domingo, 18 de dezembro de 2005

Recusar a Imortalidade


Recusada a imortalidade, insatisfeito com a ciência, que resta ao homem?
Responde Camus: “Sim, o homem é o seu próprio fim. E é o seu único fim; se quer ser qualquer coisa, tem de ser nesta vida”
O homem está sozinho. Só se tem a si próprio. Está condenado a ser livre, a inventar-se a si próprio, nesta vida.
"Se recusar a imortalidade, que lhe restará? A vida no que esta possui de mais elementar. Suprimido o sentido da vida, temos ainda a vida. “Eu vivo” – diz Ivan..., “ a despeito da lógica”. E mais. “ Se eu já não tivesse fé na vida, se duvidasse de uma mulher amada, da ordem universal, se me encontrasse, pelo contrário, persuadido de que tudo não passa de um caos infernal e maldito, ainda assim eu quereria viver.” Ivan viverá portanto e amará “sem saber porquê?.” Mas viver é igualmente agir. Em nome de quê? Se a imortalidade não existe, também não existem nem a recompensa, nem o castigo, nem o bem, nem o mal. “Creio que não há virtude sem imortalidade.” E também: “Sei apenas que o sofrimento existe, que não há culpados, que tudo se encadeia, que tudo passa e se equilibra.” Mas, se a virtude não existe, também a lei não existe: “Tudo é permitido.”

Albert Camus : “O Homem Revoltado” (1951)
Led

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