Presidenciais

“Se se confirmar uma candidatura de Mário Soares ela dará de imediato todo sentido a uma eventual candidatura de Cavaco Silva. A candidatura de Soares será o protótipo do intervencionismo presidencial, ao modelo do seu segundo mandato, dominado pela utilização do lugar presidencial para derrubar a todo o custo o governo. Este intervencionismo será agravado pelas posições extremistas de Mário Soares em matérias tão importantes como a política externa, onde Soares está mais próximo do BE do que do PS, ou na economia, onde Soares tem hoje teses anti-capitalistas próximas dos movimentos anti-globalizadores, ou em matéria europeia, em que é um europeísta radical. Com Soares, mesmo para o PS e sobretudo para o governo do PS, a sua candidatura é sinónimo de instabilidade. Cavaco Silva, pelo contrário, é mais sensível ao que é meritório na actual situação: possibilidade de estabilidade política, governo de legislatura, política com elementos de austeridade (ver-se-á se continua...), moderação na política externa. Soares será o candidato da instabilidade e Cavaco da estabilidade.” Pacheco Pereira

Esta teoria da conspiração levantada por nomes sonantes da ala social democrata como Pacheco Pereira e Marcelo Rebelo de Sousa é de chorar a rir...nota-se obviamente um profundo mal estar e uma surpresa completa nestes exaustivos locutores do centro-direita ao conhecerem a notícia da possível candidatura do pai da democracia portuguesa. Este raciocínio de cabala política é completamente manipulador, demagógico e falso. Não passa pela cabeça de ninguém que Cavaco Silva vá facilitar a vida ao governo assim como Mário Soares seja sinónimo de instabilidade para o actual executivo...as ligações aos respectivos partidos são fortíssimas e prevalecerão sobre qualquer suspeita. É óbvia a preocupação e o desespero destes senhores que já pensavam terem as presidenciais no “papo”. Percebe-se que queiram fazer passar a custo esta imagem para a opinião pública pois não lhes resta outra alternativa. A possível candidatura de Mário Soares poderá ser suficiente em si para afugentar a de Cavaco Silva, pois se arrisca a sair ridicularizado da vida política nacional. O PSD ficaria aí sem um qualquer nome sonante para rivalizar com Mário Soares, indiscutível e experiente ganhador. Mário Soares não tem nada a perder pois já passou por todos os cargos e arrisca-se a vencer novamente. Por outro lado, confesso que não fico satisfeito com o regresso de Mário Soares ao mapa político pois este simboliza o contrário ao rejuvenescimento de uma sociedade democrática. O mesmo acontece com Cavaco Silva, este porém mais por razões ideológicas e porque penso que não tem carisma e cultura para uma figura presidencial. O facto de ser um bom economista não tem relevo nem é uma boa critério para ser um bom candidato presidencial. Essa não é a função de um presidente da república. Gostaria de ver Pacheco Pereira e Marcelo Rebelo de Sousa a ganharem coragem e a deixarem a facilidade populista das críticas televisivas e “bloguistas” para passarem à vida política activa candidatando-se eles próprios. É fácil opinar sem comprometimento , mais difícil é estar lá a dar a cara a todos os portugueses todos os dias! Não me parece então (e porventura felizmente) que seja desta que teremos um presidente do centro-direita. Pena que Jorge Sampaio tenha mesmo que deixar o cargo pois considero que foi um excelente presidente da república na actual conjuntura política e económica portuguesa. Moderado, simpático, inteligente, culto e sensível, as características fundamentais para um bom presidente.

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