sábado, 29 de dezembro de 2007

Hiato

Os blogs. O meu blog. A popularização das confissões e delírios líricos e poéticos pela blogosfera. Entendo o que em parte me reprime nessa teia vaidosa de intenções, maioritariamente patéticas de precocidade, onde honestamente me revejo. Mas gostava de compreender o outro lado por palavras. A sua entrada no domínio público. O mesquinho extravaso da bisbilhotice requintada. Uma certa forma de virar do avesso os escritos para se saber o que há lá dentro e os expor ao sol. Qualquer coisa assim e não sei. E neste modo de não ser em recato, a perda do sagrado, a sua profanação. E isto acompanhado de comentários de apoio, de análises críticas, de explicações, de uma forma de lhe devassar a sua intimidade. Por vezes o “blogger” ainda se isola para se cumprir. Mas é quase uma formalidade imediatamente desfeita na sua divulgação. Não se trata de que a "plebe" seja excluída do acesso ao desabafo lírico da sua experiência individual. Trata-se de ela ser exposta ao sol, ser um artigo transaccionável como o papel higiénico, de se falar de sensibilidade íntima como de uma mulher pública. Trata-se de lhe prostituir o que por vezes há nela de sublimidade e recato e discrição e mistério. Trata-se de a neutralizar, de a obrigar a despir o enigma. Ou uma coisa assim. Por outro lado, ser sintético, resumido, anti-retórico, enigmático para esconder o enxuto, asséptico, niquelado, de fácil digestão. Parece uma fórmula inesgotável para se ser em cultura e ainda atrair público. Mas nunca se anotou que para se ser eficiente no resumo é preciso qualidade naquilo que se resume. A mediocridade banal é sintética e não cheira mal. Mas não deixa de ser medíocre. Portanto, porque volto aqui? Por auto-flagelação? Por vício irreprimível? Aprecio cada vez mais quem pratica o pudor de vez em quando, mantém-nos terrenos. Mas ainda sim...De vez em quando o blog espreita de lado, esquecido das minhas intenções. Viro a minha cara, faço que não vejo. Não me apetece escrever, nem opinar, quase não me apetece ser. E tudo o que é de me apetecer não se ergue da cadeira em que me espalho, inerte, pasmado para o aquecedor, para o sol que brilha para lá dos cortinados da janela ao fundo. Não mudamos com a idade na disposição do que somos. Apenas, como na música, somo-lo noutra acentuação. Porque volto aqui? Está sol mas há frio. Ouço uma zaragata de cães para o espaço das matas. Há um cão a ganir e outros a ladrar decerto por solidariedade. Vozes longínquas. Uma motoreta passa na estrada em frente com o seu ruído estralejado. Frio coalhado, frio adstrito, frio cristalizado. E a nulidade em mim para ser qualquer coisa em face disso e vir aqui confessá-lo.
Led

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Your future's bleak, you're so last week


Tudo o que é sólido se desmancha no ar, dizia o sociólogo Zygmunt Bauman. Li há tempos um artigo do Eduardo Prado Coelho sobre o pós-modernismo nas expressões artísticas, mormente na literatura e pintura. E o que dizia sumariamente nesse texto é que, depois do modernismo, que é o cansaço, o chateamento, a saturação do modernismo, não há o retorno a antes dele, que é o cansaço e o vazio e tudo o mais a dobrar. Assim o que há é a flutuação, hesitação, cinismo, derivação, neutro, ou seja, cinza (na pintura). O que há é o não se saber o que há e que isso se reflecte na maneira de estar da sociedade e singularmente na maneira da arte a representar. O que há é sobretudo o enrascanço de toda uma civilização ocidental sem saber por onde se referenciar. Até eu já me tinha apercebido, sem citações, menos palavreado e uma infinita ignorância, como se prova no modo urgente e despachado como o digo, modo pós-modernista. Porque a grandeza da vida tem agora o maior valor nela própria e não fora dela, numa qualquer ideia política, religiosa ou o mais. Acabado o tempo de se inventar razões fora dela, não se pode hoje justificar a vida senão nela. Será essa a nossa perdição ou a nossa libertação humanista derradeira. Isto se o planeta não se fartar de vez de nós e das nossas cogitações metafísicas de treta. Treta também é uma boa definição de pós-modernismo.


PS: Não sei o que é o pós-modernismo.

Led (obrigado pela imagem, Nuno)

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Radiohead - "In Rainbows" (Disc 2)


Pois é, falamos de Radiohead mais uma vez! De acordo com os planos, a muito antecipada caixa-disco “In Rainbows”(chega às lojas europeias no dia 1 de Janeiro) já foi entregue a alguns fãs que tinham feito a pré-encomenda (claro que, como eu fico sempre para último, a minha deve chegar apenas na próxima semana) . A caixa contém as versões em Vinil e em CD do álbum ( finalmente com qualidade a rondar os 360kbps), um booklet com as letras, um vale de compras no valor de 3 euros no Carrefour, uma assinatura válida por um ano como sócio do SLB, uma fotografia assinada de Chávez com o título “No me lo calo”, a confissão vídeo de Bin Laden como raptor da Maddie, o vídeo porno da Paris (com extras), e, finalmente, mais importante que tudo, um segundo CD com 8 canções bónus.

Inevitavelmente este CD bónus já escapou para a redoma da net e eu próprio já consegui ter acesso a 6 dos 8 temas ( a recordar: 1. "MK 1", 2. "Down Is the New Up", 3. "Go Slowly", 4. "MK 2", 5. "Last Flowers (till the hospital)", 6. "Up On The Ladder", 7. "Bangers and Mash", 8. "4 Minute Warning").


Mais palavras para quê?
Aqui vos deixo então a versão do álbum do tema “Down Is The New Up(para ouvir, carregar play, esperar algum tempo para fazer o download e voltar a carregar play quando estiver concluído) . Impecável...
Led