sexta-feira, 26 de agosto de 2005

Essência



...O indício de uma ideia, de uma certeza, de um refúgio. Evaporados, idos. Só se chorando, mas já restabelecemos que não. Um repentino pavor, um medo infantil. Só se. Já assentámos que não. Rolo devagar pelo empedrado da rua que sobe ligeiramente. E a olhos lentos vou descobrindo o meu reino. Como se expulso, velho senhor, condenado ao exílio, o meu reino. Retornar ao princípio? Fechar o círculo, cursum peregi. Verdadeiramente, a vida é que me expulsou. Retornar de olhar limpo, depois de quanto o iludiu. Se tu pudesses aprender ainda, agora a escola fechou. Mesmo o cérebro deve estar uma pedra. De um lado e do outro, vou rodando lentamente, as casas alinham-se unidas pela rua deserta, batidas no silêncio pelo estrépito do carro, algumas janelas já acesas. Regressa aos teus mortos. Vão sendo horas. E é como se por entre os sepulcros de uma civilização perdida. Mas ninguém te espera, ninguém, ó tu, há quanto tempo morto?...

V.Ferreira – Rápida, a sombra

A José Ferreira Andrade -1890-2000 (foto)

Led
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