E uma saudade mais funda, uma instantânea dissolução de todas razões de existir. Então ergo-me sem me erguer, porque na imaginação é que é tudo. Ou na memória. As coisas transcendidas à pureza da sua verdade nesta súbita opressão de uma casa vazia. Dou a volta ao escritório todo com um olhar, os móveis quietos no seu lugar, o sofá, os quadros, o vaso de vidro verde, os cortinados suspensos, filtrando a luz da noite até à intimidade comigo, tudo à espera de continuar a ser quotidiano, apelando a atonia...
...Eis que porém me recomponho, te arrebato à minha violência, rebento os ferros cruzados da nossa cumplicidade mútua, do nosso pecado comum, da nossa distância interposta. Corro liberto ao longo do areal deserto, o sol ainda ao alto, disparado de fulgor, o mar raiado no horizonte, injectado de grandeza às minhas veias, sou livre! Poderoso! Absoluto! Como poderia errar a juventude do meu sangue? Largo atrás o rasto do meu signo mortal e os meus olhos iluminam-se à evidência da luz oblíqua...corro desembaraçado e deixo toda a trampa metafísica opressiva para trás...vejo-te no extremo da rampa de areia e acenas sorridente...corro para despojar-me de uma vez, íntegro e esclarecido, todo no ar. Efémera a vida, eterna, tu – como poderia mentir-me a beleza feroz da minha raiva? Tu aérea, no horizonte da minha vida, my love, e a comoção do teu sorriso doçe desdobrado a um apelo infantil...
...Pelos vidros da janela deste escritório te relembro mais um pouco...No silêncio audível das coisas a noite cai devagar, uma aragem recompõe a respiração da terra...
Led
4 comentários:
Que ódio de quem sabe escrever as coisas como as sente. Dá-lhe miúdo, um abraço forte. gostei mesmo.
Thanx,bro!
Grande abraço.
Muito bom...Muito bom mesmo! Melhor só mesmo no blog http://fodaci.blogspot.com
Um digno sucessor de “Fugaz”.
Continua a escrever assim. É mesmo para isso que nascemos. Para sentir e partilhar com o Mundo.
Fica bem:)
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