
Marcelo Camelo - Téo e a Gaivota
Iron & Wine - Bird Stealing Bread
Radiohead - Thinking About You
Scott Matthews - Earth To Calm
Molina & Johnson - Each Star Marks A Day
Pearl Jam - Man Of The Hour (Live Acoustic)
Silverchair - Those Thieving Birds - Strange Behaviour

P.S. Caso alguma canção ofereça problemas na audição através do leitor do blog (ex. lentidão, intermitência) : " salvar como" ou "abrir numa nova janela".

And use your headphones!

Led

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A Estrada


“a escrita totalmente cinematográfica de cormac, tanto nas descrições como nos diálogos, faz fazer um filme a partir de um livro seu aparentemente fácil. no country for old men foi um bom filme e a estrada também é. mas para quem leu os livros são uma espécie de ilustração -- nada está à altura.

no caso da estrada, 20 valores para viggo mortensen e para a cor e o ambiente e a forma como a acção se desenrola, em permanente perplexidade, resignação e tenacidade (sim, resignação e tenacidade, é possível -- chama-se estoicismo). mas a coisa que mais retenho é o facto de, à excepção de viggo, imediatamente identificável apesar da magreza, alguns actores estarem tão irreconhecíveis que levei minutos a ver robert duvall (na verdade, a suspeitar que era ele -- só tive a certeza no genérico) e guy pearce passou-me completamente ao lado. num mundo em que o que está em causa é conseguir manter alguma coisa de familiar, de comunidade (que é o mesmo que dizer de amor), é justo que tenhamos de fazer um esforço para reconhecer o que conhecemos. que corramos o risco de nos enganarmos completamente -- para um lado ou para outro. não muito diferente afinal esta estrada da nossa: tudo depende de sermos capazes de continuar a ser the good guys e de conseguirmos perceber quem o é. e sobreviver aos enganos.”

Aprovado e via Jugular

Led

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

The Midnight Organ Fight

Aproveito para o reforçar já que sairá novo disco do quarteto de Selkirk no próximo mês de Março. Dado o arrebatamento desta última semana começo a suspeitar que os Frightened Rabbit vão ser os meus We Were Promised Jetpacks de 2010. Rock-folk catártico, letras viscerais e intimistas, pronúncia escocesa. Está tudo aqui. Absolutamente recomendado. Isto tudo e apenas para partilhar mais uma canção.

Frightned Rabbit - The Modern Leeper

Led

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Escabroso

Hoje dei de caras com o Vasco Graça Moura. Sozinhos, à porta da faculdade. Abri os olhos esgazeados de espanto e estampei um excessivo e tosco aceno de sobrancelha para a figura em questão. Respirei fundo. Suprimi a última imagem que tinha de uma crónica dele após as eleições legislativas, onde destilava todo um ódio e falta de civismo contra o vencedor e eleitores (e contra o mundo em geral). Coloquei de parte todo o desvario emocional e degradação revelados pelos últimos escritos opiniosos deste estafado supervivente do Cavaquismo. Mas não resisti ao impulso de pompa e expliquei-lhe que tinha recentemente lido o seu romance “Por detrás da Magnólia” e que tinha gostado muito. Ele arrastou um esboço de sorriso fastidioso. E perguntou-me onde era a casa de banho. E eu indiquei. E depois ali fiquei à porta. Bronco e idiota.

Led

Nada a acrescentar

Descer ao fundo de mim. Não ao lodo. Mais abaixo. Mas a sensibilidade indisponível. Um pasmo de bicho prostrado. Um poço vazio de empenho imaginativo. A mioleira seca de tanta transacção laboral. Deveria ter aprendido a lição há 2 anos, ou mesmo há 1. Quem me dera a alma desocupada ou em graça para ainda me dar conta da maravilha das coisas. Da luz. Do mistério e do sagrado desta hora de entardecer. Sento-me assim ao sol do inverno do fim e aqui me deixo adormecer…

Led

Fuga para lado algum

O barulho desassossega-te os nervos. O silêncio é excessivo para funcionares as ideias. O melhor sítio de estares é na viagem incessante de um lugar para outro. Ou seja na fuga donde devesses poder estar.

Led

Palavras gastas

Senta-te ao meu lado e dá-me a tua mão. Entardece devagar, um cinzento ténue estende-se pelo céu. Não digas nada. Olha apenas. E ouve a toada que diz todo o impossível dizer. Vem nela o aceno vão do que será um dia a memória da eternidade deste instante. É uma balada longínqua, insinuada ao silêncio que nos cobre, como uma saudação de fim de tarde. Estou tão cansado. Senta-te agora ao meu lado e dá-me a tua mão. É frágil como a ternura. E violenta como a ameaça de um choro. Senta-te e olha e sê o absoluto da tua graça irreal no absoluto da minha imaginação.

Led

Virilha

É bom não se terem obrigações culturais, não ter de se ler senão aquilo de que se gosta (ou não ler de todo), não ter de construir uma obrigação com esforço e empenho. Porque hoje tudo deve ser sujeito ao exclusivo domínio da didáctica do prazer. Perguntarem-nos se já lemos este ou aquele livro e dizermos que não – e não passarmos por incultos, mas por quem pode ignorar, e fingirmos por acreditar que isso não é ser ignorante. E ainda ter brio nisso.

Led

Lobo

O que escreve com clareza tem muitos leitores e alguns comentadores. O que escreve obscuramente tem pouquíssimos leitores e uma legião sevandija de comentadores. (espero que ninguém comente isto.)

Led

The Gambler

Perdeu tudo o que conseguiu ao longo da vida por tê-lo conseguido ao longo da vida. Era um jogador.

Led

Profile

Outrora dizia-se que certas pessoas eram mais agradáveis e interessantes quando embriagadas (eu ouvia frequentemente as mulheres dizerem-me isso…ainda ouço). No mundo digital da informação em rede e da sociabilidade coagida e instantânea transmutou-se a conceito para a plataforma Facebook (mais um progresso civilizacional, como agora se diz de quase tudo o que vem da internet). Somos todos infinitamente mais interessantes no Facebook.

Led

Há homens

em que o orgulho pesa arrobas. Densas camadas de soberba ocupando todo o espaço de disponibilidade ao reconhecimento de terceiros. O elogio é assim visto por estes como uma sujeição vexatória ao de quem secretamente admiram. Mas é uma admiração velada direccionada, normalmente restrita a um pequeno grupo de interesses comuns. E o modo de ombrearem tal submissão intolerável adquire por vezes nuances de desconsideração mal disfarçada. Mal disfarçada com o propósito do rebaixamento ser mais perceptível e depreciativo mas com o resguardo frouxo da conjecturada distracção. Há pessoas em que o desdém é assim a forma inata de reclamarem uma estatura que não têm. Conseguem facilmente reconhecer o valor de outro desde este lhes esteja “longe”. Um ente subjectivado, virtual na esfera de disputa sempre personalista. Porque o que interessará sempre é a importância exclusiva da nossa pessoa no grupo restrito em que nos movemos. Difícil para os orgulhosos descer do pedestal refulgente do protagonismo. Há homens em que o alcance da sua pretensão é directamente proporcional à pequenez do seu carácter.

Led

Caceteiros sem piada

Os João Miguéis Tavares e a nova vaga de mancebos jornalistas de uma figurada direita liberal que não se revê no espectro político. Ágeis, descomplexados, anglo-saxónicos, sem papas na língua. Mas depois sempre o mesmo caldo de vanglória e auto-satisfação. A típica irresponsabilidade de cabotino audacioso. O mesmo registo juvenil e ressabiado de quem tenta a fina ironia e fica encrespado numa grossa anedota, apenas para dar nas vistas e brincar aos machos Alfa do cronismo político. Assim em farófia, paranóia, pesporrência, esperteza de vivaço que vive em chulice da estupidez da parolice alheia - bestiais. Quanto a inteligência, talento, originalidade, carácter, saber, ter um mínimo de ideias coerentes sobre o que se passa hoje - são ainda bestiais, mas sem sufixo.

Led

domingo, 17 de janeiro de 2010

12 canções para o fim-de-semana (este ou outro)

Radiohead - Fog
Air - All I Need
Portishead - Chase the Tear
Télépopmusik - Ghost Girl
Monsters of Folk - Say Please
Airship - Kids
Goodtime John - Dark Slipped Its Cloak
Wilco & Fleet Foxes - I Shall Be Released (BD live cover)
Cat Power - Silver Stallion (Lee Clayton cover)
Placebo - Happy You're Gone
Bon Iver & St. Vincent - Roslyn
Frightened Rabbit - Good Arms VS Bad Arms


P.S. Caso alguma canção ofereça problemas na audição através do leitor do blog (ex. lentidão, intermitência) : " salvar como" ou "abrir numa nova janela".

And use your headphones!

Led

Gosto. Muito.


Led