domingo, 19 de novembro de 2006

Chove.

Chove, chove. Escorre a água pela vidraça, nela se turba a exactidão do real. E o vento, o vento. Traz o augúrio de longe. Ás vezes assalta em cargas rápidas, marra com violência, enrodilha toda a cidade. A tarde escurece. Vagas longínquas do rumor do temporal. A chuva mais densa forma uma cortina cinzenta que a tudo apaga. Ouço-a fustigar a janela. Tudo é submissão como a desolação. Olhar apenas. Escutar. E ser-me tudo longe, noutra terra, noutro universo...
You'll get a chance, another chance, one more sun...


The Dissociatives - We're Much Preferred Customers

Led

3 comentários:

Simplicitas disse...

O augúrio não o traz a chuva, nem vem de longe. Sente-se quando se embala. Dele se gosta demasiado. E a dor é o filho que todos amam e afagam na insegurança de perder. Estranho, não é? Simplesmente cansativo... e a única benção a que se tem direito não é a da fuga, é a do esquecimento...

Ledbetter disse...

De vez em quando é assim... e o vento e a chuva e outras figuras ambientais trazem-me frequentemente a evocação de breves e intensas iluminações do passado... de uma suave melancolia que me escoa de prazer e amargura. Tardes de outrora na suave dissipação do dia, manhãs fantásticas de borrasca, toada longínqua de uma música dolente, imagens da sedução e enleio...Mas de cada vez- é só preciso prestar atenção- de cada vez há o sentir-lhe o esgotamento e uma memória oblíqua de uma passado irreal e que nos fala incerto ao insuspeito de nós, ao que não sabemos e se pressente como o que se esquece e se sabe e não vem. O mundo lá fora absorto e tudo em mim é desistência e esquecimento. E é misteriosa a luta entre a rapidez mecânica da cidade e a balada de nostalgia que me sobe pela chuva e pelo vento

Simplicitas disse...

... que servisse ao menos a evocação como serena revolta do joguete que nada faz ou percebe das regras... e aí, então, nesse absoluto limiar de quase perigosa inconsciência, se tolhesse num falso mas aprazível controlo... desapercebida seria assim a distância da nossa própria liberdade...
... acho que era mais ou menos isto que eu queria dizer...
Fica bem!