Consternação, tristeza, sofrimento, mágoa. São tudo palavras do dicionário. Mas deixemos isso.
Esta noite assisti finalmente ao 2º programa “Zé Carlos”... e porque eu sou um gajo que não consigo mentir nestas coisas só posso mesmo dizer que o novo programa na Sic é mesmo:
Excelente! É muito bom. É bastante razoável. É mais ou menos, é fraquinho.
E digo isto porque tenho uma imensa saudade dos “Gato Fedorento”. Mais exactamente das primeiras 4 séries (Perfeito Anormal, Fonseca, Meireles e Barbosa) na Sic Radical, algures entre 2004 e 2005. Com escassos recursos mas compensados com uma infinita imaginação, inteligência, originalidade e ousadia. Humor aparentemente alheio à realidade, muitas vezes abstracto e sem um sentido único. Mas a crítica social estava lá toda nas entrelinhas. Gostava quando deixavam as interpretações para o espectador. Explicar em demasia é estragar tudo e faz de nós consumidores parvos. E no final, os escassos recursos (os mesmos locais de gravação, os planos amadores das câmaras, o guarda roupa diminuto, as musiquinhas reles de acompanhamento, etc) acabavam irremediavelmente por contribuir enormemente para o efeito cómico geral. Mas já sei. Vão dizer que era inevitável o desgaste e que o bloom de humoristas do género propalou o foco de singularidade para outras paragens no plano nacional. A verdade é que as faustosas séries na RTP e esta nova na Sic generalista mostram o lado social e conscencioso dos 4 humoristas em face do imediato concreto. Uma opção arriscada logo à partida. Mas julgo que o modelo directo não favorece a sua genialidade. Aliás, na minha opinião o modelo expirou há muito. A sedução por um horário nobre e por um público mais alargado acabou por diminuir o grau de exigência (deles e do público), subtraindo o humor erudito e imprevisível num humor mais funcional e aparatoso. O excesso obsceno de publicidade também não ajuda. Tornaram-se num produto de consumo fácil e rápido (lusco-fusco) e consensual (o pior que pode acontecer a um humorista). Acabou-se o humor pirata do boca em boca. Já todos lhes conhecemos os tiques, feitios, objectos da sátira e ódios de estimação. Arriscam menos e sente-se-lhes mesmo o desconforto pela rigidez das expectativas. O humor tornou-se muitas vezes vulgar, conformado e politicamente correcto. Não prende a atenção e desafia a inteligência como outrora. São eles próprios com as suas opiniões e portanto, humor assente em factos incontornáveis. Sorrimos, mas não gargalhamos. Ouvimos, mas logo esquecemos. De imprescindíveis para acessórios. Ganhou o humor a regra e esquadro com uma suave palmatória de causas sociais. Perdeu-se o desleixo, amadorismo e a vaga (e única) sensação de clandestinidade quando faziam rir a sério na sic radical. Tenho muita pena. Mas não quero ser mal interpretado. Continuam a ser os melhores e os maiores. Mas muito mal aproveitados. Na qualidade do humor, claro. Não nos shares de audiência. O que não deixa de ser irónico sabendo onde começaram.
Led
Esta noite assisti finalmente ao 2º programa “Zé Carlos”... e porque eu sou um gajo que não consigo mentir nestas coisas só posso mesmo dizer que o novo programa na Sic é mesmo:
Excelente! É muito bom. É bastante razoável. É mais ou menos, é fraquinho.
E digo isto porque tenho uma imensa saudade dos “Gato Fedorento”. Mais exactamente das primeiras 4 séries (Perfeito Anormal, Fonseca, Meireles e Barbosa) na Sic Radical, algures entre 2004 e 2005. Com escassos recursos mas compensados com uma infinita imaginação, inteligência, originalidade e ousadia. Humor aparentemente alheio à realidade, muitas vezes abstracto e sem um sentido único. Mas a crítica social estava lá toda nas entrelinhas. Gostava quando deixavam as interpretações para o espectador. Explicar em demasia é estragar tudo e faz de nós consumidores parvos. E no final, os escassos recursos (os mesmos locais de gravação, os planos amadores das câmaras, o guarda roupa diminuto, as musiquinhas reles de acompanhamento, etc) acabavam irremediavelmente por contribuir enormemente para o efeito cómico geral. Mas já sei. Vão dizer que era inevitável o desgaste e que o bloom de humoristas do género propalou o foco de singularidade para outras paragens no plano nacional. A verdade é que as faustosas séries na RTP e esta nova na Sic generalista mostram o lado social e conscencioso dos 4 humoristas em face do imediato concreto. Uma opção arriscada logo à partida. Mas julgo que o modelo directo não favorece a sua genialidade. Aliás, na minha opinião o modelo expirou há muito. A sedução por um horário nobre e por um público mais alargado acabou por diminuir o grau de exigência (deles e do público), subtraindo o humor erudito e imprevisível num humor mais funcional e aparatoso. O excesso obsceno de publicidade também não ajuda. Tornaram-se num produto de consumo fácil e rápido (lusco-fusco) e consensual (o pior que pode acontecer a um humorista). Acabou-se o humor pirata do boca em boca. Já todos lhes conhecemos os tiques, feitios, objectos da sátira e ódios de estimação. Arriscam menos e sente-se-lhes mesmo o desconforto pela rigidez das expectativas. O humor tornou-se muitas vezes vulgar, conformado e politicamente correcto. Não prende a atenção e desafia a inteligência como outrora. São eles próprios com as suas opiniões e portanto, humor assente em factos incontornáveis. Sorrimos, mas não gargalhamos. Ouvimos, mas logo esquecemos. De imprescindíveis para acessórios. Ganhou o humor a regra e esquadro com uma suave palmatória de causas sociais. Perdeu-se o desleixo, amadorismo e a vaga (e única) sensação de clandestinidade quando faziam rir a sério na sic radical. Tenho muita pena. Mas não quero ser mal interpretado. Continuam a ser os melhores e os maiores. Mas muito mal aproveitados. Na qualidade do humor, claro. Não nos shares de audiência. O que não deixa de ser irónico sabendo onde começaram.
Led
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