Eu sei que altos interesses nacionais e ditos «patrióticos» recomendam que se calem agora todas as críticas às escolhas de Scolari e à própria selecção. Aliás, esta velha retórica parece ser extensível a tudo o resto, para além do futebol: ainda há pouco tempo li que no congresso do PSD, o líder Marques Mendes ensaiou o discurso de «quem não está por nós, está contra Portugal».
Peço portanto desculpa aos mais susceptíveis ao “primitivismo futebolístico” mas tive que voltar a esta discussão para tentar responder a alguns emails que fui recebendo durante os últimos dias (uns apoiando, outros menos) e aos comentários gracejos (que tentavam ser irónicos) de algumas almas “blogosféricas” que prontamente que nem soldados da moralidade foram acusando os críticos de Scolari de serem “ressabiados”, “facciosos”, “destabilizadores” e “anti-patriotas”. Mais uma prova de que a típica irracionalidade populista cega que antecede e se desenvolve em competições desta envergadura quando o nosso país está incluído começa lentamente a ressurgir.
A onda histérica de patriotismo que vai invadindo aos poucos o país até ao absurdo mais disparatado exige que todos calem as suas críticas, sob pena de, como noutros tempos ainda próximos, serem tidos por maus patriotas. Eu estou longe, mas já o sinto no ar a sua ameaça. Passámos da máxima de «a Pátria não se discute», de Salazar, para a nova versão de «a Selecção não se discute». Gostava então de recordar mais uma vez que esse tempo bafiento felizmente já passou.
Acho extraordinário que «as condições de estabilidade» exigíveis (para além das condições de trabalho concedidas a Scolari e à Selecção, em que nada, rigorosamente nada, lhes falta), requerem-se ainda a censura prévia sobre as críticas feitas a tempo de poderem ser úteis — isto é, antes e não depois dos resultados à vista, antes e não depois de tudo se tornar irremediável.
Acaso não temos direito a exigir mais e melhor de um seleccionador pago a peso de ouro? De ficar indignados com a preguiça intelectual e comodismo de alguém que põe de parte o talento de um futebol único, vindo dos pés de um miúdo made in Portugal, apenas porque o rapaz joga de azul e branco? E que dizer ainda de João Moutinho que foi o motor do meio campo do segundo classificado na liga ou de Manuel Fernandes que teve um final de campeonato em que era, juntamente com Léo, o único jogador no Benfica a fazer alguma coisa de jeito? Não apenas não existe uma só novidade, como ainda ele repete todos os que têm lugar cativo - incluindo suplentes nos respectivos clubes, jogadores cuja forma desconhece e que não vê jogar há meses e até quem esteja parado há longo tempo. Costinha, que eu nunca deixaria de incluir em condições normais, mas não joga há seis meses. Seis meses! Não é uma questão de ser suplente no seu clube. É uma questão de não ter um minuto de competição nas pernas nos últimos 180 dias! Isto é muito. Maniche, cuja inclusão eu daria de caras em situações normais, mas das poucas vezes que jogou pelo Chelsea acabou a ser substituído ou então a não trazer nada à equipa quando entrou a substituir alguém. E depois ainda há os que não eram titulares no seus clubes ou que não estão claramente em forma desde Ricardo Costa, a Hugo Viana, Hélder Postiga...Uma equipa assim não é uma equipa dos melhores, mas dos fiéis, e uma Selecção assim não é a Selecção de todos nós, mas a dos compadres do seleccionador.
É que somos todos muito patriotas, mas os únicos que ganham com esse patriotismo são os que estão na Selecção. E, embora no futebol já lá vá o tempo em que representar Portugal era por si só uma honra e um privilégio que dispensa qualquer outra compensação, é exigível, pelo menos, que quem lá está, honre o contrato de profissional que tem com a Selecção, seleccionador incluído. Por esta mesma razão e porque discordo em absoluto com uma selecção de cativos e afilhados e interesses obscuros em que a justiça e o mérito são o menor dos critérios de escolha, sem dúvida que o meu grau de exigência vai subir. Não contem portanto comigo para ajudar a recriar o típico clima de facilitismo e favoritismo parolo dos media que, em minha opinião, contribui largamente para a possibilidade de ocorrência de mais um desaire num mundial.
Mas para quem ainda não percebeu (ou apenas gente de má fé) eu explico aquilo que me parecia óbvio à partida:
Peço portanto desculpa aos mais susceptíveis ao “primitivismo futebolístico” mas tive que voltar a esta discussão para tentar responder a alguns emails que fui recebendo durante os últimos dias (uns apoiando, outros menos) e aos comentários gracejos (que tentavam ser irónicos) de algumas almas “blogosféricas” que prontamente que nem soldados da moralidade foram acusando os críticos de Scolari de serem “ressabiados”, “facciosos”, “destabilizadores” e “anti-patriotas”. Mais uma prova de que a típica irracionalidade populista cega que antecede e se desenvolve em competições desta envergadura quando o nosso país está incluído começa lentamente a ressurgir.
A onda histérica de patriotismo que vai invadindo aos poucos o país até ao absurdo mais disparatado exige que todos calem as suas críticas, sob pena de, como noutros tempos ainda próximos, serem tidos por maus patriotas. Eu estou longe, mas já o sinto no ar a sua ameaça. Passámos da máxima de «a Pátria não se discute», de Salazar, para a nova versão de «a Selecção não se discute». Gostava então de recordar mais uma vez que esse tempo bafiento felizmente já passou.
Acho extraordinário que «as condições de estabilidade» exigíveis (para além das condições de trabalho concedidas a Scolari e à Selecção, em que nada, rigorosamente nada, lhes falta), requerem-se ainda a censura prévia sobre as críticas feitas a tempo de poderem ser úteis — isto é, antes e não depois dos resultados à vista, antes e não depois de tudo se tornar irremediável.
Acaso não temos direito a exigir mais e melhor de um seleccionador pago a peso de ouro? De ficar indignados com a preguiça intelectual e comodismo de alguém que põe de parte o talento de um futebol único, vindo dos pés de um miúdo made in Portugal, apenas porque o rapaz joga de azul e branco? E que dizer ainda de João Moutinho que foi o motor do meio campo do segundo classificado na liga ou de Manuel Fernandes que teve um final de campeonato em que era, juntamente com Léo, o único jogador no Benfica a fazer alguma coisa de jeito? Não apenas não existe uma só novidade, como ainda ele repete todos os que têm lugar cativo - incluindo suplentes nos respectivos clubes, jogadores cuja forma desconhece e que não vê jogar há meses e até quem esteja parado há longo tempo. Costinha, que eu nunca deixaria de incluir em condições normais, mas não joga há seis meses. Seis meses! Não é uma questão de ser suplente no seu clube. É uma questão de não ter um minuto de competição nas pernas nos últimos 180 dias! Isto é muito. Maniche, cuja inclusão eu daria de caras em situações normais, mas das poucas vezes que jogou pelo Chelsea acabou a ser substituído ou então a não trazer nada à equipa quando entrou a substituir alguém. E depois ainda há os que não eram titulares no seus clubes ou que não estão claramente em forma desde Ricardo Costa, a Hugo Viana, Hélder Postiga...Uma equipa assim não é uma equipa dos melhores, mas dos fiéis, e uma Selecção assim não é a Selecção de todos nós, mas a dos compadres do seleccionador.
É que somos todos muito patriotas, mas os únicos que ganham com esse patriotismo são os que estão na Selecção. E, embora no futebol já lá vá o tempo em que representar Portugal era por si só uma honra e um privilégio que dispensa qualquer outra compensação, é exigível, pelo menos, que quem lá está, honre o contrato de profissional que tem com a Selecção, seleccionador incluído. Por esta mesma razão e porque discordo em absoluto com uma selecção de cativos e afilhados e interesses obscuros em que a justiça e o mérito são o menor dos critérios de escolha, sem dúvida que o meu grau de exigência vai subir. Não contem portanto comigo para ajudar a recriar o típico clima de facilitismo e favoritismo parolo dos media que, em minha opinião, contribui largamente para a possibilidade de ocorrência de mais um desaire num mundial.
Mas para quem ainda não percebeu (ou apenas gente de má fé) eu explico aquilo que me parecia óbvio à partida:
Ter opiniões e discutir sobre as escolhas do seleccionador não significa que se deixará de apoiar a selecção no mundial desde o primeiro até ao último minuto. Se ser patriota significa baixar os braços à exigência e compadecer com a clara necessidade doentia de afirmação de autoridade por parte de Scolari e ficar sentado a admirar o foclore mediático das bandeirinhas nas varandas, dos cordões humanos e do recrutamento das mulheres para a "causa honorífica" da selecção, seja lá o que isso queira dizer, então claramente eu não me revejo nessa concepção.
Led
7 comentários:
Excelente post o teu Led! Fundamentas bem a tua opinião...mas discordo de alguns pontos de vista! Também acho que por vezes tornas o teu discurso um pouco fundamentalista quanto à compreensão (da tua parte) daquilo que são as opiniões de terceiros. Mas...quando é que voltas mesmo para discutirmos isto? Parece-me que vais apanhar com uma bela duma patada dupla...
Sim... Concordo contigo em algumas coisas... Não concordo é com opiniões extremistas, existem petições a circular na net para o scolari ser despedido, por exemplo. Acho que há alguns jogadores que deveriam ter sido convocados e outros que não deveriam por vários motivos. quanto ao Quaresma não ter sido convocado, não acredito que seja por ser do FCP, talvez o lado emocional também tenha contado, porque quem se lembre do jogo do FCP com o SCP e se lembre da atitude do Quaresma, talvez dê conta que emocionalmente, ou melhor, em termos psicológicos, talvez essa chamada à Selecção A seja ainda precipitada, ou não... Agora em relação ao Moutinho, que demonstrou além de ser um excelente jogador, ter muita 'cabecinha', já não consigo compreender... E porque não Tonel também? Mas o que está feito, está feito. Vamos ver no que dá... E resta esperar que dê tudo certo... Mas gostei da opinião! ;)
Os jornalistas podem arranjar as justificações que quiserem mas acho que Ricardo Quaresma, é um jogador fora-de-série, fez uma época em que foi unanimemente reconhecido como o melhor jogador do campeonato e merecia, claramente, estar no mundial. Podem dizer que não foi escolhido porque gritou nomes injuriosos sobre o clube da luz ( mas quem se lembra agora do Petit e do Simão o ano passado...) por entre a euforia normal no dia dos festejos do campeonato, por causa do mau comportamento no jogo com o Sporting quando devia ter ido para a rua, porque tem a mania que é estrela, ou ainda, como li um jornalista da bola comentar porque "passa a maior parte do tempo de estágio a ouvir música (isolando-se do grupo)". Já ouvi de tudo e continuo a achar extremamente insuficiente e quase burlesco por vezes. Mas alguém duvida que se ele jogasse de águia no emblema não estaria na selecção? Arranjem eles portanto as desculpas que quiserem mas é uma vergonha que em 3 anos e tal de trabalho o seleccionador ainda não tenha ido ao Porto assistir pessoalmente a um jogo que fosse daquela que é, desculpem lá, a melhor equipa portuguesa do momento. Este exemplo e muitos outros onde se incluem as injúrias públicas a jornalistas do norte e o caso Vítor Baía (onde o seleccionador conseguiu habilidosamente abrir umconflito escusado e penoso entre os dois melhores guarda-redes do momento) eram para mim sintomas de qualquer outra coisa demais vasta que actualmente na minha opinião só não vê quem quer. A não convocação de Quaresma (e a provocação com a convocação de Ricardo Costa a fazer lembrar outra parecida há 2 anos) apesar da indignação geral não foi, sejamos francos, uma surpresa, talvez se tivesse falado menos dele durante o ano quiçá ele tivesse uma pequena hipótese. Esta é a verdadeira injustiça de Quaresma, o reconhecimento geral do seu mérito. Por outro lado a não convocação de Moutinho, do Tonel , do João Tomás, ou do Manuel Fernandes ou o Zé Castro que eram todos jogadores que eu indicaria para melhorar e rejuvenescer a selecção, são apenas as consequências tristes e inevitáveis de um homem por quem o desempenho e esforço numa época não constituem critérios de qualquer espécie. Que exemplo dará aos jogadores mais novos do campeonato é que eu não sei!
Vamos a ver no que dá este mundial...espero sinceramente que estes jogadores não sejam fundamentais!
Abraço.
Marco! Há muito tempo que não vinha aqui... nem sabia que já tinhas ido para a Irlanda! Anyway espero que te estejas a divertir (pelo que vi já andaste a ver uns concertos.. portanto deves estar a gostar :p)e que o trabalho esteja a correr da melhor forma :)
Relativamente ao post, às escolhas do Scolari e ao Quaresma... a mim parece-me que estás a ser um bocadito (só um pouco) extremista, o que é compreensível por seres portista (aliás todos os portistas que conheço andam com este discurso).. e como não sou perita em futebol não me pronuncio quanto ao resto!
Mas sinceramente não vejo que o Quaresma seja assim tão bom jogador (também o Jardel o era não é?) para haver este tipo de discussões nos media e em todo o lado. E de qualquer forma ele é novinho, não será novo demais para ir para a Selecção?
Mas é como digo.. não sou perita! E mais relevante.. sou benfiquista ;)
Have fun *
Estive eu para aqui a esforçar-me para ser minimamente compreendido e entras tu de rompante e arrumas toda a minha argumentação para o lado apenas porque sou do Porto e por isso devo ser fanático e faccioso.:) Bem, apenas te posso dizer que ser Portista provavelmente apenas me possibilitou conhecer melhor um jogador que eu acho que seria bastante útil à selecção para quando os outros elementos imaginativos e desequilibradores da selecção falhem. Mas se reparares bem não foi só do Quaresma que discuti, mas também de outros jogadores (incluindo um do teu Benfica a juntar aos 4 actualmente convocados) e ainda um que é do porto e eu não queria ver na selecção. Mas não era só da convocatória em si mas também na maneira de estar e regrar de Scolari que acho altamente reprovável e incompreensível. Luiz Felipe Scolari, desde o início, e contra todo o bom senso e toda a expectativa, resolveu começar exactamente por onde não devia, embrenhado-se, e tornando-se parte, nas guerrilhas do futebol português ao decidir – certamente aconselhado por alguém com dor de cotovelo – abrir logo de início uma guerra, totalmente não provocada e incompreensível, com o FC Porto. Nem me interessava muito tomar partes aqui porque as respostas inflamadas vindas dos dirigentes do FCP acabaram por lançar mais achas à fogueira e contribuir para o mal estar geral e para a actual obsessão de Scolari. Mas acho que os Portugueses mereciam mais do que serem obrigados a tomar também parte dessas contendas pessoais. Esperava que Scolari mantivesse a isenção que lhe era atribuída e seleccionasse os jogadores imparcialmente e segundo critérios mais honestos e razoáveis. Não me acredito que o faça actualmente e também sei que muita gente regurgita de prazer com o facto de Scolari virtualmente pareça “bater o pé” a Pinto da Costa e de uma certa maneira ao FCPorto, mas acho que o faz pelo pior dos motivos acabando por penalizar e comprometer o que era de essencial e deveria permanecer intocável: o espectáculo e qualidade do futebol. Acho que ficámos todos a perder. Pensava que tinha sido bastante claro e extensivo o suficiente para se perceber que agora o que me interessa realmente é o bem da selecção, mas se calhar não o suficiente.
Estou cansado disto mas falar de futebol é altamente viciante e eu nunca me consigo conter. Mas agora já chega...deste assunto!;)
Bjos**
ora bamo lá acalmar...
ivan
Ui.. não era minha intenção! O que disse tem haver com os outros posts e não só com este (como os li tdos de enfiada, baralhei-me um bocado)..e talvez também tenha exagerado um pouco ;)
De qualquer forma e para terminar com este assunto: eu também nao gosto do Scolari.. e não axo que concordar com ele seja sinónimo de patriotismo! Pelo contrário.. é sinónimo de estupidez... tal como as bandeirinhas nas janelinhas.. Mas vamos a ver no que isto dá!
E já nao falo mais de futebol!
xuack*
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