domingo, 25 de setembro de 2005

Alegremente candidato



Manuel Alegre é candidato à Presidência da República.
Se há alguns dias se queixou de o seu nome não ser considerado nas sondagens quais fora os estudos de opinião para ganhar alento para se candidatar?
O seu argumento para fundamentar a sua decisão é, no mínimo ilógico, só ele acredita que a sua candidatura narcisista ajuda a derrotar Cavaco Silva, só ele não percebe que a sua capacidade de recolher votos na direita ou no centro é nula e na esquerda é duvidosa. Obviamente que ele faz uso do argumento que luta para fazer votar quem está na abstenção e assim aumentar o “bolo da esquerda” na primeira volta para impedir a vitória de Cavaco. Será que assim o acontecerá na realidade? Estará a abstenção localizada no seu quadro político? E o que acontecerá na 2ª volta? Uma união em torno de um só candidato?

Sendo de Coimbra já conheço a ladainha de Alegre de cor e salteado...a utopia abstracta da etimologia esquerdista e da doutrina socialista. Muitas vezes candidato a deputado por Coimbra e em todas uma desilusão. Digo candidato a deputado por Coimbra por isso mesmo, porque da “Coimbra do verso e do sonho” restou pouco após as legislativas. O cavaleiro andante da revolução metafórica, o poeta-político da velha escola democrática republicana, alto consignatário para a moralidade, honra e honestidade intelectual...enfim, um exemplo a cumprir para qualquer político ou individualidade em geral ! É já enjoativo e extremamente injusto que tragam a “Revolução dos Cravos” para cima de mesa por cada vez que se traz à baila o nome de Manuel Alegre. A força com que resistiu ao fascismo e o seu apego à liberdade só podem merecer a reverência e admiração.Ninguém discute portanto a sua importância e relevo no processo revolucionário de há 31 anos atrás, mas caramba, é tempo de olhar o tempo presente e verificar que as necessidades e conformidades actuais mudaram. É tempo de uma resposta actualizada face aos desafios ímpares do nosso tempo!

Manuel Alegre é contudo apenas mais um oportunista como muitos tantos políticos por esse país fora , diferindo apenas na aptidão inata para a palavra e uso messiânico (subtil) do passado revolucionário para justificar qualquer decisão ou escolha tomada. É sobre esta capa de respeito e veneração geral que esconde o seu menos virtuoso secreto desejo de poder e influência. Nada difere até aqui de Mário Soares. É contudo delirante acreditar que a sua candidatura viria a reforçar a esquerda numa segunda volta contra Cavaco Silva. Este último garante por si só os votos da direita e de muitos votos do bloco central e está por isso assente que quase metade dos votos dos eleitores virão para si. Para o restante bloco central e esquerda política ficam 4 candidatos que acabarão por se comer uns aos outros, deixando o objectivo de derrotar Cavaco Silva muito distante das expectativas mais positivas.

A escolha de Soares por seu lado, foi errada e não se vislumbra o apoio massivo esperado dos militantes socialistas. Uma proposta cansativa e antagónica ao pluralismo e re-ciclamento democrático que se deseja numa sociedade em desenvolvimento. Soares já ocupou todos os cargos políticos de destaque e mais do que uma vez consecutiva. Não se trata por isso de trazer o argumento ridículo e dissuasor da idade mas sim de um argumento essencial de necessidade de mutabilidade republicana nas personagens que ocupam os cargos políticos. É por isso e sobre este nicho de argumentação que aceito (mas de espírito inquieto) a candidatura de Alegre, sob o ponto de vista do menos mau de entre os dois, ambos os únicos possíveis e credíveis candidatos da esquerda.

A campanha para as presidenciais ainda nem sequer se iniciou ( e algumas candidaturas ainda nem sequer avançaram) e por isso muito irá ainda mudar no mapa político nacional até Janeiro de 2006. Como muitos portugueses estou ainda indeciso quanto a quem vou dar o meu voto nas Autárquicas do mês quem vem, quanto mais das Presidenciais de 2006. Mas por hora, fico satisfeito que Alegre tenha finalmente avançado a sua candidatura após um período angustiante de vitimização e manipulação da opinião pública. “Por uma necessidade de coerência” – diz ele e eu também. Acabem-se portanto os equívocos e venha a candidatura!

Para que pelo menos não exista um único eleitor à esquerda que se possa queixar de não ter o "seu" candidato!
Por imperativo cívico aqui vai :
Movimento Cívico de Apoio à Candidatura de Manuel Alegre – recolha de assinaturas

Led
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1 comentário:

Lunapapa disse...

Enquanto estava a ler FUGAZ, esta frase nao me sabia da cabeca...
"The aim of life is to live, and to live means to be aware, joyously, drunkenly, serenely, divinely aware."
Henry Miller
... e e' tao verdade...