“A vida dos jovens, nos EUA, mudou imenso. O contexto da música também – a forma como se relacionam e a importância que lhe atribuem modificou-se. Em parte, pela tecnologia. Para a minha geração – talvez até aos anos 1980 – a música era das poucas coisas que tínhamos em comum. Intensificava o sentimento de pertença. Agora a música está integrada no quotidiano, ao lado dos computadores, internet, telemóveis. A forma como a música atribui identidade mudou. Não é menos ou mais intenso, mas o contexto é outro. Nos anos 1970, os gosto musicais definiam que éramos e quem queríamos ser. Hoje, os jovens são mais abertos, mais eclécticos, menos cínicos – ou mais cínicos porque a minha geração acreditava na “autenticidade” e eles estão-se nas tintas. Acreditávamos que ser jovem era bom e a música era uma forma de o celebrarmos. Não creio que hoje pensem assim.
(...)
Crescemos com esta ideia que tínhamos que parecer, agir e vestir, como se tivéssemos sempre 20 anos. Não sei se é mau, nem acho que seja recusa de crescer, mas realmente isso cria um problema para os jovens que são, realmente jovens. De repente, toda a gente é jovem. Quer dizer, com nuances, consumo a mesma música que os meus filhos. A partir dos anos 80 a noção do que era ser “jovem” já nada tinha a ver com um corpo. Tinha um significado cultural e político. Estava em ligação com a ausência de futuro e percebi isso quando os adolescentes começaram a falar-me do seu ressentimento por serem adolescentes. Sentiam que tinham sido abandonados, porque à sua volta percebiam que já ninguém se sentia responsável pelo seu futuro.
(...)
A partir do meio do século XX, quando a “cultura jovem” se impôs, a juventude começou a ser vista como símbolo dos valores americanos. Incorporavam o sonho americano. O futuro ia ser dourado e os jovens tinham que ser moldados para que lhes fosse permitido representar essa ideia de futuro. Mas isso mudou, porque a noção de futuro também mudou. Hoje não há uma guerra contra os jovens, mas há uma guerra acentuada de discursos apocalípticos e, os jovens, que representam o futuro, sofrem as consequências. Qualquer coisa que sempre demos como adquirido, como ter uma carreira ou uma pensão de velhice, é posto em causa. O problema é que se não acreditamos no futuro, não podemos ser responsáveis pelo que vai acontecer.”
(...)
Há um grande cinismo na América actual. Não há novas visões do que pode ser o futuro. Nos anos 60 não existia uma noção específica do que esse futuro podia ser, mas havia a ideia que existiam outros estilos de vida. (...) Agora não temos uma visão para oferecer de como o futuro pode ser. Estamos numa fase em que qualquer coisa está a desaparecer e existe outra que se prepara para nascer e ainda não conseguimos distinguir o que é.”
Excertos de uma excelente entrevista a Lawrence Grossberg hoje na P2
Led
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Crescemos com esta ideia que tínhamos que parecer, agir e vestir, como se tivéssemos sempre 20 anos. Não sei se é mau, nem acho que seja recusa de crescer, mas realmente isso cria um problema para os jovens que são, realmente jovens. De repente, toda a gente é jovem. Quer dizer, com nuances, consumo a mesma música que os meus filhos. A partir dos anos 80 a noção do que era ser “jovem” já nada tinha a ver com um corpo. Tinha um significado cultural e político. Estava em ligação com a ausência de futuro e percebi isso quando os adolescentes começaram a falar-me do seu ressentimento por serem adolescentes. Sentiam que tinham sido abandonados, porque à sua volta percebiam que já ninguém se sentia responsável pelo seu futuro.
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A partir do meio do século XX, quando a “cultura jovem” se impôs, a juventude começou a ser vista como símbolo dos valores americanos. Incorporavam o sonho americano. O futuro ia ser dourado e os jovens tinham que ser moldados para que lhes fosse permitido representar essa ideia de futuro. Mas isso mudou, porque a noção de futuro também mudou. Hoje não há uma guerra contra os jovens, mas há uma guerra acentuada de discursos apocalípticos e, os jovens, que representam o futuro, sofrem as consequências. Qualquer coisa que sempre demos como adquirido, como ter uma carreira ou uma pensão de velhice, é posto em causa. O problema é que se não acreditamos no futuro, não podemos ser responsáveis pelo que vai acontecer.”
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Há um grande cinismo na América actual. Não há novas visões do que pode ser o futuro. Nos anos 60 não existia uma noção específica do que esse futuro podia ser, mas havia a ideia que existiam outros estilos de vida. (...) Agora não temos uma visão para oferecer de como o futuro pode ser. Estamos numa fase em que qualquer coisa está a desaparecer e existe outra que se prepara para nascer e ainda não conseguimos distinguir o que é.”
Excertos de uma excelente entrevista a Lawrence Grossberg hoje na P2
Led
2 comentários:
falta uma grande CAUSA para serem jovens, para serem futuro.
Pois...Milhares de direcções, nenhuma com sentido.
Mas a subida do custo de vida vai ajudar a limar as ideias, para o bem ou para o mal.
Quanto a acreditar no futuro...deixemos isso para amanhã.
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