sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A próxima compra - come as you are

"Azerrad asks him, "Is yours a sad story?" He pauses and then he says, "It's nothing that's amazing or anything new . . . that's for sure."

Led

2 comentários:

AEnima disse...

Vi o about a son... e finalmente gostei de um documentário sobre o tipo que preservou o que ele para ele era mais precioso - a privacidade, o ser. Gostei. Gostei da atitude do realizador, sem dramas, sem floreados, sem merdices de fama.

Ledbetter disse...

Sim, concordo em absoluto. Gostei bastante. Não só por ser um fragmento algo inédito da biografia do Kurt (tão estranho ouvir a voz dele passado todo este tempo) mas pelo próprio arranjo do documentário, desde a infância à idade “adulta”.

Em vez de viajar no tempo e recriar os passos precisos do Kurt num cenário que já não existe, o realizador AJ Schnack decidiu acompanhar a história com uma amálgama anónima de fotografias, paisagens e narrativas visuais conduzidas pelo conteúdo das palavras. Fez-me imaginar apanhar uma boleia de carro com o Kurt em algum lado e ir olhando para fora da janela à medida que ele ia falando.

Não aparecem imagens da banda até ao final da primeira hora de filme e nem sequer imagens do Kurt (além de umas fotos fantasmagóricas antes dos créditos finais). À medida que ele vai falando, vão surgindo fotos dos subúrbios white-trash de Aberdeen, imagens dos típicos madeireiros da região (onde o pai de Kurt trabalhava), um pássaro morto junto à orla marinha até às caras de gente incógnita nas cidades onde ele viveu olhando corajosamente para as lentes.

As imagens são algo obscuras por vezes; muitas vezes não muito bem ligadas com o que o Kurt está a falar, mas à medida que vamos acompanhando a trilha visual, começam a surgir interessantes paralelismos. Por exemplo, quando ele está a partilhar os seus pensamentos sobre a fama, imprensa e jornalistas e subitamente notamos que estamos a ver um leão marinho a nadar em cativeiro através de um vidro de um aquário em Seattle. De alguma maneira, o visual realça a relativa ambiguidade da maior parte da sua vida, como ele podia ter sido qualquer pessoa, um outro qualquer puto alienado.

Ele fala evasivamente de temas como solidão e alienação, sexualidade, fama, casamento, sucesso, arte, comunidade e em vários pontos até faz referência a disparar na própria cabeça para escapar às dores de estômago. É revelada muita coisa da sua vida e da sua maneira de processar as coisas que eu ignorava. É íntimo e triste mesmo no final quando ouvimos a voz da Courtney a interromper a entrevista, a meio da noite, exausta pela recém- maternidade, pedindo ao Kurt para trazer um biberão.

A escolha de música ecléctica para o filme transpõe admiravelmente a fórmula esgotada de trazer hits famosos de Seattle para falar de filmes de Seattle. Em vez disso, a música é a banda sonora real desta história particular, para esta vida particular. Desde bandas que o Kurt fala gostar, os Queen dos primeiros tempos, R.E.M ("New Orleans Instrumental No. 1"), até a contemporâneos menos conhecidos que ele admite conhecer.

A banda sonora original, feita por Steve Fisk (Death Cab for Cutie) e Ben Gibbard é etérea, delicada, perturbante. Saquei a canção que se ouve no início e fim do filme, com as imagens a preto e branco do Kurt a deitar-se no palco embalando a guitarra, a fazer crowd-surfing, sentado numa cama por fazer com os olhos nublados, observando a Francis Bean enquanto ela tenta dar um passo. São as únicas imagens que me lembro do Kurt durante o filme.

Não era o documentário típico com narrativa visual que estava à espera, mas sim algo que se vai desdobrando lentamente e premeia a nossa paciência. E é assustador constatar que passados todos estes anos após a sua morte, muitos dos seus dilemas continuam na ordem do dia, dos nossos dias.