quinta-feira, 29 de maio de 2008

Ramblin' Woman

Resumo do concerto de ontem:
Coliseu cheio. Plateia repleta de cadeiras.

Banda de abertura ("Appaloosa") – Muito mau. Ficou por perceber se por detrás daquele manto desafinado de embriaguez e dopagem hippie da vocalista alguma coisa sobrava a que se possa apelidar de música...

Cat Power – Outro universo. 2 horas e meia de redenção - blues, rock, jazz, gospel (ou quase, no tema em espanhol “Angelitos Negros”), os espectros de Billy Holiday, Hank Williams, Joni Mitchell (da qual repetiu o nome várias vezes) e sobretudo uma Chan Marshall (a “nova”) impecável, esquiva e felina como sempre mas equilibrada e graciosa, uma banda extraordinária que a amparou do início ao fim (sobretudo Jim White na bateria, dos australianos “Dirty Three”), muitas piruetas e sapateados (com os mesmos sapatos brancos de biqueira quadrada e de estética duvidosa de confecção lusitana que usou há 2 anos no concerto da Aula Magna), muitas vénias, continências e “obrigadas”, a habitual oferta de flores ao público na plateia, 2 pedidos de desculpa pela “velha” volátil Cat ( “moody”, como disse ela), felizmente omissa durante toda a noite através de um exercício de autocontrole surpreendente (quem a viu e quem a vê...), muito “Jukebox” (algo como 15 canções?), algum “The Greatest” (5 canções), pouco “Moon Pix” (1 canção – “Metal Heart") e sobretudo...ahhhh....aquela voz quente, roufenha, doce, apaixonante, intensa, transcendente...
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Para quem assistiu (para os cínicos e religiosos da coisa), uma noite verdadeiramente maravilhosa.
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Momentos (+) da noite: “Don't Explain”, “Lord Help the Poor and Needy”, “Metal Heart”, “Ramblin' (Wo)man”, “Where Is My Love”, “The Greatest”, a deambulação de agradecimentos, beijos e abraços pela plateia.
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Momentos (-) da noite: Appaloosa, alguns problemas de som, o fim do concerto.
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Led

terça-feira, 27 de maio de 2008

Once upon a time in Dublin streets

Pondo de lado a espontaneidade e a simplicidade de um romance musical contemporâneo verdadeiramente arrebatador, não escondo que ver de novo estas ruas e paisagens tão cheias de recordações me absorveram completamente para o lugar misterioso da evocação. Tão cheio de simbolismos e cumplicidades. Imagens que se demoram ou desvanecem no meu tactear incerto para um outra coisa que se demora e as fixam e as revelam em consonância com a pura evocação. Ter um passado. Uma irrealidade difusa e comovente. E uma eternidade que lá more e em que possamos descansar...


Uma excelente crítica do Markl mesmo aqui.

Led

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Bamo lá, cambada!

Acabaram de perguntar ao Tony Carreira no jornal da noite da RTP1 (enquanto o Mister Scolari, no pano de fundo, prosseguia a sua habitual romaria de exibicionismo) se ele se sentia o Cristiano Ronaldo da música portuguesa...(???)

Indício claro de mais uma silly season fora de época que se aproxima.

E eu acéfalo e saloio assistindo do sofá a mais uma experiência do fácil mediatismo e de patriotismo rançoso televisivo. Já não chegava a “Praça da Alegria”, o “Só Visto”, o “Preço Certo em Euros” ou toda a restante programação da RTP internacional. Faltavam os telejornais afinarem pelo discurso do Portugal “unido nunca será vencido”, com os respectivos representantes canonizados a valentes heróis e ídolos da nação. Tudo embutido no mais honroso e lacrimejante sentido cívico (e cultural, como algum devoto mais arrojado deverá garantir). Perdoai-me o sacrilégio, Ó Senhor Do Bom Patriotismo! Como tudo isto me ultrapassa! Prometo usar cachecol enquanto durmo e colocar um retrato do Ronaldo e da querida e indispensável mana Ronalda na mesinha de cabeceira!
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E, subitamente, surge-me a foto desmaiada e vincada do Portugal centralista, provinciano, atrasado e bafiento da primeira metade do século XX. Da TV rural, dos pescadores a saírem para a faina num dia de borrasca enquanto as mulheres subservientes vão preparando a salmoura, do Eusébio e da Amália, dos moinhos de vento, dos campos de arroz e dos campanários em pôr do Sol, das peregrinações a Fátima, do fado da Mouraria, dos emigrantes e todos os restantes elementos simbólicos deste épico glorioso.
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Fecho os olhos e respiro fundo...venha então a algazarra folclórica!
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Led

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Esta imagem vale ouro


Ilustre professor de arqueologia. Especialista em oculto e...como é que ele dizia para não parecer mal? ”Obtainer of rare antiquities...”:)

Doutor Indiana Jones.

O “nosso” Indy.

Brevemente numa sala perto de mim.
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Led

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Once more, a cultura de e dos estilhaços


“A vida dos jovens, nos EUA, mudou imenso. O contexto da música também – a forma como se relacionam e a importância que lhe atribuem modificou-se. Em parte, pela tecnologia. Para a minha geração – talvez até aos anos 1980 – a música era das poucas coisas que tínhamos em comum. Intensificava o sentimento de pertença. Agora a música está integrada no quotidiano, ao lado dos computadores, internet, telemóveis. A forma como a música atribui identidade mudou. Não é menos ou mais intenso, mas o contexto é outro. Nos anos 1970, os gosto musicais definiam que éramos e quem queríamos ser. Hoje, os jovens são mais abertos, mais eclécticos, menos cínicos – ou mais cínicos porque a minha geração acreditava na “autenticidade” e eles estão-se nas tintas. Acreditávamos que ser jovem era bom e a música era uma forma de o celebrarmos. Não creio que hoje pensem assim.
(...)
Crescemos com esta ideia que tínhamos que parecer, agir e vestir, como se tivéssemos sempre 20 anos. Não sei se é mau, nem acho que seja recusa de crescer, mas realmente isso cria um problema para os jovens que são, realmente jovens. De repente, toda a gente é jovem. Quer dizer, com nuances, consumo a mesma música que os meus filhos. A partir dos anos 80 a noção do que era ser “jovem” já nada tinha a ver com um corpo. Tinha um significado cultural e político. Estava em ligação com a ausência de futuro e percebi isso quando os adolescentes começaram a falar-me do seu ressentimento por serem adolescentes. Sentiam que tinham sido abandonados, porque à sua volta percebiam que já ninguém se sentia responsável pelo seu futuro.
(...)
A partir do meio do século XX, quando a “cultura jovem” se impôs, a juventude começou a ser vista como símbolo dos valores americanos. Incorporavam o sonho americano. O futuro ia ser dourado e os jovens tinham que ser moldados para que lhes fosse permitido representar essa ideia de futuro. Mas isso mudou, porque a noção de futuro também mudou. Hoje não há uma guerra contra os jovens, mas há uma guerra acentuada de discursos apocalípticos e, os jovens, que representam o futuro, sofrem as consequências. Qualquer coisa que sempre demos como adquirido, como ter uma carreira ou uma pensão de velhice, é posto em causa. O problema é que se não acreditamos no futuro, não podemos ser responsáveis pelo que vai acontecer.”
(...)
Há um grande cinismo na América actual. Não há novas visões do que pode ser o futuro. Nos anos 60 não existia uma noção específica do que esse futuro podia ser, mas havia a ideia que existiam outros estilos de vida. (...) Agora não temos uma visão para oferecer de como o futuro pode ser. Estamos numa fase em que qualquer coisa está a desaparecer e existe outra que se prepara para nascer e ainda não conseguimos distinguir o que é.”

Excertos de uma excelente entrevista a Lawrence Grossberg hoje na P2

Led

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O Wally português

Não sou muito apologista de encher o blog com vídeos de humor e afins. De qualquer maneira, não consegui resistir a mais uma pérola recente do programa “Liga dos Últimos”. Impossível colher excertos...é toda ela uma intervenção deliciosa (os primeiros 3:20 minutos)!

Para quem ainda não conheça, apresento-vos Wally, o Minhoto Eborense Benfiquista e Comunista...

Led

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Apito final, finalmente

Hoje vai haver quase um país inteiro a festejar, os sinos da Sé já dobram aqui ao lado.

Mas não vou defender o indefensável, mesmo depois da obscena perseguição mediática em torno de Pinto da Costa onde a acusação já estava provada e a defesa dispensava-se, mesmo depois das mais diversas inconsistências de um testemunha inclassificável, mesmo com tantas lateralidades e pormenores do Apito respeitantes a outros clubes convenientemente esquecidas e todas as suspeitas concentradas em quem convinha para mostrar que a justiça afinal podia coincidir com as ambições de um povo. Não. Não vou vestir a capa da obstinação e fazer esse jogo cínico explicando a diferença que vai de tentativa de corrupção a corrupção consolidada (isto para os que queriam a pena perpétua para o Pinto da Costa nos calabouços tailandeses). Isso não chega para aliviar a carga da vergonha. Não me interessam essas particularidades jurídicas. Acho esta uma notícia péssima e surpreendente (porque sempre acreditei na inocência nestes casos específicos). Mas antes que saltem mais pormenores do assunto para a imprensa ou que ouça a reacção dos responsáveis do clube, assumo o inegável beliscão na imagem, crédito e bom nome do clube e fico até como uma estranha impressão de que os dirigentes deste não se defenderam como deviam preferindo com calculismo a penalização com os 6 pontos e a multa simbólica de 10 mil euros. Não era o lema “Quem não deve...”? Não consigo perceber...

Portanto não deve faltar muito para a concessão judicial ao clube das virtudes dos campeonatos perdidos nas últimas décadas para o FC Porto. Que haja pelo menos a secretaria para dar umas alegrias a este país mortiço.
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Led

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Fitter, happier and more productive

Fitter, happier, more productive, comfortable, not drinking too much, regular exercise at the gym (3 days a week), getting on better with your associate employee contemporaries, at ease, eating well (no more microwave dinners and saturated fats), a patient better driver, a safer car (baby smiling in back seat), sleeping well (no bad dreams), no paranoia, careful to all animals (never washing spiders down the plughole), keep in contact with old friends (enjoy a drink now and then), will frequently check credit at (moral) bank (hole in the wall), favors for favors, fond but not in love, charity standing orders, on Sundays ring road supermarket (no killing moths or putting boiling water on the ants), car wash (also on Sundays), no longer afraid of the dark or midday shadows, nothing so ridiculously teenage and desperate, nothing so childish - at a better pace, slower and more calculated, no chance of escape, now self-employed, concerned (but powerless), an empowered and informed member of society (pragmatism not idealism),will not cry in public, less chance of illness, tires that grip in the wet (shot of baby strapped in back seat), a good memory, still cries at a good film, still kisses with saliva, no longer empty and frantic like a cat tied to a stick, that's driven into frozen winter shit (the ability to laugh at weakness), calm, fitter, healthier and more productive, a pig in a cage on antibiotics.
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No alarms and no surprises (get me outta here)
Silent, silent.

Radiohead - No Surprises

Led

domingo, 4 de maio de 2008

Animal social

É assombroso como toda uma vida semeada de instrução académica, cívica e de ética se arrasa no espaço de tempo virtual que leva a beber 6 a 7 copos de tinto carrascão.

E assim com 3 linhas arrasei o último post.

Led

sábado, 3 de maio de 2008

“Arranquem o pavimento – e eis a praia”, 40 anos depois, deserta como sempre

O significado da convulsão juvenil do Maio de 68... Alguém fez a analogia de uma revolta social e cultural contra o “Pai”. Pretendeu-se que os jovens se tinham fundamentalmente insurgido “contra” o "Pai". O "Pai" encarnava a opressão com os valores que impusera até então. Mas a essência do problema e o porquê do vago insucesso das manifestações (excluindo as francas vitórias pelos direitos da mulher) no longo prazo (expressa na esmagadora vitória do conservadorismo de De Gaulle) e do porquê dessa geração estar hoje confortavelmente aburguesada nos lugares de topo do público e privado é que esses mesmos filhos rebeldes estavam firmados numa ausência completa de outros valores que não fosse a negação dos anteriores. No geral pouco contrapuseram àquilo que recusavam, o que é que concretamente desejavam realizar e como é que o desejavam. A esta questão nunca souberam responder, ainda não sabem. Cohn-Bendit dizia, “ a anarquia é a ordem”, ou “é proibido proibir” (slogan que aliás se autodestrói pela contradição infinita), ou “a imaginação ao poder”, ou “ Definir o futuro? Porquê? Deixem-no aberto.” O único esquema para o futuro era portanto o da liberdade criadora. Simplesmente esta é a resposta de um poeta ou de um utópico adolescente e não a de um progressista revolucionário. Assim ela responde não ao que se questiona mas ao porque é que não se pode responder. O fundo do problema é de uma natureza moral. Se Deus e as ideologias estavam mortas, essa geração nada pôs em seu lugar. Consolou-se depressa, deslumbrada com o comodismo tecnológico, satisfeita nas invenções, máquinas e confortos conquistados. Mas a consolação é inferior para nós, filhos mimados dessa geração indomável e agora anestesiada, que achamos naturais os benefícios com os quais nos criámos. Que vamos arranjar para substituir o problema central?
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Led