terça-feira, 23 de outubro de 2007

Este post não é original

Será preciso repeti-lo até à exaustão?
Toda a banda/artista que é original é diferente. Mas nem toda a banda/artista que é diferente é original. É fácil destoar pela diferença mas é muito mais difícil entoar pela originalidade. A originalidade vem de dentro para fora. A diferença é ao contrário. A diferença vê-se, a originalidade sente-se. A diferença gasta-se como a sola de uns sapatos, a originalidade perdura no imperscrutável. Assim uma é fácil e a outra é difícil. A diferença é uma fórmula, a originalidade é um modo de se ser e de se sentir. A diferença avalia-se com cautela e exibe-se no fim como uma medalha ao pescoço. A originalidade é inestimável e transmite-se pela emoção. Para se ser diferente vai-se ao barbeiro ou ao shopping das manias ou apregoa-se inconveniências anti-estatutárias. Para se ser original vai-se ter com o divino augusto e espera-se que nos toque. É fácil fazer música só com um ou dois acordes, ou atirar com as palavras à melodia e dispô-las como caírem, fazer serrado na guitarra, copiar trechos electrónicos de sons sem sentido e dispô-los anarquicamente na canção enganando uma falsa erudição, ou cortar o refrão aos bocados e dispô-los em vários tamanhos ou então omitir mesmo o refrão, ou fazer qualquer número de cambalhotas como um equilibrista. Haverá sempre um enciclopedista musical na esquina que aplauda a diferença com arrebatamento e distinção. Haverá sempre quem enalteça a mediocridade por cisma carneirista, ainda que o rei caminhe nu. Agora o que é difícil é sentir de um modo novo, recriar um mundo por sobre o que já foi recriado, ver o que os deslumbrados constitucionais não enxergam. Pôr seja o que for de pernas para o ar não deixa de ser o mesmo por estar invertido. Mas o artista original torna acessível um dos possíveis mistérios para uma nova acessibilidade. E essa nova acessibilidade é que é diferente na maneira profunda de a sentirmos. A originalidade é centrífuga. E só pode ser apreciada intimamente, sem o ruído de fundo da esperteza saloia. Vão-te apontar o dedo ou desprezar-te, provavelmente. Mas por isso é que é difícil ser-se original. A originalidade existe através de nós, a diferença é para os outros.
Led

4 comentários:

nuno disse...

tàs a falar do rui bandeira?

Ledbetter disse...

Ohh,não!Bastou eu conceber a imagem mental dessa figura para toda a minha teoria metafísica de originalidade ir ao ar. Obrigado, Peixeiro.
Devendra barbudo a varrer o lixo na rua, Rui Bandeiras a conduzir o autocarro 67 ... o que se seguirá neste thriller psicológico a que tu dás o nome de doutoramento em frança? Britney Spears a trabalhar numa loja de conveniência nocturna parisiense? O Macaco Adriano a guiar turistas pela Torre Eiffel? O Rui Santos sem gravata?


Deixa de beber, peço-te.

Unknown disse...

Hum... não sei exactamente o que dizer, especialmente depois dos comentários que li, mas gostei do texto.

Ledbetter, não te esqueças: Deus não é um astronauta. :)

Hugzz!

Ledbetter disse...

Será Deus pareccido com o Rui Bandeira?