sábado, 3 de maio de 2008

“Arranquem o pavimento – e eis a praia”, 40 anos depois, deserta como sempre

O significado da convulsão juvenil do Maio de 68... Alguém fez a analogia de uma revolta social e cultural contra o “Pai”. Pretendeu-se que os jovens se tinham fundamentalmente insurgido “contra” o "Pai". O "Pai" encarnava a opressão com os valores que impusera até então. Mas a essência do problema e o porquê do vago insucesso das manifestações (excluindo as francas vitórias pelos direitos da mulher) no longo prazo (expressa na esmagadora vitória do conservadorismo de De Gaulle) e do porquê dessa geração estar hoje confortavelmente aburguesada nos lugares de topo do público e privado é que esses mesmos filhos rebeldes estavam firmados numa ausência completa de outros valores que não fosse a negação dos anteriores. No geral pouco contrapuseram àquilo que recusavam, o que é que concretamente desejavam realizar e como é que o desejavam. A esta questão nunca souberam responder, ainda não sabem. Cohn-Bendit dizia, “ a anarquia é a ordem”, ou “é proibido proibir” (slogan que aliás se autodestrói pela contradição infinita), ou “a imaginação ao poder”, ou “ Definir o futuro? Porquê? Deixem-no aberto.” O único esquema para o futuro era portanto o da liberdade criadora. Simplesmente esta é a resposta de um poeta ou de um utópico adolescente e não a de um progressista revolucionário. Assim ela responde não ao que se questiona mas ao porque é que não se pode responder. O fundo do problema é de uma natureza moral. Se Deus e as ideologias estavam mortas, essa geração nada pôs em seu lugar. Consolou-se depressa, deslumbrada com o comodismo tecnológico, satisfeita nas invenções, máquinas e confortos conquistados. Mas a consolação é inferior para nós, filhos mimados dessa geração indomável e agora anestesiada, que achamos naturais os benefícios com os quais nos criámos. Que vamos arranjar para substituir o problema central?
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Led

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