Tudo o que é sólido se desmancha no ar, dizia o sociólogo Zygmunt Bauman. Li há tempos um artigo do Eduardo Prado Coelho sobre o pós-modernismo nas expressões artísticas, mormente na literatura e pintura. E o que dizia sumariamente nesse texto é que, depois do modernismo, que é o cansaço, o chateamento, a saturação do modernismo, não há o retorno a antes dele, que é o cansaço e o vazio e tudo o mais a dobrar. Assim o que há é a flutuação, hesitação, cinismo, derivação, neutro, ou seja, cinza (na pintura). O que há é o não se saber o que há e que isso se reflecte na maneira de estar da sociedade e singularmente na maneira da arte a representar. O que há é sobretudo o enrascanço de toda uma civilização ocidental sem saber por onde se referenciar. Até eu já me tinha apercebido, sem citações, menos palavreado e uma infinita ignorância, como se prova no modo urgente e despachado como o digo, modo pós-modernista. Porque a grandeza da vida tem agora o maior valor nela própria e não fora dela, numa qualquer ideia política, religiosa ou o mais. Acabado o tempo de se inventar razões fora dela, não se pode hoje justificar a vida senão nela. Será essa a nossa perdição ou a nossa libertação humanista derradeira. Isto se o planeta não se fartar de vez de nós e das nossas cogitações metafísicas de treta. Treta também é uma boa definição de pós-modernismo.
PS: Não sei o que é o pós-modernismo.
Led (obrigado pela imagem, Nuno)
PS: Não sei o que é o pós-modernismo.
Led (obrigado pela imagem, Nuno)
6 comentários:
Também não sei, mas não me parece nada de bom...
Engraçado que a ler este teu post, já encontrei mais 2 sinónimos para o que se anda a passar na minha vida: "Treta" e "Pós-Modernismo".
Fantástico!
Hugzz!
Antes demais deixa-me dar-te os parabéns pelo texto. Bem escrito e divertido. Há já algum tempo que conheço o termo pós-modernismo. E sempre o achei um conceito um quanto abstracto que nunca ninguém mo soube bem definir. Um conceito estranho para acomodar uma série de coisas, ainda mais estranhas. A melhor definição que sei é "a lógica cultural do capitalismo tardio". Ou seja, palavras simples numa construcção difícil. Pós-modernismo, conceito difícil de definir, que engloba pessoas com dizeres e fazeres um pouco estranhos, mas com algumas obras divinais. Não me parece que consiga haver uma definição universal de pós-modernismo, pois será sempre muito complicada, mas há um sentimento sobre o que é. E isso tem bastado. Senão, basta ler, ouvir, ver, todas as obras pós-modernas que aí andam.**
" Quando Deus desaparece, coloca-se-nos um dilema. Os valores devem referir-se a algo, devem vir de algum lugar. Num mundo sem Deus, era dificíl implantar um sistema ético e moral. As ideologias vieram fazê-lo, substituí-los, mas também fracassaram, e é por isso que agora não temos nada. E os iPod não vão construí-lo. nem a compra e venda ou a publicidade. Esses valores em que vivemos, do consumismo, do ganhar dinheiro, não são nada.Por outro lado, as intenções de construir ideologias positivas, que se baseiam na ecologia, na antiglobalização, etc, são muito infantis, imaturas. A nossa sociedade desliza pela memória que lhe resta. Vive dos restos."
Jonathan Littell
Restos seria também uma boa definição para esta travessia no deserto.
Obrigados a todos.
Bom Ano! Noto alguma melancolia...alguma tristeza. Espero que estejas bem** Luna (vou aceitar o desafio das m'usicas de 2007).
Bom ano tb para ti, menina!
Tristeza não, impressão tua. Melancolia sim, como sempre.
Estou à espera da tua lista da melhor música saída em 2007 e de uma visita um dia destes, quem sabe!
Bjitos
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