Com apenas dois dias de permeio entre a longa viagem que me trouxe de Boston até aquela que me levou de novo à ilha dos duendes verdes, da cremosa stout e dos arco-íris em céus pardacentos, dou conta da fugacidade das minhas férias quando me deparo com os acordes iniciais de Airbag…estou prestes a iniciar apenas o concerto mais aguardado do ano…
Sem querer entrar por uma análise muito detalhada dos 115 estonteantes minutos da música mais absorvente e alucinada que podem ser presenciados ao vivo, apenas uma constatação final : os Radiohead são, sem alguma dúvida, a banda rock (?) que produz o som mais refinado e envolvente desta complicada actualidade. Exímios na metamorfose de um espaço com 20 mil almas ruidosas para uma atmosfera de intimismo e de confidência das experiências sonoras e visuais mais vertiginosas, eclécticas e profundas que podem ser produzidas por 5 artistas num palco de espelhos partidos. A desmontagem, a decomposição do rock como género e público alvo. Mas também a desconstrução de uma sociedade ocidental doente em que o quotidiano, tomado pela tecnologia e padrões neuróticos de consumo e comportamento, é um completo desastre emocional. Tudo isso se respira ao vivo, os perigosos antagónicos: a energia e a depressão, a dor e o prazer, a melodia e o ruído, o vazio e a aparição.
Fazer música não é ficar aquém daquilo de que se ouve, mas transpor, em íntima vibração, o limiar do mistério que estremece no coração de tudo – de um ser humano a uma pedra. Não é justapor a minha comoção à música: é ser comovido nela, é descobrir nela a vibração misteriosa que me há-de envolver. Em que medida são inúmeras, não decerto as emoções, mas a forma de as despertar? Eu não o sei, mas eles certamente devem estar perto da fórmula.
Só mesmo vivido para acreditar.
Bandas de Suporte : Deerhoof (não vi) , Beck
A canção da noite: Climbing up the walls (simplesmente divinal)
O melhor do melhor da noite: Lucky, Like Spinning Plates, Nude, Idioteque, Paranoid Android, How To Disappear Completely ; a companhia...
A surpresa da noite : Creep a terminar (terá Tom Yorke ultrapassado o seus históricos demónios interiores em relação aos “hits”? Parece que sim.)
As novas: Videotape, Nude, All I Need, Bangers N’ Mash
A comédia da noite: A sátira protagonizada pelas marionetes de Beck
O pior da noite: As dores que me torciam o pescoço e as costas e a distância em relação ao palco
Setlist Completo
01 Airbag
02 2+2=5
03 The National Anthem
04 My Iron Lung
05 Morning Bell
06 Videotape Unicron
07 Nude (Big Ideas)
08 There There
09 The Gloaming
10 Paranoid Android
11 All I Need/Analyse
12 Pyramid Song
13 Climbing up the walls
14 How to Disappear Completely
15 Just
16 Lucky
17 Idioteque
Encore 1:
18 Like Spinning Plates
19 Bangers 'n Mash
20 Karma Police
21 Everything In Its Right Place
Encore2 /Pausa Breve:
22 Creep
Uma lembrança desta noite maravilhosa:
Videotape (live)
Led
7 comentários:
Como sempre, mas tambem como se fosse uma primeira vez eu fico de boca aberta com os teus escritos. Que estonteante que e' ter alguem a descodificar coisas impossiveis de explicar como o bater do coracao ou a adrenalina a correr nas veias quando se ouvem os primeiros acordes. Mas tu consegues amigo, tu consegues fazer exactamente isso com as tuas palavras. Fica aqui o meu orgulho de ser tua amiga, o previlegio de ter tido a tua companhia e as saudades... Fica bem que eu agora vou ficar a pensar em ti.
Certamente que a boa companhia cancelou os maus efeitos da distancia em relacao ao palco, nao e?
- un membro da companhia ;-)
Xii...thanx!
Uma boa companhia pode fazer milagres!;)
Quem me dera regressar já...agora!
Bjinhos!
led, existem varias tulipas negras. So para que saibas...
U lucky one!**
I fancy Tulips!;)
It’s not a question of being lucky but one of commitment!
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