Os blogs. O meu blog. A popularização das confissões e delírios líricos e poéticos pela blogosfera. Entendo o que em parte me reprime nessa teia vaidosa de intenções, maioritariamente patéticas de precocidade, onde honestamente me revejo. Mas gostava de compreender o outro lado por palavras. A sua entrada no domínio público. O mesquinho extravaso da bisbilhotice requintada. Uma certa forma de virar do avesso os escritos para se saber o que há lá dentro e os expor ao sol. Qualquer coisa assim e não sei. E neste modo de não ser em recato, a perda do sagrado, a sua profanação. E isto acompanhado de comentários de apoio, de análises críticas, de explicações, de uma forma de lhe devassar a sua intimidade. Por vezes o “blogger” ainda se isola para se cumprir. Mas é quase uma formalidade imediatamente desfeita na sua divulgação. Não se trata de que a "plebe" seja excluída do acesso ao desabafo lírico da sua experiência individual. Trata-se de ela ser exposta ao sol, ser um artigo transaccionável como o papel higiénico, de se falar de sensibilidade íntima como de uma mulher pública. Trata-se de lhe prostituir o que por vezes há nela de sublimidade e recato e discrição e mistério. Trata-se de a neutralizar, de a obrigar a despir o enigma. Ou uma coisa assim. Por outro lado, ser sintético, resumido, anti-retórico, enigmático para esconder o enxuto, asséptico, niquelado, de fácil digestão. Parece uma fórmula inesgotável para se ser em cultura e ainda atrair público. Mas nunca se anotou que para se ser eficiente no resumo é preciso qualidade naquilo que se resume. A mediocridade banal é sintética e não cheira mal. Mas não deixa de ser medíocre. Portanto, porque volto aqui? Por auto-flagelação? Por vício irreprimível? Aprecio cada vez mais quem pratica o pudor de vez em quando, mantém-nos terrenos. Mas ainda sim...De vez em quando o blog espreita de lado, esquecido das minhas intenções. Viro a minha cara, faço que não vejo. Não me apetece escrever, nem opinar, quase não me apetece ser. E tudo o que é de me apetecer não se ergue da cadeira em que me espalho, inerte, pasmado para o aquecedor, para o sol que brilha para lá dos cortinados da janela ao fundo. Não mudamos com a idade na disposição do que somos. Apenas, como na música, somo-lo noutra acentuação. Porque volto aqui? Está sol mas há frio. Ouço uma zaragata de cães para o espaço das matas. Há um cão a ganir e outros a ladrar decerto por solidariedade. Vozes longínquas. Uma motoreta passa na estrada em frente com o seu ruído estralejado. Frio coalhado, frio adstrito, frio cristalizado. E a nulidade em mim para ser qualquer coisa em face disso e vir aqui confessá-lo.
Led