A liberdade de expressão não é um valor circunstancial, utilitário e sujeito a concessões seja de qualquer tipo (religioso, político, etc). Não é um valor de esquerda ou direita, é um princípio universal e que nunca deverá ser sujeito a negociação e muito menos por imposição intimidatória . A liberdade de expressão consagra o direito à indignação mas nunca por formas violentas, os regimes democráticos têm veículos legais para o protesto cívico.
Na minha opinião qualquer excepção e limitação que seja aplicada a estas bases da democracia constitui um acometimento ao âmago de qualquer administração que se rege pela democracia de valores. Abrindo um precedente como este, onde acabará a nossa liberdade individual?
Não me interessa se os cartoons generalizaram ou não a religião islâmica, a sátira é mesmo feita disso. Que dizer então do papa com o preservativo no nariz de António Moreira Antunes no Expresso, ou do Jesus Cristo com um míssil na mão de Óscar Seco numa feira de arte espanhola ou do mural das lamentações judaico escrito com as palavra “Hate” em letras de sangue por Robert Ramirez no LA times, ou do imbecil Jesus Cristo dos Monty Python ou das constantes sátiras xenófobas ao holocausto? Lembram-se da manifestações selvagens por todo o mundo? Lembram-se de vê-los a incendiar bandeiras? Lembram-se de terem apedrejado e incendiado embaixadas? Lembram-se de mortos e feridos, atentados e expulsão de estrangeiros dos países? Lembram-se da haverem ocidentais indignados com a falta de bom senso dos artistas e a apelarem ao respeito pelas religiões nestes casos? Lembram-se? Pois eu não. Nem ninguém. Porque nada disso aconteceu. É essa a diferença.
Os cartoons são fruto de uma opinião pessoal e são aceitáveis até ao ponto em que não incitam à violência directamente. Não me interessa perceber a opinião possivelmente xenófoba do autor porque não é isso que está em causa. Volto a repetir que não está em causa o conteúdo mas sim o direito à sátira, que nunca deverá ser limitada pois nunca foi nem nunca o deverá ser obrigatoriamente politicamente ou religiosamente correcta. Também convém relembrar que a nossa liberdade e o laicismo dos nossos governos foram conquistados com muitos infortúnios e esforço exactamente na Europa e justamente contra a intolerância religiosa.
As religiões não podem ser assuntos tabu onde existe democracia e o islamismo não pode fugir à regra! Nada é intocável do ponto de vista do escrutínio jornalístico e de opinião pública. A religião de roma e bizantina ( e todas as restantes formas de cristianismo) têm sido alvo de muitas sátiras ao longo dos últimos 50 anos, e, mesmo assim houve tolerância de costumes. Houve guerra de palavras e fomos assim evoluindo mutuamente, num clima cultural da tolerância, de liberdade, e de aceitação de diferenças. Num ambiente brando de aprendizagem recíproca. Por isso a religião cristã de hoje, apesar do conservadorismo em alguns pontos, evoluiu e conseguiu fazer-se sobrepor à mancha sanguinária de 700 anos de inquisição. E mesmo no mundo muçulmano e israelita os cartoons de âmbito religioso fazem parte do dia-a-dia e não são obviamente estes os responsáveis pelo conflito.
Mas é óbvio que isto ultrapassa largamente o caso da admissibilidade dos cartoons. Esta reacção não tem base religiosa mas sim política. Foi sim apenas mais um pretexto para o descerrar de uma guerra que só os fundamentalistas (muitos líderes políticos) desejam. Os desenhos foram publicados em Setembro de 2005 (quase há 5 meses) e em muitos jornais dos países de regime islâmico. Nunca houve indignação até hoje...depois da estranha reunião da conferência islâmica na Arábia Saudita em Dezembro de 2005 onde a nenhum não-muçulmano era possibilitado o ingresso mesmo que para fins jornalísticos. Reunião esta onde o principal orador era o ilustre “pacifista” Mahmoud Ahmadinejad, o presidente da república do Irão. É claro como a água que esta foi mais uma estratégia de manipulação massiva dos crentes, para que a opinião pública se esqueça das políticas domésticas e para que seja mais permissiva a possíveis actos futuros de terrorismo (mesmo verbal). Isto são factos deveras perturbadores, mas não me interessam muito aqui. Porque o que está em causa à priori é simplesmente o direito incontestável à liberdade de expressão, um valor de que não estou disposto a abdicar, um princípio inegociável principalmente quando as pressões são maiores.
Isto não é um jogo de modas nem se trata de tomar partido seja pelo que for porque não existe tal "eixo do mal". Não me queiram enfiar no grupo dos que acham que está em curso uma "guerra de civilizações" em que uma das frentes de batalha é a invasão do Iraque. Fui contra, sou contra e todos os dias as informações que vão chegando confirmam que a razão está do lado dos que estiveram contra. Para mim o 11 de Setembro teve uma resposta legítima na invasão do Afeganistão. A invasão do Iraque foi ilegítima e acima de tudo assente numa completa mentira (as armas de destruição massiva ou maciça). O que este caso dos cartoons provou foi apenas que estamos obrigados a defender os nossos valores cá, onde vivemos. E a não deixá-los contaminar por valores externos assentes na tirania, na intolerância e na irracionalidade.
Na minha opinião qualquer excepção e limitação que seja aplicada a estas bases da democracia constitui um acometimento ao âmago de qualquer administração que se rege pela democracia de valores. Abrindo um precedente como este, onde acabará a nossa liberdade individual?
Não me interessa se os cartoons generalizaram ou não a religião islâmica, a sátira é mesmo feita disso. Que dizer então do papa com o preservativo no nariz de António Moreira Antunes no Expresso, ou do Jesus Cristo com um míssil na mão de Óscar Seco numa feira de arte espanhola ou do mural das lamentações judaico escrito com as palavra “Hate” em letras de sangue por Robert Ramirez no LA times, ou do imbecil Jesus Cristo dos Monty Python ou das constantes sátiras xenófobas ao holocausto? Lembram-se da manifestações selvagens por todo o mundo? Lembram-se de vê-los a incendiar bandeiras? Lembram-se de terem apedrejado e incendiado embaixadas? Lembram-se de mortos e feridos, atentados e expulsão de estrangeiros dos países? Lembram-se da haverem ocidentais indignados com a falta de bom senso dos artistas e a apelarem ao respeito pelas religiões nestes casos? Lembram-se? Pois eu não. Nem ninguém. Porque nada disso aconteceu. É essa a diferença.
Os cartoons são fruto de uma opinião pessoal e são aceitáveis até ao ponto em que não incitam à violência directamente. Não me interessa perceber a opinião possivelmente xenófoba do autor porque não é isso que está em causa. Volto a repetir que não está em causa o conteúdo mas sim o direito à sátira, que nunca deverá ser limitada pois nunca foi nem nunca o deverá ser obrigatoriamente politicamente ou religiosamente correcta. Também convém relembrar que a nossa liberdade e o laicismo dos nossos governos foram conquistados com muitos infortúnios e esforço exactamente na Europa e justamente contra a intolerância religiosa.
As religiões não podem ser assuntos tabu onde existe democracia e o islamismo não pode fugir à regra! Nada é intocável do ponto de vista do escrutínio jornalístico e de opinião pública. A religião de roma e bizantina ( e todas as restantes formas de cristianismo) têm sido alvo de muitas sátiras ao longo dos últimos 50 anos, e, mesmo assim houve tolerância de costumes. Houve guerra de palavras e fomos assim evoluindo mutuamente, num clima cultural da tolerância, de liberdade, e de aceitação de diferenças. Num ambiente brando de aprendizagem recíproca. Por isso a religião cristã de hoje, apesar do conservadorismo em alguns pontos, evoluiu e conseguiu fazer-se sobrepor à mancha sanguinária de 700 anos de inquisição. E mesmo no mundo muçulmano e israelita os cartoons de âmbito religioso fazem parte do dia-a-dia e não são obviamente estes os responsáveis pelo conflito.
Mas é óbvio que isto ultrapassa largamente o caso da admissibilidade dos cartoons. Esta reacção não tem base religiosa mas sim política. Foi sim apenas mais um pretexto para o descerrar de uma guerra que só os fundamentalistas (muitos líderes políticos) desejam. Os desenhos foram publicados em Setembro de 2005 (quase há 5 meses) e em muitos jornais dos países de regime islâmico. Nunca houve indignação até hoje...depois da estranha reunião da conferência islâmica na Arábia Saudita em Dezembro de 2005 onde a nenhum não-muçulmano era possibilitado o ingresso mesmo que para fins jornalísticos. Reunião esta onde o principal orador era o ilustre “pacifista” Mahmoud Ahmadinejad, o presidente da república do Irão. É claro como a água que esta foi mais uma estratégia de manipulação massiva dos crentes, para que a opinião pública se esqueça das políticas domésticas e para que seja mais permissiva a possíveis actos futuros de terrorismo (mesmo verbal). Isto são factos deveras perturbadores, mas não me interessam muito aqui. Porque o que está em causa à priori é simplesmente o direito incontestável à liberdade de expressão, um valor de que não estou disposto a abdicar, um princípio inegociável principalmente quando as pressões são maiores.
Isto não é um jogo de modas nem se trata de tomar partido seja pelo que for porque não existe tal "eixo do mal". Não me queiram enfiar no grupo dos que acham que está em curso uma "guerra de civilizações" em que uma das frentes de batalha é a invasão do Iraque. Fui contra, sou contra e todos os dias as informações que vão chegando confirmam que a razão está do lado dos que estiveram contra. Para mim o 11 de Setembro teve uma resposta legítima na invasão do Afeganistão. A invasão do Iraque foi ilegítima e acima de tudo assente numa completa mentira (as armas de destruição massiva ou maciça). O que este caso dos cartoons provou foi apenas que estamos obrigados a defender os nossos valores cá, onde vivemos. E a não deixá-los contaminar por valores externos assentes na tirania, na intolerância e na irracionalidade.
Mas esta é a nossa compreensão de liberdade e é esta que eu quero sem criação de sentimentos de culpa ou recalcamento diletante. Não quero a do Irão, Egipto, Líbia, Síria, Palestina, Bali, Quénia ou Arábia Saudita com os seus constantes atentados aos direitos e dignidade humana. O Ocidente não é perfeito e não há sociedades superiores em abstracto mas é sem dúvida mais justo e decente de um modo global do que qualquer um desses países de regime ditatorial fundamentalista. Fico por isso indignado que certos sectores da nossa sociedade que nos habituaram a um constante criticismo da igreja católica tenham um peso e duas medidas só porque neste caso se trata da susceptibilidade islâmica. Deixem-se do politicamente correcto de pacotilha e abram os olhos de vez para a realidade! E deixem-se da desculpabilização da violência por factos de ordem social! Entristece-me a pobreza e a consequente imersão no religiosismo fanático, a corrupção e o fundamentalismo dos seus governos, mas isso não lhes dá qualquer tipo de legitimidade para recorrer à violência. O fosso entre o Ocidente e o Oriente islâmico existe e tem de ser visto com realismo e coerência de valores. Com muito diálogo mas sem abdicar obviamente do essencial.
A liberdade individual é o nosso maior ícone e também a nossa maior virtude e aqui não pode mesmo haver resignações de qualquer tipo.
Led
4 comentários:
Creio que é interessante dar uma leitura neste dois artigos:
http://daneshjoo.org/publishers/smccdinews/article_4511.shtml
http://daneshjoo.org/publishers/smccdinews/article_4512.shtml
Abraço
Apesar de bem vinda a insurreição contra a ditadura Iraniana este (bom) exemplo continua a ser uma gota de água no mar de intolerância e irracionalidade do mundo islâmico. Onde estão de facto os moderados islâmicos? Quem é que já ouviu declarações relevantes e significativas de líderes religiosos ou políticos islâmicos de peso, pondo água na fervura? E quem se atreve agora no mundo ocidental a publicar novos cartoons sobre o tal profeta (não meu) Maomé? Como disse CFA no Diário Digital, “...o que não se disse é que a turba que se manifestou nas ruas, queimou embaixadas e bandeiras, e ameaçou matar mais uns quantos «infiéis» do Ocidente em nome de um Alá misericordioso, conseguiu exactamente o que queria. A partir de agora, qualquer editor de jornal, qualquer caricaturista ou cartoonista, qualquer articulista ou jornalista, qualquer humorista, pensará duas vezes antes de se meter com o Islão. E qualquer governo tentará evitar que os seus jornais, jornalistas e caricaturistas, se metam com o poderoso Islão. O tal Islão «tolerante» e «pacífico» que vimos nos últimos dias a espumar da boca. Ou seja, Europa 0 Islão, 1.”
Obrigado pela contribuição.
Abraço.
É bem verdade que ainda não se viram nem ouviram vozes de peso fazerem "declarações relevantes e significativas", talvez pelo facto de serem vozes de peso. No entanto, temos de ter esperança na tal geração mais nova de iranianos que já virou costas ao regime islamita e procura a modernidade (ver o segundo artigo que deixei). E já agora, também esperar que não passem para o "lado negro da força".
Pode ser que venham a ser estas a vozes de peso das quais queremos ouvir as tais "declarações relevantes e significativas".
Abraço
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