Uma súbita cólera, uma amargura. Estonteado, incerto , esvaído, eu. Que é que isto quer dizer? Uma profunda humilhação como um vómito leproso sobre mim. No oco do meu ser, sinto-a, uma queda abandonada no vazio. Tudo o que se me comprimira em angústia na garganta, subitamente consumido até às raízes da vida, súbita desopressão em refluxo até à aniquilação total. Flácido, entornado sobre mim. Como um saco em pontapés – quem sou? Quem és? Perdida a identificação à minha face. Então ouso olhar-te – uma crueldade calma do lado de lá; tão alta que do lado de cá, de pólo a pólo, na vastidão do que para mim conquistei, incerto no abandono universal, como criança perdida na praia, o meu choro de piedade, para depois do orgulho e da amargura e da humilhação. Solene. Linda pura branca. Os cabelos louros apanhados ao alto, a nuca suave. Um dedo na tua face. Um beijo aéreo no teu rosto. Olho-te e todo o meu corpo treme de arrebatamento desfeito. Choro terno, estremece-me no meu olhar gélido de paralisia. Sonho devoto de afeição reduzido a partícula corpúsculo ridículo ficção e toda a minha unidade arrasada em estilhas. “Esvair-me em fumaça. Enfiar-me no carro e guiar até ao limite do firmamento, até ao limite do meu enxovalho!”. Devagar levanto-me e saio. Ela despede-se com um sorriso. Calmo frio amável afiado dissimulado infantil egoísta. Puta de merda. E todavia não sei ainda odiar-te. Como gostava...Nem talvez o teu companheiro invejar. Talvez um qualquer tipo de amor ainda, virado do avesso. E uma estranha admiração pelo tipo que avançou por ti dentro, entre as tua pernas abandonadas...Quando regresso a casa, vento e chuva nas vidraças. Ouço a pergunta na música do disco – “what have u been doing all this time?”
Regressa à tua origem.
Está uma linda noite de inverno constelado.
Led
1 comentário:
Ledbetter
BOAS FESTAS com boas postas!
Manos Metralhas
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