segunda-feira, 26 de março de 2007

Para lá das sombras

Findou neles o distante trabalho das gerações e nós agora não temos pais. Calaram-se neles as últimas palavras de amor e nós só conhecemos a saturação do prazer e da ostentação em massa do ego narciso camuflado de humanismo e individualismo progressista. Acabou neles a razão do heroísmo e nós só conhecemos o incerto , o cínico e o tablóide. Com eles morreu a arte e para nós sobrou o consumo da sua ruína com a puerilidade de uma cultura mecanista, imediatista e tecnopositivista com todos os ismos que se projectam do frenesim do consumismo involuntário. Cessaram nos nossos pais todas as religiões e todas as anti-religiões, que eram religiões do avesso, e a sua herança a transmitir foi apenas o desespero ou o silêncio dos profetas do vazio. Turbou-se nos nossos pais a certeza da justiça e a força de carácter e a instituição que nos foi legada é apenas a do cárcere politizado, com o preso e o carcereiro em papéis recíprocos e transaccionáveis. Perdeu-se nos nossos pais o conforto do saber, e a tranquilidade dos sistemas oscilou no desassossego. Quebrou-se neles a firmeza do afirmar, e dela regressámos para antes de ser firme. Corroeu-se neles a ideia de beleza e o que amealhámos para herança foi só quando muito o encanto do execrável das aparências. Mundo no limite a gritar de desorientação. Escuto em mim um eco morto- de que voz irreal? De que voz por nascer? Apocalipse sem anjos nem trombetas, o fim veio devagar como o silêncio da noite. E no entanto, a um instante lúcido e fugidio, na humildade do desastre, na polvilhação dos astros deste céu indiferente, no sol de uma nova manhã, uma flor nova irrompe- nova. Como a genesíaca flor ao vento sobre a face da terra. Porque nós estamos vivos e esta grandeza assim se nos coube. A nossa hora. Mais alto do que os deuses, porque aos deuses inventou, que o homem tente agora inventar-se a si mesmo. Que uma nova era se erga – vai erguer-se, eu o sei, nós o sabemos. Noutro mundo. Sob outro céu. Num novo alvorecer.

“There was a sense of disappointment as we left the mall
All the young people looked the same
Wearing their masks of cool and disinterest
Commerce dressed up as rebellion

Because we are so handsome and we are so bored
So entertain us, tell me a joke
Make it long, make it last forever
Make it cruel just make me laugh
We can't be hurt”
Uniform- Bloc Party
Led

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