quinta-feira, 29 de setembro de 2005

Não contem comigo


“Detesto a mentira como estilo de vida. Abomino a hipocrisia. Digo o que penso e sou bastante transparente nas minhas ideias e opiniões. Durante anos, pensei que estas características tinham algum mérito. Mas descobri que não é assim. Ou melhor: eu continuo a achar que a sinceridade é uma virtude. Mas é certamente a virtude menos proveitosa que existe.

A mentira e a hipocrisia (ou o silêncio) têm lógica. São o cimento da sociedade.
(…) Há as relações sociais de toda a espécie. Numa festa, a gente senta-se numa mesa com um desconhecido e em dois minutos ou menos temos uma impressão esboçada. Uma das razões pelas quais eu sou pouco conveniente e pouco convidado é a minha tendência para tornar demasiado óbvia essa opinião. Evito frases ou gestos embaraçosos, mas na minha face faceta aparece logo escrita a tinta-da-china a impressão com que fiquei da pessoa ao meu lado. (…) Sou capaz de pronunciar uma frase desnecessariamente polémica só porque entendo que é verdadeira. Aliás, se a sinceridade se tornou em mim um defeito e não uma virtude é porque está ligada a um gravíssimo defeito: sou colossalmente impaciente. Não só sou impaciente como não tenho nenhuma paciência (o que não é bem a mesma coisa).

Naturalmente, ganho fama de indesejável, porque a vida em sociedade exige um constante teatro. Todas as graças são engraçadas. Todas as conversas são interessantes. Todas as pessoas são excelentes. Não contem comigo. Acontece que as pessoas insistem....”

Pedro Mexia “Sinceramente”- Revista Grande Reportagem.

Led
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