sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Erasmus O.S.T

Doves - Pounding

Ouvi esta música pela primeira vez num cd bónus da revista NME e é difícil explicar o que me significa neste momento, volvidos os quase 6 anos após a experiência. Nunca te aconteceu? Ouvires um tema que te eleva para a eternidade? É donde vêm todos os temas importantes, vais dizer. Sim, mas um tema que parece mesmo vir dirigido a ti. Ora. Todos os temas vêm dirigidos só a cada um de nós. Mas não é isso. Então o que é? Não o sei explicar. O teu passado é só teu. Não é só meu. É de quantos o foram comigo – e são uma imensidade de gente. Pois. Mas não é isso. O passado que tu vives e não é de mais ninguém. E nas pessoas que foram nele e com ele passaram também, eis que uma imagem se te imobiliza e te fixa. E nesse olhar e nessa face tu escutas no silêncio a sua voz. E quando escutas melhor, há uma canção que se inscreve no sem-fim da eternidade e te veio procurando através da vida inteira e chegou enfim até à tua solidão. E te diz estou aqui.

Led

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Serviço Público

"Caros Bolseiros:

A ABIC foi criada há cinco anos, a partir da necessidade sentida por muitos bolseiros, de terem uma organização que os representasse colectivamente.Fruto da difícil situação dos bolseiros, que todos conhecemos, a ABIC tem vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas de informação e reivindicação.

A ABIC entende que a actividade profissional desenvolvida pelos bolseiros deve ser considerada como trabalho científico, e que bolseiros devem ser considerados trabalhadores por conta de outrém, celebrar um contrato de trabalho, e ter acesso aos direitos dos demais trabalhadores.
Indo ao encontro das preocupações dos bolseiros, a ABIC apresenta como algumas das suas principais reivindicações:

- Actualização do valor das bolsas, congelado desde 2002;
- Celebração de contratos de trabalho;
- Fim do regime de exclusividade;
- Direito a férias pagas, subsídio de férias e Natal;
- Acesso pleno à Segurança Social e direitos inerentes;
- Subsídio de desemprego e maternidade/paternidade.


Para discutir todas estas questões com os bolseiros, e com vista à formação de um núcleo dos bolseiros de Coimbra,a ABIC promove uma reunião em Coimbra, no dia 21 de Fevereiro, 5ª feira, às 18 horas no Departamento de Física, Anfiteatro do 1º Piso (AD1). Reunião que contará com a presença de André Levy, Presidente da ABIC.Contamos com a tua presença para discutir os problemas de todos nós, e trazeres os teus colegas também.
Para mais informações sobre a ABIC, consultem http://www.abic-online.org/"

Led

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A próxima compra - come as you are

"Azerrad asks him, "Is yours a sad story?" He pauses and then he says, "It's nothing that's amazing or anything new . . . that's for sure."

Led

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Novas de Teignmouth

Enquanto preparam as gravações para o novo álbum, supostamente mais electrónico ou mais sinfónico (seja lá o que isto possa ajudar a definir) e que deverá sair só lá para 2009, aí estão as boas novas sobre o lançamento de um novo disco ao vivo dos Muse. O duplo álbum chamar-se-á "H.A.A.R.P." e incluirá a gravação áudio e vídeo das performances nos dias 16 e 17 de Junho de 2007 no recém inaugurado Estádio de Wembley, justamente a meio da tourné para “Black Holes and Other Revelations”. Para quem se interessar, o estranho título deste registo ao vivo parece provir da sigla de um projecto de investigação do governo norte-americano (High Frequency Active Auroral Research Program) com o objectivo de estudar e controlar processos atmosféricos que poderão alterar os sistemas actuais de comunicação terrestres (!!!). Enfim, coisas tecnológicas maradas cujo trio de Devon tanto estima e impregna na sua música. Para quem (como eu) já desespera por algo novo destes rockers cientistas, convém aqui abater quaisquer esperanças fantasiosas confirmando que para 2008 apenas estão planeadas 3 participações ao vivo no V festival e outras 2 localidades do reino unido. Nada de mais se passa portanto no reino dos Muse, exceptuando apenas que o próximo e 5 álbum de originais da banda britânica será produzido inteiramente pelos próprios, possibilitando uma ampla liberdade para experimentações bizarras.
Para quem quiser saber mais sobre a tracklist ou outros afins mais rebuscados sempre podem ir aqui ou aqui.
Ah! O disco ao vivo será posto à venda no dia 17 de Março!
É tudo por hoje!

Good night, good luck!

Led

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Ad finem

Todo o tempo de um homem que se consumiu. Ad finem. O que significam aqui, neste ermo primordial, todas as minhas preocupações mundanas, os compromissos quotidianos, a algazarra de fundo do mundo dos vivos? A aldeia deserta entremeada entre a montanha gelada e os campos ossificados, nus de miséria. O horizonte perdido à praga do vento e da chuva, na distância de uma esperança vã. As casas fechadas. As persianas corridas. As ruas abandonadas. Os quintais invadidos de chagas. A escola em ruínas. Um rafeiro escanzelado que se arrasta ladrando angustiado a ânsia do fim. O silvo do vento como um eco níveo. Escorre, balança-se em revoadas pelo espaço, e um terror obscuro emerge da massa da montanha, de um universo mais poderoso do que eu, anterior às ideias que tive, posterior às dos outros para em vez dessas. O aglomerado de vultos negros prostrados nos assentos graníticos em redor do templo central, como corvos negros, ciciando maníacos para a extensão do nunca mais. Como os móveis antigos e os objectos antigos, inteiros, ainda resistentes, mas postos de lado, como se não tivessem servido. São apenas objectos pitorescos para o nosso sorriso compreensivo e citadino. Passo em frente deles, interrompem o rumorejo cismático por momentos. Fitam-me com uma curiosidade atenta, carente, estupefacta. O seu olhar é hialino e molhado, toldado à melancolia de uma espera impossível e conformada. Pergunto-lhes pelo dono do café fechado. Não ouvem. Riem, desdentados, pregueados, descarnados, chupados, desgadelhados. Já não ouvem. Recordam o meu avô, talvez...Já não ouvem. O seu tempo é o do nunca mais. Uma vaga de silêncio ondula por toda a terra, na flutuação lenta das nuvens, na respiração final da tempestade. Silêncio que sepulta tudo o que morreu, me submerge de olvido e ao que à minha volta vibrou na eternidade do seu instante. Quantos milhares de vidas e de ideias e de projectos e de ilusões incógnitas se fixaram no mesmo alvo do meu olhar, calcorrearam os meus passos nesta calçada destroçada pelos frios telúricos, e o triunfo da sua verdade exclusiva na conformação dos seus músculos terrenos, que eram a sua firmeza visível, e o troar da sua violência, que era a notícia audível da sua posse do mundo – onde agora? Em que espaço inverosímil da sua imortalidade vã? Aldeia fantasmagórica, do tempo de um homem que se consumiu. O frio retrai-me à nulidade de mim, o silêncio mineraliza todas as vozes que já não ouço. Quem as ouve agora? Já não ouvem. O tempo afunda-se aos ocos do seu labirinto, ressoa aos passos do seu claustro de silêncio. A aldeia deserta, abandonada, aérea, vergastada pela fúria do vento. Vai chover pela noite, pressinto a chuva na quietude estranha de tudo como o augúrio de um aviso. Imagino-a vastamente pelo espaço da montanha, desdobrada à morte do mundo. A aldeia deserta no Inverno da vida... Mas sobre toda a aniquilação geral, um frémito subtil de um vago encantamento vibra-me ao espectro de uma alegria primordial. Consegues ouvir? É a alegria do nada, a pureza de ser, a ternura do meu olhar deslumbrado para o silêncio da terra que recomeça e espera pelo primeiro homem que aja sobre a terra inane. E eis que do fundo da memória uma manhã solene de verão, e o orvalho das sombras, e as noites ofegantes, e eu me sentava contigo a ver a lua grande nascer por sobre a montanha com a sua verdade mineral.
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Led