quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

A Condição Bloguista


O Blogue de Esquerda consumou-se no dia 25 de Novembro (data bastante “peculiar”) .
Concordando ou não com as opiniões expressas neste blog, para quem o frequenta diariamente sabe que este acontecimento marca uma perda irreparável na dimensão bloguística de consciência social nacional. Mas não desesperem! Deixo-vos duas novas sugestões (não substitutos) de blogues criados por Luís Rainha e José Mário Silva, antigos participantes desta voz de esquerda de eleição :

E que tal também um ensaio científico sobre a condição bloguista por Jorge Palinhos?
Aqui vai:

“Ando nos blogs vai para mais de dois anos e, depois de todo este tempo, o acto de blogar continua a ser para mim um alvo de perplexidade.
Diz-se frequentemente que os blogs são um espaço de auto-expressão, de intervenção cívica e liberdade.
De acordo quanto aos dois primeiros, mas a liberdade já me causa mais hesitação.Liberdade, liberdade é escrever para si, livre de toda a contingência ou perscrutação social.Quando alguém arrisca escrever nos blogs está desde logo a restringir a sua liberdade de expressão.
Porque a exposição pública implica ter de prestar contas, dar a cara pelo que se escreve e ter de pensar para quem se escreve. E isso implica restringir a liberdade, em troca de aceitação social.
Porque, sem eufemismos, blogar implica aceitação social, mesmo nos blogs mais umbiguistas. Para quê escrever em público, arriscando ostracismo ou indiferença, se não é para se ser lido? Mais vale continuar a rabiscar o diário em papel...
E da aceitação passa-se à tentativa de agradar. Começa-se a escrever com regularidade para satisfazer "os leitores", pede-se desculpa por não se ter tempo, avisa-se que se vai deixar de escrever temporariamente, procura-se assunto para se escrever, fazem-se "esboços de posts", fala-se de assuntos que não nos interessam ou sobre os quais não se tem nada de novo a dizer porque tememos ser acusados de "assobiar para o lado" por motivos indizíveis. Porque a palavra passa a ser um acto, que se faz quer se use a palavra ou não, blogar começa a tornar-se um fardo, as ideias acumuladas que vinham naturalmente esgotam-se e é preciso procurar novas, é preciso descobrir palavras inéditas para dizer e novas formas de o fazer.

E, de repente, quando no início blogar parecia tão fácil como sermos nós próprios, descobrimos afinal que é um casamento com um cônjuge exigente, que quer atenção, mimos, carinho, afecto, novidades, surpresas, prendinhas, jantares íntimos e sexo tórrido todos os dias, no meio da rotina mais banal e ínsipida.E então uma pessoa começa a pensar se lhe interessa mesmo manter essa relação, se não prefere procurar amantes novos, sair com os amigos, ler livros interessantes, ir a cinemas e teatros, voltar ao diário rabiscado.

E depois vem a hesitação de abandonar os filhos-posts, o receio de ficar só, a angústia de não se voltar a encontrar um cônjuge tão devoto, tão carinhoso, tão amante.

E então é preciso escolher. Às vezes persiste-se, escolhendo a segurança dos episódios felizes e dos momentos inesperados. Outras vezes divorciamo-nos, só para regressar de imediato ao conforto dos mesmos braços. Outras ainda procuramos novos braços que nos acolham. E alguns desaparecem, no sossego da vida sem compromissos.

No fim de contas, blogar talvez nos fascine e prenda porque é tão parecido com amar.
Só que, agora, o que é que fazemos?”

A resposta a esta questão encontra-se obviamente nos 2 novos blogues acima mencionados:
“Once a blogger, always a blogger!”
Led

1 comentário:

Simplicitas disse...

Nem era para comentar, não porque o post não mereça, pelo contrário, é que já está tudo dito! Foi só quando dei por mim em pleno local de trabalho (crianças, não repitam isto em casa!!!) a ler uma discussão existencialista entre dois completos desconhecidos (http://experienciab.blogspot.com/2005/11/miller.html) que percebi que isto dos Blogs é provavelmente uma das maiores invenções desde a imprensa... é como a mesinha dum café qualquer, mas com o tamanho do Mundo! E pronto, não chateio mais. Fica bem!