segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

O Herói-Imbecil


Deixei passar algum tempo sobre os episódios Santana / Pôncio Monteiro / Rui Rio com o intuito de tentar perceber as razões que levaram a que Rui Rio saísse dessa palhaçada, mesmo entre os seus adversários de partido, como herói da integridade, do "rigor" e da honestidade intelectual.
Cheguei à conclusão que a falácia da "promiscuidade" dá votos e levanta paixões entre os da "promiscuidade" e os "anti-promiscuidade".
Que promiscuidade? A que existe entre a política e o futebol e vice-versa? Não me parece, é que a bandeira dessa luta contra a "promiscuidade" mais não foi, nem é, que uma aziaga contra Pinto da Costa e contra o F. C. do Porto! Se assim não fosse como compreender a colagem de Rui Rio a Valentim Loureiro durante a campanha eleitoral, incentivando a candidatura do filho Loureiro ( recentemente considerado arguido no Caso Apito Dourado) à distrital do PSD do Porto (que correu mal, aparecendo um tal de Marco António à pressa), o apoio a Valentim Loureiro à Presidência da Área Metropolitana do Porto e o apoio a Valentim Loureiro para administrador do Metro do Porto, do qual viria a ser o nº 2, do qual agora é o seu directo substituto?
A operação "apito dourado" que juntou no mesmo processo o Major e filho e Pinto da Costa evidencia que a cruzada de Rui Rio não se prende com nenhuma luta contra a promiscuidade, mas sim com um ódio cego ao F. C. do Porto, qualidade que lhe assegura tantos adeptos por este país fora!
Se o afastamento de Pôncio Monteiro na lista do PSD do Porto tivesse sido norteada por critérios de honestidade intelectual então Rui Rio nunca poderia ter aceite José Raul dos Santos em lugar elegível! Escolher entre um advogado reputado (mesmo portista fanático) e um autarca que tem a sua Câmara em situação de quase falência e uma conduta partidária muito conturbada na distrital de Beja ( mais um pára-quedista!) não me parece nada difícil!
Será que alguém se lembraria de falar dessa tal de "promiscuidade" no idêntico caso de Fernando Seara como cabeça de lista por Sintra? Não, pois não, seria ridículo!
Já no período de debate da conferência "Olhares Cruzados sobre o Porto II", promovidos pela Universidade Católica e pelo jornal "Público", o presidente da Associação Comercial da cidade, Rui Moreira, questionou Rui Rio sobre uma eventual "contradição" no seu discurso. "Como é que considera a marca Porto tão importante e depois desqualifica o fenómeno do futebol?"A resposta surgiu poucos minutos depois, arrancando algum descontentamento da plateia. "Não quero falar de futebol, até por decoro face ao actual momento, mas acho que a prática me tem vindo a dar razão. Já tinha ouvido falar no Bernard Tapie e no Gil y Gil...", disse o autarca, de uma forma enigmática, deixando no ar a suspeita. Rui Moreira não ficou satisfeito com a afirmação e abandonou a sala momentos depois. "A resposta foi despropositada e demagógica", comentou o presidente da Associação Comercial do Porto. Que diz não ter ficado surpreendido porque acha que Rui Rio "não é capaz de compreender o contributo do futebol (FCP, no caso) para a marca da cidade". E recomendou cautela, também de forma enigmática "O presidente da Câmara devia recordar-se que todos os escândalos em Portugal têm envolvido políticos, por isso devia evitar mandar pedras". Como exemplo, o chefe de gabinete do presidente da Câmara do Porto, Manuel Teixeira, tem um vencimento que é mais do dobro do que está legalmente previsto para o cargo, sendo até superior ao do Presidente da República e praticamente o dobro do ordenado base do próprio presidente da autarquia, o social-democrata Rui Rio....... já que o próprio Rui Rio desde sempre assumiu um discurso de moralização dos gastos públicos e de férreo controle de despesas, para onde vai aquela imagem de coerência e insenção que o próprio autarca vende publicamente nos meios de comunicação centrais?
Desagradado com as palavras do autarca na conferência, Rui Moreira saiu do auditório da Universidade Católica antes do final da conferência. "Rui Rio aproveitou o debate para fazer um comício de pré-campanha eleitoral. Não abordou o tema que lhe tinha sido apresentado, apesar de ter estado particularmente bem durante a sessão de esclarecimentos. Mas quando me apercebi que estava num comício achei por bem vir embora. Sempre é melhor dormir do que estar num comício..."
Na resposta às palavras demagógicas de Rui Rio, Pinto da Costa, colando-se ao PS, prometeu uma luta (liderada ou não por ele) contra Rui Rio, nas legislativas e autárquicas. Tudo isto é triste, tudo isto é fado, porque, infelizmente, nos dias que correm já pouco resta do Rui Rio do Toto-Negócio. Rui Rio é, por estes dias, um político cinzentão e realmente demagógico, parte integrante do sistema. Associou-se sem qualquer pudor a Valentim Loureiro (ficava-lhe bem, mas com limites, estar grato por ter tido condições para concorrer à Câmara do Porto) na sua cruzada cega contra Menezes, não percebendo o óbvio - acabou transformado num Menezes de sinal contrário, facto que o célebre abraço entre os dois demonstrou à exaustão. E, sobretudo, esqueceu algumas coisas básicas que tão bem soube no passado, como que às vezes é preferível perder para se ganhar (ou manter a alma). Agora, e sem qualquer espécie de decência, associou Pinto da Costa a Tapie e Gil y Gil por causa do Apito, mas é esse mesmo Apito que já ouviu o Major e João Loureiro, e já foi ao Metro e até à Câmara do Porto, que também está incontornavelmente associado a ele. Não consta que tenha sido Pinto da Costa que tenha mantido o Major no Metro do Porto, ou na Junta Metropolitana - foi antes Rui Rio. O drama, o grande drama, é a dualidade de critérios. Rui Rio não pode à segunda, quarta e sexta clamar contra o FCP e contra a promiscuidade política/bola e às terças, quintas e sábados andar literalmente com o Major e o João Loureiro ao colo. Ou melhor, poder pode mas não devia. O problema é político e um de coerência, simplesmente. Talvez a julgar que sobrevivia, Rui Rio suicidou-se politicamente, talvez seja essa a solução para se manter mais uns anos à tona.
Devo dizer que, pessoalmente, apesar de ser simpatizante socialista fiquei na altura deveras satisfeito com a vitória de Rui Rio pela câmara do Porto. Pensei que tinha chegado a altura de uma mudança saudável na cidade e a chegada de um político realmente imparcial e focado únicamente nos interesses e problemas dos cidadãos da cidade do Porto. Mas enganei-me bem eu e os portistas! Desde as eleições em que, de forma surpreendente, derrotou o candidato socialista apontado até ao fim como favorito, Fernando Gomes, Rui Rio tem vindo a tomar medidas que vão do impopular ao incompreensível, conseguindo a proeza de desagradar a todos, incluindo àqueles que nele votaram. Para ganhar projecção à custa do principal emblema da cidade, Rui Rio tudo fez para prejudicar o FCP e o Presidente Pinto da Costa, que pessoalmente tinha apoiado um concorrente seu. Rui Rio afronta Pinto da Costa por calculismo político. Da mesma forma que Fernando Gomes foi queimado em Lisboa por ser amigo de PC ,Rio é adorado por o afrontar.. Mas no Porto a obra de Gomes é conhecida ( Parque da Cidade, Porto Capital da Cultura,Centro Histórico a Património Mundial, Lançamento do Metro, Habitação Social). Já Rio , que obra fez ? O Porto perdeu centralidade, visibilidade, estratégia, credibilidade ( já nem digo beleza porque a cidade está toda aos buracos!). As assimetrias e desigualdades sociais agravaram-se e o desemprego atinge níveis recorde no distrito do Porto (11%!) e na própria cidade (13%!).
Depois de divergências com os adeptos e dirigentes do Futebol Clube do Porto, com as pessoas que apreciam fogo de artifício, com os arrumadores de automóveis, com o pianista Pedro Burmester e o músico Pedro Abrunhosa ( e com os músicos do Porto em geral), com o grupo "El Corte Inglés", com autarcas do próprio partido, com a cidade de Vila Nova de Gaia e com mais alguns grupos socio-económicos, acho que seria coerente com a sua estratégia de agradar a todos os anti-Portistas por esse país fora cortar relações com o resto dos portuenses até ao final do mandato!
Resta-me apenas desejar que o tempo passe depressa até que venham as autárquicas para que o Dr. Rui Rio perceba de uma vez que os interessados e juízes finais serão sempre os cidadãos do Porto, as únicas vítimas deste jogo de interesses e de clichés políticos vazios de conteúdo!
Led

Posted by Hello

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