sábado, 22 de julho de 2006

A pergunta certa


A tragédia em horário nobre mais uma vez...e a pergunta surge novamente e primariamente na postulação em si - O que escrever? Porquê fazê-lo?...
Espero não ser o único a ter dificuldades em comentar o que se passa em Israel, no Líbano e na Palestina. Escolher um dos pólos do(s) conflito(s) , de uma forma aberta, parece-me altamente inconsciente e apenas um exercício de comodismo e arrastamento ideológico e levar apenas a uma raiva alucinada de parte a parte.
Procurar as raízes e as causas de quem começou seja o que for parece-me leviano e pueril. Fazer grandes ensaios descritivos sobre o encadeamento dos factos e os contextos específicos desta “nova” contenda parece-me uma forma airosa de escapar ao verdadeiro sobressalto, ao imediato de uma guerra de sangue e dor humana. O que explica decerto não que a isso queiramos deliberadamente ser indiferentes mas que vivemos num pânico já assumido, quase assim naturalizado, e um acontecimento qualquer, positivo ou negativo, não se destaca em particular.
Bradar pela paz, exclusivamente, e logo a seguir voltar a página do jornal de regresso à ilusão suficiente de uma existência com sentido, parece-me uma forma juvenil de exoneração da preocupação, se a houver para caber na rotina. Não sei mais o que dizer, o que pensar...
O tema aquece na opinião pública e escrever seja o que for sobre o assunto e sobre a autoridade histórica e política e territorial e religiosa de seja quem for para espoletar as nossas dissertações extemporâneas e eruditas sobre como seria num mundo perigosamente perfeito e utopicamente pacifico é como caminhar sobre um campo de minas. Refugiam-se, as pessoas que sentem o mesmo, na atestação dum princípio: nada começará sequer a resolver-se enquanto não houver um estado palestiniano de pleno direito ao lado dum estado de Israel seguro. Depois vêm os consensos chavões: o fundamentalismo islâmico, o terrorismo de redes, o imperialismo de estado, a bastardia das ditaduras muçulmanas na região, o domínio da fissão nuclear, o abuso do poder da política externa israelita, a legítima defesa desde não sei quando...
Mas não há sínteses felizes para definir a política da guerra. Baralhados os números e a nacionalidade das vítimas, subtraindo, aumentando, multiplicando regressamos sempre à mesma impotência. Será para ultrapassá-la que tanta gente avança tolamente para a tomada de posições, para o apoio a um "lado" ou outro, para o aproveitamento da tragédia para esgrimir as guerrilhas ideológicas domésticas cheias de atrevimento e ruptura? Que extraordinária coisa este desaforo com que se quer ser moderno e interventivo. A quantidade enorme de gente que é virtuosa ou que vive à custa do pecado alheio... Seria útil aprender pelo menos, que a primeira coisa que a guerra nos deve provocar é consternação infinita. Que ela se manifesta na insuficiência. E agora? Que fazemos? Que exigimos? Qual o significado disto tudo e de a minha individualidade entremeada neste mundo imenso?
Por enquanto a descrença total de tudo e um riso ósseo de caveira que sobre isso tudo ele abre....
Led

1 comentário:

Simplicitas disse...

Mesmo na incapacidade de definir uma opinião, quando quase inconscientemente se devora tudo o que vem impresso no jornal... e mesmo assim se parece saber tão pouco.
A busca desenfreada por informação como forma de expiar a culpa por uma impotência que ainda mais nos aproxima da mácula a que peremptoriamente nos negamos pertencer. E somos herdeiros disto tudo. E conseguiremos algum dia ser melhores? Até aqui nunca fomos...