domingo, 11 de fevereiro de 2007

Sim!!!


Led


15 comentários:

Bárbara disse...

SIMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM!!!!!


jinho!

Ledbetter disse...

Apesar da abstenção foi uma vitória inequívoca! A ver vamos como será daqui para a frente, mas abriu-se com certeza um raio de luz sobre os direitos das mulheres no nosso país, contra toda a hipocrisia de tutela clerical intimamente machista e avessa à modernidade e à liberdade individual! Demos finalmente mais um passo na direcção certa!Yes!
**

Carreira disse...

ynVotei não e faria-o de novo! Espanta-me que tu, que há bem pouco tempo tinhas dúvidas sobre o que votar, esteriotipes todos os do não com essa expressão típicamente minimalista e radical: "contra toda a hipocrisia de tutela clerical intimamente machista e avessa à modernidade e à liberdade individual!"
Ainda gostava que me explicasses onde há o machismo do meu não. Onde atenta o meu não contra a liberdade individualidade? ONDE?
E apesar da maioria a votar ter sido a favor do sim, acho que sabes que, quem de facto ganhou, foi a Abstenção (e não me argumentes com o facto de existirem pessoas falecidas ainda recenseadas - são poucas em termos percentuais), tornando este referendo não vinculativo. Com uma sociedade despreocupada assim para estes temas será que "demos mais um passo na direcção certa"???
Abraço

nuno disse...

pessoas falecidas nos cadernos eleitorais,

http://acorianooriental.sapo.pt/noticia.asp?pid=17&nid=75481

600 mil. mais coisa menos coisa.
ora, 8832628 eleitores inscritos menos 600000 dá 8232628 eleitores "a sério". sendo que votaram 3851613 , ficas com 53% de abstenção. continua a não ser vinculativo.

perdi 6mins a fazer estas contas. que era o que tu, carreira, deverias ter feito antes de escreveres isso. :)

nuno disse...

se o tivesses feito, teria o teu texto bastante mais valor factual. ou numérico. ou isso, seja.

Ledbetter disse...

Não queria voltar a entrar na polémica aberta porque acho que já fui bastante claro anteriormente e voltar a entrar na discussão não só seria infrutífero como extemporâneo. A visão do feto como vida humana que deve ser protegida parte de uma matriz ética católica e esta não pode impor um proselitismo partilhado por um grupo através do aparelho de um estado laico. A opção pela IVG constitui, a não ser nos casos patológicos, uma decisão muito difícil, tomada após um doloroso conflito interior, e sustentada na constatação da impossibilidade de assumir a maternidade, por razões que podem ser muito diversas, desde motivações íntimas ou sentimentais até razões de ordem económica ou social. Mas essa opção só pode ser tomada pela única juíza conceptível que é a própria mulher, penso que é aqui a fonte de todas as discussões.. O “sim” propunha uma regulação da IVG que respeitava o direito da mulher à maternidade consciente e responsável. A sua vitória” no referendo foi um passo decisivo para enfrentar o problema médico, social e humano do aborto clandestino, para resgatar as mulheres de uma ignominiosa perseguição penal e para lhes reconhecer o direito à maternidade consciente e à cidadania responsável e plena. Só queria ainda deixar bem claro que as minhas dúvidas radicavam no discussão ética/científica sobre o conceito de vida humana e isso nenhum referendo pode determinar, por razões que são mais que óbvias. Sobre a pergunta e sobre o que estava verdadeiramente em causa nunca tive dúvidas: se a mulher que aborta deve ser ou não punida, e se não sendo punida deve poder interromper a gravidez, repito, em certificadas condições de saúde e de higiene. O referendo ditou uma maioria clara e significativa e a abstenção alta só vem a confirmar uma constante falta de civismo em todas as eleições em Portugal, a começar por exemplo no referendo de 1998, que também não foi vinculativo legalmente mas foi-o politicamente e assim a lei anterior acabou por ficar no código penal. As razões do teu voto desconheço-as mas o resultado prático foi o apoio à manutenção da condição de criminosa para um mulher que aborte até às 10 semanas .

Ledbetter disse...

Nuno, acho que não te apercebeste que o Carreira concluiu o mesmo que tu.
Carreira, quem ousar levantar esse argumento das 600 mil pessoas que contribuíram significativamente para a abstenção desconhece de facto os verdadeiros números da coisa. Mas não foi isso que eu te disse, pois não? Disse que achava mal que essas pessoas continuassem nos registos eleitorais porque contribuiriam para a abstenção. È diferente, não é? O facto de a votação no referendo ter ficado abaixo dos 50% não afecta a "legitimidade" do referendo, mas sim somente a sua eficácia vinculativa.
Mas tu deverias saber que qualquer que fosse o seu resultado, o Primeiro-Ministro já tinha anunciado que, tal como em 1998, iria respeitar a vontade dos eleitores: o aborto voluntário até às 10 semanas deixaria de ser crime, se o "sim" vencesse; e continuaria a ser crime , se o "não" triunfasse. Acho que ele não de podia ter sido ser mais cristalino. Não percebi se duvidas da utilização do instituto do referendo para tomar decisões em matérias como estas (estarias em oposição ao Marcelo Rebelo de Sousa porque foi ele que o “inventou” e em consonância com o PCP que insistia na falta de consulta popular) mas apesar de tudo houve um significativo aumento da votação (perto de 13%) e por muito que a participação relativamente baixa continue a suscitar preocupações, a campanha parece ter suscitado um envolvimento muito considerável dos cidadãos. Acho complicado defender a ideia de que não estamos hoje mais informados sobre a questão do que estávamos há uns meses, não achas?

Carreira disse...

olá de novo! Primeiro, agradeço ao Nuno pela factualidade dos números. Depois queria dizer-te led, que acabaste por fugir por completo às questões que te coloquei e que são bem claras. Se votaste "Sim" estás no teu direito, e estou certo que de entre os muitos "Sins", o teu foi em consciência e de alguém conhecedor da legislação que agora vai ser alterada, ou seja: o aborto poderá ser praticado legal e livremente em caso de violação, em caso de mal formação do feto, em caso de se tratar de uma menor de dezasseis anos e em caso de constituir a gravidez grave perigo para a saúde física ou psicológica da mãe. Mas o que acho inadmissível da tua parte é colocares no mesmo "saco" todos os que votaram Não. Considero pouco, muito pouco, por parte de alguém que conheço bem e com quem gosto de ter boas e sérias discussões/debates.
Se um dia quiseres saber os meus argumentos poderás sempre dar um pulinho ao meu estaminé virtual e aí sim fazer os teus juízos de valor e críticas. Só queria fazer uma achega ainda ao assunto Primeiro-Ministro. Se bem te recordarás, desde o último referendo, nada foi feito em termos de Educação Sexual (a legislação portuguesa prevê a educação sexual) e até mesmo o planeamento familiar, que é gratuito, continua a não chegar a todos. Ora, interpreto a tomada de posição do primeiro ministro como uma atitude "despótica, chantagista e muito pouco democrática", afirmando que caso ganhasse o não, a actual lei não seria revista. Revelou muita preocupação pelas condições nas quais as mulheres se sujeitavam ao aborto, tanta que não se encontrava disposto a interpretar o "não" do referendo: sabes, é possível mudar as coisas se tivermos vontade para isso. Acho que o aborto não deveria passar a ser a regra mas sim a excepção. Se puderes vê mesmo o meu estaminé...não me vou perder em explicações e argumentos, apesar de, ao contrário de ti, acho que esta discussão não é "infrutífero e extemporânea".
Já agora, uma ferroadela. Não achas "interessante" ontem, sim ONTEM, dia 12 de Fevereiro de 2007 duas clínicas espanholas e uma inglesas estarem já com um pé (senão com os dois) em Portugal para abrir em breve?! Coincidência ou lobbie?
Abraço

Ledbetter disse...

Caro Carreira... mas será que eu li bem?? O PM devia interpretar o "Não" do referendo??? Mas qual dos "Nãos"? O "Não" que não quer IVG até ás 10 semanas? Ou o "Não" que não se importa que seja até às 10 semanas mas impõe concessões (morais, físicas, psicológicas, temporais, económicas....) por uma entidade sentenciadora (estado, médicos, família) à mulher que opte por abortar? Ou ainda o "Não" que não quer IVG por completo? Ou por último (será?) o "Não" dito “moderado” que, cheio de compaixão e compreensão pela mulher que aborte, quer a isenção de penas de cadeia mas não a descriminilização? Achas concebível num estado de direito que o teu Não se pudesse impor aos outros "Nãos" e ainda ao "Sim"? Não te parece no mínimo inconstitucional? Achas que o teu renovado "Não" da última semana vale mais que o "Não" dos outros eleitores para que seja legitimado pelo PM? Esta posição além de ter surgido na última semana de campanha, revelando um claro sentido doentio de oportunismo, denuncia sobretudo uma tremenda falta de respeito pelo eleitorado e uma incompreensão do significado de um referendo.

Mas vamos então ao teu "Não" politicamente correcto, o tal dito liberto de extremismos, não haja cá sentimentos de culpa! Mais uma vez...a gelatina de argumentos do "Não" regressa em força! Pois se, afinal, os adversários da despenalização abdicam da ameaça de punição das mulheres que abortem, onde fica a intransigente "defesa da vida", na qual basearam todo o seu discurso moral contra a despenalização? E onde fica o argumento anterior de que a despenalização eliminaria qualquer limitação ao aborto? Pois é. O aborto continua clandestino, mas ressocializa-se com a confissão publica do acto pecaminoso como diziam alguns ou ainda pela substituição das penas de prisão por trabalho comunitário como diziam outros. Imagino se alguma mulher alguma vez teria ousadia de entrar num hospital para interromper a gravidez sabendo que iria continuar a ser humilhada pela designação de criminosa ou pelo enxovalho indecente de ter de cumprir trabalho comunitário. Isso era de facto uma medida mesmo infalível para acabar com o aborto ilegal... Essa recente posição parte invariavelmente da falácia que consiste em reduzir todo o problema em causa à possibilidade de julgamentos e condenações e sempre escamoteando que o problema de fundo é a existência do aborto clandestino – na verdade, algo que, por silencioso e pouco divulgado, jamais tirou o sono ou sobressaltou a consciência a...X% dos votadores deste "Não" alternativo. Face a este aventado novo Não a transbordar de moderação e comedimento, basta saber ler e pensar um pouco, não sendo necessário ser diplomado em direito para se concluir que ela apenas conduziria à não aplicação de uma pena mantendo entretanto os julgamentos, os processos, os interrogatórios, as investigações, as humilhações e a manutenção de um epítopo de criminosa para a mulher que aborte. Tudo visto, haverá com certeza excepções, mas através de propostas como esta ficamos a saber que, do lado do "Não", podem não faltar estudadas palavras de complacência pelas mulheres que abortam mas que isso é apenas a cortina protectora que esconde uma estrutura mental, uma ideologia religiosa e uma cultura que, de facto, as vê como seres levianos, imaturos e irresponsáveis (será que está aqui a oculta palavra Machismo que tu tanto puxas por ma arrancar?). Agora acusar Sócrates de estar a agir mal quando sempre disse que se o "Não" ganhasse, a lei seria mantida e cumprida, é da mais absoluta falta de sentido do que é o Estado de Direito. Querias votar não num referendo sobre despenalização da IVG e depois se o ganhasses, querem que afinal se despenalize? Quem é que percebe, este despenalização "Não", mas talvez "Sim"...? Os portugueses que votaram "Não" à despenalização, votaram por manter a penalização (e, logo, a criminalização) do aborto. Nestas circunstâncias não é possível uma solução de comprometimento. Pedir uma solução de compromisso e contorcidamente apelar ao voto no "Não" à despenalização só tinha um nome: hipocrisia. Por isso, quando José Sócrates garantia que não haveria alterações à lei no sentido da despenalização se o "Sim à despenalização" no referendo ganhasse, não era por casmurrice, amuo ou despotismo: estava a garantir que se cumpre aquilo que a maioria determinar num referendo promulgado. Faz parte da democracia.

Por último: As pessoas do "Não" têm os seus valores e têm a liberdade para viverem de acordo com eles. A lei mudou mas eles continuarão a poder fazê-lo sem reprovação. Mas uma percentagem significativa de portugueses não tem, neste momento, a mesma liberdade para terem as suas convicções postas em prática. Na situação da ainda lei actual , o estado português protege os valores específicos dos defensores do "Não" e não garante a liberdade de escolha aos restantes portugueses . Percebes finalmente porque é que o teu voto foi no sentido de limitar a liberdade individual para optar? A decisão de criminalizar uma conduta pessoal não pode estar dependente de apreciações ou concepções morais, e não compete ao Estado tomar partido, com as leis penais, em matérias que geram uma elevada controvérsia social. Para o "Não", havia um princípio moral indiscutível que implica a existência de um crime. Mas apesar de tentarem de várias maneiras desvirtuar o referendo enredando a questão que foi a votos em artifícios retóricos tentando confundir tudo e todos , os defensores do "Não" nunca se afastaram dessa instrumentalização do Código Penal. O "Sim" foi um voto pela liberdade de escolha de toda a gente - incluindo dos defensores do "Não". O voto no Não era, pelo contrário, um voto que pretendia tomar decisões pelas outras pessoas, impondo uma visão específica (e não apenas defendendo a sua, já que essa continuará salvaguardada). O Sim acrescentava. O "Não" continuava a deduzir.

Peço desculpa pelos possíveis erros ortográficos mas espero que esteja tudo claro na minha posição.

Abraço.

Carreira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carreira disse...

Uma das coisas que menos gosto nas nossas discussões é o facto adoptares quase sempre um discurso radical, inflexível e abrupto na tua forma de argumentação. Mas também, por outro lado, acaba por ser isto que me dá um certo gozo. Afinal, as perguntas que te fiz continuam por responder na sua maioria. Gostei da forma como respondeste ao meu comentário das novas clínicas que em breve terão, também elas, novos clones. Achei que em nada a tua longa e vasta argumentação anula o meu Não. Orgulho-me de ter votado não, após decisão consciente e ponderada. E não me decidi na última semana, erras quando o dizes, será porventura bem melhor não falares do que não sabes. Mas vamos por partes.

Tópico PM:
Acho que se te esforçares perceberás, sem caíres na tentação de ridicularizares as minhas palavras (atitude nada coincidente com a tua moral democrática), que o que pretendia dizer era que SE ganhasse o não, seria o sinal de que a proposta de lei a ser aprovada não seria a mais correcta – e é isto que eu defendo – devendo ser feita a devida análise a este resultado. Considerei completamente chantagista a tomada de posição do PM repito. Acho ainda que uma coisa é descriminalização da mulher e outra coisa é a liberalização do aborto até às 10 semanas – foram ambas (e essas sim!) colocadas no mesmo saco. Acho que tu o sabes, e bem, mas é sempre melhor “gozar” com ironia o não que eu defendo: é sempre bom brincar um pouco com estes assuntos, assim com alguma leveza, que por vezes te é característica.

Tópico O meu não:
Quando consideras o meu sentido de voto doentio de oportunismo, politicamente correcto, denunciando uma tremenda falta de respeito pelo eleitorado e incompreensão do significado de um referendo apetece-me perguntar então o que é este teu comentário senão uma tremenda falta de respeito pela minha opinião? Não estarás a ser anti-democrático ao referires-te assim ao meu voto? Depois há o facto de eu ter votado não, pelo me parece ter percebido o que significa um referendo: afinal, exerci o meu direito de voto, votando numa duas opções plausíveis. Não confundas a explicação dum voto, com o voto propriamente dito.
Ah, e um comentário, quando falas de sentimentos de culpa isso será algum ressabiamento? Não percebi… O que percebi foi que o tal discurso moral, democrático e completamente ciente do mundo real que tu tens faz parte dum Sim que sempre se debateu contra a penalização da mulher que aborta, mas sempre se manifestou contra o aborto. Contraditório não? Ah, mas já sei a resposta para esta pergunta. São os defensores do Sim, são os democratas, os que defendem “intransigentemente a vida”. Decerto não te revês também no SIM que é a favor do aborto, sem limitações de tempo (ou seja, para lá das 10 semanas)! Daí eu te chamar a atenção de que, não deves generalizar! Preferes atacar…é mais simples!

Tópico Sócrates, novamente:
Discordo peremptoriamente de que caso ganhasse o não a lei não merecesse ser discutida. Acreditas numa verdade una? Numa única forma de chegar a uma solução? Eu não! E penso que é isto o Estado de Direito – discutir várias possibilidades para chegar à melhor, e não “papar” tudo o que nos metem à frente (isso acho que se chama Fascismo). Caso contrário, se preferes achar que para despenalizar o aborto há que inevitavelmente liberalizá-lo, o teu voto faz todo o sentido. Eu separo as coisas… Acho que a lei que será aprovada é fraca, deveria impor limites ao aborto e sim, deveria penalizar mulheres que abortem sem motivo aparente. Ou achas que se revela interesse em resolver algo quando se afirma que caso vença o Não, não há volta a dar e fica tudo assim! Era necessária uma interpretação do não - percebes

Da Hipocrisia:
Hipocrisia é uma palavra forte demais quando usada desmedidamente, como tu o sabes fazer tão bem. Deves gostar de apelidar todos os que votaram não de hipócritas, sendo que a hipocrisia em muitos dos teus comentários roça o caricato. Ah, caso ganhasse o não, não era uma vitória minha (a certa altura dizes “ganhasses”), afinal há que ser democrata, ou só os do sim é que são?

O meu voto limitador:
Eu sempre percebi que o meu voto era no sentido de limitar a liberdade de alguns para optar. Nunca o duvidei, mas tu sim, pensaste que não o tinha percebido! Percebes tu porque? Não achas que o papel do pai é negligenciado, por exemplo?

A Conduta pessoal:
Com esta quem fica espantado sou eu, até a vou transcrever: “A decisão de criminalizar uma conduta pessoal não pode estar dependente de apreciações ou concepções morais, e não compete ao Estado tomar partido, com as leis penais, em matérias que geram uma elevada controvérsia social.” Como não? Então o Estado deve lavar daí as suas mãos e acabou? Como podes assumir isto? UM homicídio é crime, mas nem todos os homicidas devem ser presos não achas? Cada caso é um caso e cabe ao estado e aos seus aparelhos jurídicos/judiciais fazer essa análise casuística.

O Sim solidário:
Pelos vistos, e pelo que assumes no final, votaste um duplo sim, um sim para a despenalização das mulheres, que de facto devem sê-lo, mas também um sim ao aborto livre - afinal este teu Sim solidário vai ser extremamente útil aos do Não também, caso algum dia necessitem dum aborto a pedido. Obrigado, mas não obrigado pelo teu Sim de elevado valor acrescentado. O aborto clandestino continuará, infelizmente, e proliferarão as clínica privadas (já foi dado o mote). A própria Ordem do Médicos assumiu publicamente que não temos uma estrutura capaz de suportar esta liberalização do aborto….mas o futuro o dirá, com mais certezas.

A tua posição ficou clara, assim como a minha! Espero que finalmente tenha ficado clara. Se não ficou, acho que saberás onde te esclareceres. Por aqui, acho que chega de discussão e contra discussão que eu e tu, respectivamente, temos promovido.
Abraço

Ledbetter disse...

Dispensava o paternalismo do gozo que te dá veres-me a ser “inflexível, radical e abrupto”, pois surpreendemente ao que possas julgar , tenho exactamente a mesma ideia do teu discurso e acho embaraçoso que constantemente nas nossas discussões quando te vês perder a razão ou não tens meios como suportá-la lá vem o enfado slogan de embalagem de eu ser inflexível e radical e extremista e sei lá mais o quê.

Gostaria de assinalar que para mim, neste caso objectivo, inflexível só pode ser a tua incapacidade de leres o que escrevo em cada comentário e de responderes a ele em conformidade sem vires para aqui repetir discursos pré-mecanizados ou trazeres para aqui a soberba de eu não ter anulado a tua argumentação em nada pois as tuas próprias incoerências entre comentários o poderiam atestar.
Um exemplo cabal disto mesmo pode ser encontrado logo no teu último comentário:

“Eu sempre percebi que o meu voto era no sentido de limitar a liberdade de alguns para optar. Nunca o duvidei, mas tu sim, pensaste que não o tinha percebido!”

Ainda bem que percebeste! Mas depois conciliado com a tua questão na tua primeira crítica com um “onde” em letras garrafais para eu ouvir melhor:

“Onde atenta o meu (voto) não contra a liberdade individual? ONDE?”

...podia deixar pessoas imparciais a julgar que existiam aqui dois Carreiras com opiniões bem diferentes. Permanecerá a dúvida...

Depois ainda há uma certa tendência tua em te focares não no que eu escrevo mas na interpretação das minhas imagináveis intenções ao fazê-lo, como se estivesse sempre a falar do teu caso individual. Quando nos incutimos à tarefa de analisar o rescaldo de uma qualquer eleição temos de ter sempre em conta que falamos das ideias gerais defendidas por cada grupo, seria impossível não usar estereotipos ou concepções gerais ao examinar as duas grandes massas votantes. Estás com certeza incluído numa delas mas como é óbvio nem tudo se aplicará ao teu caso, nem me interessava mesmo discutir desse ponto.

Depois lá voltaste tu a dizer que eu não tinha respondido às tuas questões mas, e agora dás-me o benefício de ser eu trazer uma certa dose de condescendência , explicar e responder mais exaustivamente do que eu fiz é trabalho divino ou pelo menos para um missionário! Mas resumamos as tuas questões para não restarem dúvidas e procuramos de seguida as minhas respostas:

1) “Ainda gostava que me explicasses onde há o machismo do meu não.”
Acho que foi respondida várias vezes, não achas? Há uma tendência acentuada da grande maioria dos votadores Não, mesmo de muitos ditos moderados (ainda que inconscientemente) em reterem uma imagem da mulher como um ser devasso, adultero e infantil , incapaz de gerir a sua própria vida e as próprias opções. Essa concepção está fortemente enraizada na nossa cultura judaico-cristã e é muito mais visível nos meios rurais apesar de se manter sobre uma cobertura subtil de valores progressistas em muita gente erudita que votou não.

2) “Onde atenta o meu não contra a liberdade individualidade? ONDE?”
Também me parece que esta esteja mais que discutida, não? Foi a base de todos os meus argumentos.

3) “Com uma sociedade despreocupada assim para estes temas será que "demos mais um passo na direcção certa"???”

Está inclusa em tudo o que eu escrevi. Acho que sim! Por isso votei em coerência.

4) “Acho que sabes que, quem de facto ganhou, foi a Abstenção.”

Esta não tem o formato de questão mas achei por bem voltar a realçar que “acho que sei mais do que eu sei” (!!) do que tu. O referendo ditou uma maioria clara e significativa, o Sim venceu nas urnas e eu considero que a nossa sociedade ficou a ganhar com isso.

5) “Pessoas falecidas ainda recenseadas”

Está tudo dito nesta matéria, não está?

6) “Mas o que acho inadmissível da tua parte é colocares no mesmo "saco" todos os que votaram Não.”

Descansa que não te catalogo no mesmo saco das facções mais radicais do Não onde vimos de tudo um pouco: a carta intra-uterina à mãe, as lágrimas de Nossa Senhora, os panfletos com fetos de três meses estraçalhados e as teses revolucionárias (embora empíricas) segundo as quais os embriões já sentiriam dor às nove semanas. Mas o mais baixo, no sentido literal, a que se chegou, conforme noticiou o JN, esteve nas escadas de uma estação de em Lisboa onde os transeuntes seram obrigados a pisar as seguintes frases, grafitadas a vermelho e negro: "Ajudem-me, por favor"; "Tenho dez semanas"; "Não me pisem". Parece mentira mas é verdade. Entre as frases, pequenas manchas a imitar sangue. Por outro lado já tenho algum comedimento em não te relacionar com os votantes do ‘não’ que passaram a defender que houvesse pena, mas não de prisão, para não impressionar as pessoas. Que pena, então? A melhor sugestão veio de Bagão Félix tomando como base a proposta de lei de Rosário Carneiro ( de quem nunca teve em conta na Assembleia durante 9 anos) : trabalho comunitário, ou seja, trabalho forçado. Indecente, manipulador e aqui vai sem meias palavras, profundamente hipócrita! Mais, se acreditam verdadeiramente que um feto até às dez semanas é um ser humano que, pelo aborto, estará a ser morto, por que é que, em lugar de proporem penas suavíssimas ou até a isenção de pena para este ‘crime’, não propõem antes, e com toda a lógica, o seu agravamento? No mesmo saco coloco ainda todos os que votaram não e que, na prática, ajudaram a manter o código penal onde se criminalizava a mulher que abortava até ás 10 semanas.

7) “(...) desde o último referendo, nada foi feito em termos de Educação Sexual (a legislação portuguesa prevê a educação sexual) e até mesmo o planeamento familiar, que é gratuito, continua a não chegar a todos. Ora, interpreto a tomada de posição do primeiro ministro como uma atitude "despótica (...)”

Antes de mais não cheguei a perceber o elo de ligação “ora”, como se uma frase tivesse a ver com a que se lhe seguia. Se tomarmos irrevogável que não vivemos num mundo de fábulas e quimeras e haverá sempre abortos, não percebo como é que o por todos almejado planeamento familiar e políticas públicas de esclarecimento e aconselhamento familiar e sexual, são incompatíveis com a lei que vai entrar em vigor. Tens consciência que o voto Sim não é um incentivo ao aborto, ou não tens?

8) “Duas clínicas espanholas e uma inglesas estarem já com um pé (senão com os dois) em Portugal para abrir em breve?”

Esta foi de facto a única questão que não respondi mas porque não percebi o teu dilema.
O tal "negócio do aborto" já existia, só que ilegal, entre nós, ou legal, em Espanha. Com a legalização da IVG até às 10 semanas, essa actividade médica deixa de ser clandestina entre nós, as portuguesas deixam de ter de ir a Espanha (as que podiam) e poderão escolher realizar a IVG nas clínicas privadas autorizadas ou no SNS, de acordo com as suas preferências (e fruição), toda a actividade ficará sujeita à supervisão das autoridades sanitárias e regulamentação da lei que entrará em vigor . Mais, o tal negócio de aborto clandestino perderá fortemente um dos seus filões. E, sobretudo, as mulheres portuguesas deixarão de sofrer os riscos e as sequelas dos abortos clandestinos.
Foi justamente para isso que se votou a despenalização e legalização da IVG! Qual o problema? Não existiam já centenas de clínicas privadas espanholas para realizar outros tipo de intervenções cirúrgicas?

9) “SE ganhasse o não, seria o sinal de que a proposta de lei a ser aprovada não seria a mais correcta – e é isto que eu defendo – devendo ser feita a devida análise a este resultado.”

Que análise propunhas ao NÂO, a tua? E de que maneira é que retiras as sentenças de cadeia e mantinhas no código penal a condição de criminosa (conceito que por si só que nos separa abissalmente). De que maneira é que sugeres penalizar a mulher que abortou?

10)” O que percebi foi que o tal discurso moral, democrático e completamente ciente do mundo real que tu tens faz parte dum Sim que sempre se debateu contra a penalização da mulher que aborta, mas sempre se manifestou contra o aborto. Contraditório não?”

Como contraditório? Mas alguém defende a incumbência de fazer o aborto? A maior vitória de domingo é acreditar que, com este resultado, vai ser possível devolver este assunto à consciência individual de cada um. O que o Sim quis foi que ele fosse totalmente discriminalizado até ás 10 semanas deixando o resto para o juízo ético de cada um.

11) “Acreditas numa verdade una? Numa única forma de chegar a uma solução? Eu não! E penso que é isto o Estado de Direito – discutir várias possibilidades para chegar à melhor, e não “papar” tudo o que nos metem à frente.”

Obviamente que eu não acredito numa verdade una dito assim em abstracto mas neste caso creio que no mundo real esta é a única forma de combater o flagelo persecutório dos abortos ilegais que sempre, repito, sempre existirão. Mas que propunhas tu fazer exactamente além da incansável interpretação dos Nãos e da educação sexual? Acreditas mesmo que a educação sexual era suficiente para combater estes milhares de dramas individuais? Eu sinceramente e com todo o devido respeito, não acho suficiente!

12) “Não achas que o papel do pai é negligenciado, por exemplo?”

Já disse aqui uma vez que sim e daí? De que maneira é que isso resolve o problema que estamos a tratar?

13) “Como não? Então o Estado deve lavar daí as suas mãos e acabou? Como podes assumir isto? UM homicídio é crime, mas nem todos os homicidas devem ser presos não achas?”

Esta tua pergunta veio em resposta a eu afirmar que “A decisão de criminalizar uma conduta pessoal não pode estar dependente de apreciações ou concepções morais, e não compete ao Estado tomar partido, com as leis penais, em matérias que geram uma elevada controvérsia social.” Eu creio que uma lei penal não deve assentar em contradições sociológicas mas num claro consenso social sobre a penalização. O que encontro é uma contradição na sociedade que espelha o carácter altamente controverso do problema não achando por isso que esta contradição sociológica justifique a manutenção de uma directriz penal incriminadora como a que existe no aborto. Creio que nenhuma outra matéria penal provoca este género de consequências contraditórias. Percebo a relação íntima que fazes com o Homícidio (que não foi um exemplo ingénuo) mas acho que as duas matérias são absolutamente incomparáveis em termos de consenso sociológico. Acho que foi um exemplo deplorável.

14) “Pelos vistos, e pelo que assumes no final, votaste um duplo sim, um sim para a despenalização das mulheres, que de facto devem sê-lo, mas também um sim ao aborto livre.”

De novo a incessante manipulação dos fundamentos. Eu quero aborto livre, até ás 10 semanas de gravidez, por opção (e só) da mulher em estabelecimento de saúde autorizado. Completamente liberal tem sido até agora.

15) “A própria Ordem do Médicos assumiu publicamente que não temos uma estrutura capaz de suportar esta liberalização do aborto…”

Isso é um assunto que só pode ser discutido agora, a questão da regulamentação e da sua implementação. Discutimos até aqui um príncipo vital que foi a votos não um projecto de lei ou a eficiência da sua aplicação, que aqui estaremos todos de futuro para o apreciar.

Peço desculpa por mais um comentário bastante longo mas espero ter valido a pena para responder finalmente e inequivocamente às tuas questões.

Abraço

nuno disse...

acho que quem votou não, devia ficar sem cartão de eleitor.
mas isso sou só eu que ando um pouco desiludido com a democracia... não me liguem.


agora a parte em que entro na discussão,

de todo o teu discurso, bruno, ficou-me a faltar uma coisa. diz-me, por favor, pq não pode uma mulher decidir abortar? e, por favor, responde-me a isso directamente. a isso e só isso. não quero saber dos lobbies da clinica de badajoz nem da inglesa, nem do SNS, nem de impostos, nem de se a parteira usa luvas ou não.

quero apenas saber porque achas que uma mulher não pode decidir abortar.

responde. e eu agora vou ali a paris, já volto. qd regressar, vamos beber muitas cervejas e falar sobre isso durante várias horas. nós os três. sob uma condição, para a discussão se tornar possível, que eu sei como o marco é nestas merdas... ehehehehe!

a condição é:
- quem levantar o tom de voz paga a rodada seguinte.

quem alinha?

Carreira disse...

Caro Led,
Ponderei bastante antes de te escrever mais um comentário. Este vai ser um “dois em um”: uma resposta ao Nuno e um comentário ao teu discurso.
Começas o teu discurso com aquilo que critico em ti: “nas nossas discussões quando te vês perder a razão ou não tens meios como suportá-la lá vem o enfado slogan de embalagem de eu ser inflexível e radical e extremista e sei lá mais o quê.” Quando é que vais perceber que nunca se tratou de alguém ter que ter a razão? Trata-se sim de tu saberes respeitar as opiniões dos outros e não seres caustico na forma como criticas essas mesmas opiniões, ou até mesmo, não te evitares na zombaria. Não te conhecesse…
Depois, há o facto de seres um óptimo orador, porque o és, mas por vezes o usares expressões tiradas do contexto, em comentários distintos, pode ser perigoso… Contudo se o que querias era argumentar que eu era incoerente, não te posso dar esse privilégio. Não se tratam de dois Carreiras com ideias distintas: o meu voto é no sentido de limitar a liberdades de alguns (alguns!!!) para optar! Será que limitar a liberdade é retirá-la? Para ti talvez…para mim não! Acho que vivemos num estado livre, mas regulamentado por leis, que precisamente limitam essa liberdade. É isso que defendo também para esta questão. Quando falavas na minha soberba por não teres anulado a minha argumentação, vou novamente explicar-te do que trata esta discussão: não se trata de alguém ter que ter razão, trata-se sim de tu responderes às questões que te colocava e de teres um pouco mais de cuidado na forma como defendes as tuas opiniões. Ou seja, não caíres na tentação de generalizares (SIM!) as opiniões de todos os dos Não, usando o pior da argumentação: ” toda a hipocrisia de tutela clerical intimamente machista e avessa à modernidade e à liberdade individual!” És incisivo demais na tua argumentação, fundamentalista mesmo, e esta é só a minha opinião. Podendo não te interessar discutires o meu Não, decerto te incomodaria se eu assumisse que o teu Sim, era um sim defensor do aborto por vontade da mulher em qualquer altura da gestação. (e olha que os há no meio dos Sins…)
Depois agradeço o facto de te teres tornado missionário na árdua tarefa de rebateres os meus argumentos. De facto, agradeço a complacência deste teu acto e agora sim estou a ser bastante irónico. Vamos lá ao que interessa:

“1) “Ainda gostava que me explicasses onde há o machismo do meu não.”

Acho que foi respondida várias vezes, não achas? Há uma tendência acentuada da grande maioria dos votadores Não, mesmo de muitos ditos moderados (ainda que inconscientemente) em reterem uma imagem da mulher como um ser devasso, adultero e infantil , incapaz de gerir a sua própria vida e as próprias opções. Essa concepção está fortemente enraizada na nossa cultura judaico-cristã e é muito mais visível nos meios rurais apesar de se manter sobre uma cobertura subtil de valores progressistas em muita gente erudita que votou não.”
Sim tens razão, a pergunta foi respondida várias vezes! Mas ainda assim não evitas a insinuação de muitos moderados reterem a ideia da mulher como um ser devasso, adultero e infantil. Diz-me. Onde ouviste isto? Em algum movimento foi? Não será isto uma assumpção da tua parte. Irónico, não? Sobretudo vindo de alguém que me acusava de ser eu a interpretar os teus comentários de forma quase leviana. Andas a usar os clichés do SIM…

“2) “Onde atenta o meu não contra a liberdade individualidade? ONDE?”
Também me parece que esta esteja mais que discutida, não? Foi a base de todos os meus argumentos.”

Sim, agora sim está respondida. Espero também que ficasses esclarecido quanto à minha suposta dualidade de opiniões.

“3) “Com uma sociedade despreocupada assim para estes temas será que "demos mais um passo na direcção certa"???”

Está inclusa em tudo o que eu escrevi. Acho que sim! Por isso votei em coerência.”
Pois, eu acho que não. Só isso…

“4) “Acho que sabes que, quem de facto ganhou, foi a Abstenção.”
Esta não tem o formato de questão mas achei por bem voltar a realçar que “acho que sei mais do que eu sei” (!!) do que tu. O referendo ditou uma maioria clara e significativa, o Sim venceu nas urnas e eu considero que a nossa sociedade ficou a ganhar com isso.”

Uma correcção no teu discurso tão cuidado. O SIM ganhou de forma clara, de facto, mas não significativamente. Recordo-te que este referendo não é vinculativo, mas isso tu já sabes. Afinal, pelo que percebi, és bem conhecedor do instrumento Referendo.

“5) “Pessoas falecidas ainda recenseadas”
Está tudo dito nesta matéria, não está?”

Sim está :)

6) “Mas o que acho inadmissível da tua parte é colocares no mesmo "saco" todos os que votaram Não.”

Descansa que não te catalogo no mesmo saco das facções mais radicais do Não onde vimos de tudo um pouco: a carta intra-uterina à mãe, as lágrimas de Nossa Senhora, os panfletos com fetos de três meses estraçalhados e as teses revolucionárias (embora empíricas) segundo as quais os embriões já sentiriam dor às nove semanas. Mas o mais baixo, no sentido literal, a que se chegou, conforme noticiou o JN, esteve nas escadas de uma estação de em Lisboa onde os transeuntes seram obrigados a pisar as seguintes frases, grafitadas a vermelho e negro: "Ajudem-me, por favor"; "Tenho dez semanas"; "Não me pisem". Parece mentira mas é verdade. Entre as frases, pequenas manchas a imitar sangue. Por outro lado já tenho algum comedimento em não te relacionar com os votantes do ‘não’ que passaram a defender que houvesse pena, mas não de prisão, para não impressionar as pessoas. Que pena, então? A melhor sugestão veio de Bagão Félix tomando como base a proposta de lei de Rosário Carneiro ( de quem nunca teve em conta na Assembleia durante 9 anos) : trabalho comunitário, ou seja, trabalho forçado. Indecente, manipulador e aqui vai sem meias palavras, profundamente hipócrita! Mais, se acreditam verdadeiramente que um feto até às dez semanas é um ser humano que, pelo aborto, estará a ser morto, por que é que, em lugar de proporem penas suavíssimas ou até a isenção de pena para este ‘crime’, não propõem antes, e com toda a lógica, o seu agravamento? No mesmo saco coloco ainda todos os que votaram não e que, na prática, ajudaram a manter o código penal onde se criminalizava a mulher que abortava até ás 10 semanas."

Engraçado este teu comentário. Primeiro dás-me o descanso de não me catalogares mais como mais um do Não, mas não te evitas a ires buscar novamente o pior do não. Não percebi o que tentavas provar ou argumentar. Querias dizer que os do Não são os mauzões (os retrógadas) e os do Sim é que são os Bons (os vanguardistas)? Basicamente, importa é mudar, seja de que forma for! Epá não entro nessa simplicidade de processos. Não entro no SIMPLEX.

7) “(...) desde o último referendo, nada foi feito em termos de Educação Sexual (a legislação portuguesa prevê a educação sexual) e até mesmo o planeamento familiar, que é gratuito, continua a não chegar a todos. Ora, interpreto a tomada de posição do primeiro ministro como uma atitude "despótica (...)”
Antes de mais não cheguei a perceber o elo de ligação “ora”, como se uma frase tivesse a ver com a que se lhe seguia. Se tomarmos irrevogável que não vivemos num mundo de fábulas e quimeras e haverá sempre abortos, não percebo como é que o por todos almejado planeamento familiar e políticas públicas de esclarecimento e aconselhamento familiar e sexual, são incompatíveis com a lei que vai entrar em vigor. Tens consciência que o voto Sim não é um incentivo ao aborto, ou não tens?"

Para perceber o ora, lê o comentário todo e não só o que te interessa. Sobre o restante texto, o que quero que percebas é que estamos a saltar uma etapa fundamental na educação dum povo, ao não nos preocuparmos com a educação sexual, planeamento familiar (etc.), e avançamos logo para um aborto liberalizado. É perigoso, não por o sim ser um incentivo ao aborto, mas sim por permiti-lo a pessoas que (com a devida educação) podiam nunca ter que recorrer a ele, a pessoas irresponsáveis/negligentes em alguns dos casos, que encontram ali mais uma “segurança” no caso de uma gravidez indesejada.

8) “Duas clínicas espanholas e uma inglesas estarem já com um pé (senão com os dois) em Portugal para abrir em breve?”
Esta foi de facto a única questão que não respondi mas porque não percebi o teu dilema.
O tal "negócio do aborto" já existia, só que ilegal, entre nós, ou legal, em Espanha. Com a legalização da IVG até às 10 semanas, essa actividade médica deixa de ser clandestina entre nós, as portuguesas deixam de ter de ir a Espanha (as que podiam) e poderão escolher realizar a IVG nas clínicas privadas autorizadas ou no SNS, de acordo com as suas preferências (e fruição), toda a actividade ficará sujeita à supervisão das autoridades sanitárias e regulamentação da lei que entrará em vigor . Mais, o tal negócio de aborto clandestino perderá fortemente um dos seus filões. E, sobretudo, as mulheres portuguesas deixarão de sofrer os riscos e as sequelas dos abortos clandestinos.
Foi justamente para isso que se votou a despenalização e legalização da IVG! Qual o problema? Não existiam já centenas de clínicas privadas espanholas para realizar outros tipo de intervenções cirúrgicas?"

De facto, dada a tua argumentação não percebeste o meu dilema, ou “interessou-te” não perceber. Afinal, as famosas clínicas espanholas que já existiam em Portugal são clínicas sobretudo de beleza. Bem, não é coincidência a mais no dia a seguir ao Referendo aparecerem logo três clínicas privadas onde é possível a realização do aborto!? A questão permanece no ar… Sobre a tua constatação de que as mulheres que iam a Espanha poderem agora praticar o aborto em Portugal, concordo. Disseste-o bastante bem até, “as que podiam”. De facto, as que podiam vão continuar a poder e as que não podiam, aquelas que iam ao tão propalado “vãos de escada” irão onde? Ao SNS? Acreditas mesmo nisso? A própria Ordem do Médicos afirmou que não temos capacidade para suportar esta medida, achas que num acto mágico do dia para a noite vai ser possível!? Neste país onde não existe comparticipação da maioria dos fármacos fundamentais para a sobrevivência de alguns de nós existirá agora a comparticipação do aborto para os mais desfavorecidos?! Podes ter a inocência de acreditar que sim, mas penso que as mulheres mais desfavorecidas irão continuar a recorrer ao caminho mais fácil, mais económico e maior privacidade dará – o clandestino portanto.

9) “SE ganhasse o não, seria o sinal de que a proposta de lei a ser aprovada não seria a mais correcta – e é isto que eu defendo – devendo ser feita a devida análise a este resultado.”
Que análise propunhas ao NÂO, a tua? E de que maneira é que retiras as sentenças de cadeia e mantinhas no código penal a condição de criminosa (conceito que por si só que nos separa abissalmente). De que maneira é que sugeres penalizar a mulher que abortou?"

Uma vez mais vou tentar explicar-te que sou contra a criminalização de algumas mulheres, ALGUMAS. Eu não quero penalizar a mulher que abortou, quero sim, é que todo e qualquer aborto que se faça, seja feito como último recurso. Sou a favor, como depreenderás da alteração da actual lei, mas não a favor de que a lei seja alterada permitindo o aborto liberalizado. A análise ao não, de alguém que de facto quisesse alterar as coisas, poderia ser que a proposta de lei não era a mais ajustada. Queres um bom argumento? A divisão que surgiu no seio do PS e que agora, pós-referendo, assume contornos preocupantes. Parece que o próprio Sim é difícil de interpretar para aqueles que tanto ansiaram por ele.

10)” O que percebi foi que o tal discurso moral, democrático e completamente ciente do mundo real que tu tens faz parte dum Sim que sempre se debateu contra a penalização da mulher que aborta, mas sempre se manifestou contra o aborto. Contraditório não?”
Como contraditório? Mas alguém defende a incumbência de fazer o aborto? A maior vitória de domingo é acreditar que, com este resultado, vai ser possível devolver este assunto à consciência individual de cada um. O que o Sim quis foi que ele fosse totalmente discriminalizado até ás 10 semanas deixando o resto para o juízo ético de cada um."

Ninguém defende a incumbência de fazer um aborto. Nunca me ouviste falar disso. È absurdo demais… para que eu comente este teu devaneio. Quando questionas o facto de chamar contraditório ao Sim posso alertar-te para o facto de muitos defensores do Sim, durante a campanha referirem aos sete ventos que eram a favor da descriminalização da mulher, mas contra o aborto. Ora, eles não sabiam no que votavam? Acho que sim… Isto tem um nome, hipocrisia. Percebeste agora? Depois, acho no mínimo irónico que fales em consciência individual de cada um. Vives num Portugal diferente do meu pelos visto.

11) “Acreditas numa verdade una? Numa única forma de chegar a uma solução? Eu não! E penso que é isto o Estado de Direito – discutir várias possibilidades para chegar à melhor, e não “papar” tudo o que nos metem à frente.”
Obviamente que eu não acredito numa verdade una dito assim em abstracto mas neste caso creio que no mundo real esta é a única forma de combater o flagelo persecutório dos abortos ilegais que sempre, repito, sempre existirão. Mas que propunhas tu fazer exactamente além da incansável interpretação dos Nãos e da educação sexual? Acreditas mesmo que a educação sexual era suficiente para combater estes milhares de dramas individuais? Eu sinceramente e com todo o devido respeito, não acho suficiente!"

Acho pouco, volto a referir, para um país que nunca teve educação sexual, um verdadeiro planeamento familiar a chegar a todo o Portugal, pense e assuma que a forma de combater o aborto ilegal seja legalizá-lo. A educação não combate o drama individual de quem aborto, mas evita-o. Não podemos começar uma casa pelo telhado, mas pelas fundações percebes? Nada como educar as mentes portuguesas, alertar para perigos como as doenças sexualmente transmissíveis, para o uso de contraceptivos. Mas refiro-me a todo o Portugal, a começar no interior. Não achas que a grande maioria dos abortos poderiam ser evitados? É claro que a lei que vai entrar em vigor em nada invalida esta educação sexual, mas se nunca nada foi feito não achas que com esta mesma lei o governo nada fará nesse sentido. É como que um “lavar de mãos”…

12) “Não achas que o papel do pai é negligenciado, por exemplo?”
Já disse aqui uma vez que sim e daí? De que maneira é que isso resolve o problema que estamos a tratar?"

E daí? Não achas que um pai tem uma palavra a dizer? Não é questão de resolver um problema, mas sim de o evitar. Se fosses casado e a tua mulher (ou se tivesses algum relacionamento) resolvesse abortar sem ter em conta a tua opinião como reagirias? Se tanto querias introduzir o conceito de machismo talvez seja agora a tua oportunidade! (aposto que cairás na tentação)

13) “Como não? Então o Estado deve lavar daí as suas mãos e acabou? Como podes assumir isto? UM homicídio é crime, mas nem todos os homicidas devem ser presos não achas?”
Esta tua pergunta veio em resposta a eu afirmar que “A decisão de criminalizar uma conduta pessoal não pode estar dependente de apreciações ou concepções morais, e não compete ao Estado tomar partido, com as leis penais, em matérias que geram uma elevada controvérsia social.” Eu creio que uma lei penal não deve assentar em contradições sociológicas mas num claro consenso social sobre a penalização. O que encontro é uma contradição na sociedade que espelha o carácter altamente controverso do problema não achando por isso que esta contradição sociológica justifique a manutenção de uma directriz penal incriminadora como a que existe no aborto. Creio que nenhuma outra matéria penal provoca este género de consequências contraditórias. Percebo a relação íntima que fazes com o Homícidio (que não foi um exemplo ingénuo) mas acho que as duas matérias são absolutamente incomparáveis em termos de consenso sociológico. Acho que foi um exemplo deplorável."

Deplorável é o comentário que fazes aqui. Nunca fiz nenhuma relação íntima entre os dois temas – tu assumiste-o. Assim como assumiste que o exemplo não foi ingénuo. Incoerente uma vez mais depois de me acusares de tirar ilações descabidas das tuas palavras. O consenso social sobre a penalização será que existe mesmo? Que diferença existirá na realidade entre alguém que aborte às 10 semanas e alguém que aborte às 10 semanas e um dia? Haverá consenso nisso? Tal como não existirá consenso (daí o meu exemplo) na culpabilidade ou não dum homicídio com um mote passional, ou legítima defesa ou até premeditado.

14) “Pelos vistos, e pelo que assumes no final, votaste um duplo sim, um sim para a despenalização das mulheres, que de facto devem sê-lo, mas também um sim ao aborto livre.”
De novo a incessante manipulação dos fundamentos. Eu quero aborto livre, até ás 10 semanas de gravidez, por opção (e só) da mulher em estabelecimento de saúde autorizado. Completamente liberal tem sido até agora."

Não, não tem sido completamente liberal até agora. O teu sim vai permitir a sua liberalização. È diferente, e não se trata de manipulação dos fundamentos por mais que te custe aceitar. És um dos que votou Sim à descriminalização da mulher e sim ao aborto livre. Eu não querendo votar Sim a ambos, votei não.

15) “A própria Ordem do Médicos assumiu publicamente que não temos uma estrutura capaz de suportar esta liberalização do aborto…”
Isso é um assunto que só pode ser discutido agora, a questão da regulamentação e da sua implementação. Discutimos até aqui um príncipo vital que foi a votos não um projecto de lei ou a eficiência da sua aplicação, que aqui estaremos todos de futuro para o apreciar. "

Ordem dos Médicos foi falada… A regulamentação e implementação começa agora a ser discutida e como já disse, muita tinta vai fazer correr. Pelos vistos, não há consenso dentro do PS para a feitura da dita lei, surgindo já um burburinho de que se irá defraudar os votantes do sim . No mínimo, de lastimar.

Por fim, e respondendo ao Nuno: porque não fazer com que a mulher não tenha que decidir entre abortar ou não abortar? Nunca disse que ela não podia abortar. Defendo é que o faça em casos muito bem determinados e não porque engravidou por negligência, falta de informação, descuido…como acontece e continuará a acontecer. Será que respondi?
Ah, e sim, alinho! Claro que alinho!
Abraços

Ledbetter disse...

Podíamos estar aqui meses a discutir o mesmo da mesma maneira ...Eu achando que o teu discurso tem tanto de rígido como desarmónico , obcecado como melindroso com a interpretação das minhas palavras e ulteriormente vago (apesar de bem intencionado) na sua forma de resolver um problema concreto; e tu concebendo o meu como radical, manipulador, fundamentalista e desrespeitoso para com o teu sentido de voto.

Sendo que são posições completamente distintas e eu detesto debates domesticados em temas fracturantes reitero que seria impossível haver qualquer espécie de comprometimento e por isso infrutífero nas suas consequências efectivas.

Terá valido a pena todas estas palavras? Valeu pelo menos por uma certa comoção que foi preenchendo o fundo negro deste blog desviando-o do monocordismo habitual.

No fim queria dizer-te que, apesar de tudo, reconheço-te verdadeiramente uma certa ousadia em enfrentares meios que te eram adversos (como me tem sido habitual nestes debates públicos da blogosfera em temas picantes) e por isso pessoalmente valerá mais que qualquer incoerênciazita nos teus argumentos .

Abraço e um sincero obrigado por teres passado por aqui.;)