sábado, 3 de setembro de 2011
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Bichos II
A inexistência de fiabilidade no amiguismo. De lealdade. Coragem. Generosidade. Altruísmo. Solidariedade. Companheiros que são incapazes de se comprometer nos momentos de conflito ou dolência. De aceitar as consequências da camaradagem. De tomar partido nas contendas. De fazerem ouvir a sua voz interior, se esta porventura chegar a existir. Recalcam-na. Ocultam-na. Medo das consequências. Receio de rejeição social na dinâmica intransigente do grupo. Para não levantar suspeitas sobre as suas verdadeiras intenções e cupidez. Por egoísmo, sobretudo. Por cobardia, principalmente.
Agir com precaução. Para limitar a exposição. Para não hostilizar uma única susceptibilidade. Não nos podemos dar a luxos de personalidade ou honestidade. Não criticar abertamente. Agir pelas sombras e entrelinhas. Ser esperto e galante, sobretudo. Gostar de todos. Muitos do nosso lado. Não nos podemos permitir a qualquer mancha na notoriedade indulgente que tanto empenho custou a desenvolver e recriar. Aparentar sempre tranquilidade, optimismo, serenidade, confiança. Reprimir quaisquer tipo de emoção reveladora de fraqueza, confissões de insegurança, medo, dor ou frustração. Protegermo-nos a todo o custo. O importante é sobreviver. Contra os outros. Somente. Exclusivamente. Integrados é mais seguro. Aparentar.
Pusilanimidade congénita. As intervenções têm que sempre pender à unanimidade confortável e bem abrigada. À conciliação não contenciosa. À concordância colectiva. Não vá o Diabo tecê-las. Para reduzir ao máximo as possibilidades de saírem lesados na crucial consideração feita pelos restantes elementos. Raciocínio cibernético supervivente. Quantos mais do seu lado, melhor. Não interessa o modo. É preciso muitos do seu lado. Muitos a gostar de si.
Passividade e conivência absoluta, para não levantar desconfiança. Opiniões domesticadas e concordantes. Subjectivas e redundantes. Para coincidirem com o preceito corrente. Deliberadamente ambíguas e multi-interpretáveis, para fáceis apologias em caso de incidentes. Para garantirem as aparências e a reputação. Ai, O Reputeísmo!
Porque os camaleões só querem sobreviver. O elemento do disfarce na integração. Darwinismo sociológico. Evolucionismo social e essas tretas antropológicas. Interacções humanas e as ideologias que tiveram por base só para justificarem os imutáveis instintos de egoísmo e inveja na raça humana. Muita História. Demasiada História... “Nunca colocar em causa as normas e o controlo normativo da autoridade do grupo. Nunca colocar em causa as tradições morais” A obediência proletária. A necessidade de fazer o seu “número” coreográfico como os acrobatas circenses. Aceitar as imposições e as manipulações do líder como sócios menores de uma empresa. Só o mais adaptado aperfeiçoado aprimorado controlado malabarista sobrevive. Uma ode à selecção natural!
Mimetismo social. Não tomar partido. Adoptar os temperamentos, feições caricaturais e o individualismo mais conveniente ao tipo grupal. O individualismo não existe. Só no plural. Borboletas-Monarca. Profissionais da cínica e da dissimulação. Para escapar da exposição e da crítica alheia. Bonomia apócrifa. Para circundarem despercebidos os pingos da chuva da discórdia. Benevolência forjada. Estão onde o vento da tendência dominante soprar mais forte.
Como formigas acanhadas e diligentes, rapidamente respondem com combatividade (normalmente sob a forma de silêncio recriminatório e espinhoso) a qualquer tipo oposição ou desvio à tendência grupal, de contraditório, de antítese à uniformização vigente, de manifestação e celebração de diferença. Os inadaptados que fazem ouvir a sua voz são imediatamente execrados por estes, como censores atiçados às canelas dos solitários irreprimíveis. Com aplicação a defender a norma.
O desdém mesquinho como expediente irrefreável da zelotipia, porque a inveja será sempre mais irreconciliável do que o ódio mais visceroso.
O desdém mesquinho como expediente irrefreável da zelotipia, porque a inveja será sempre mais irreconciliável do que o ódio mais visceroso.
As oposições às normas vigentes podem até permitir-lhes ensaiar alguns passos de juízes inquisidores e à automática posição de réus dos que opõem (para júbilo da chefia). Com o direito a julgar - eles-; e o dever de amocharem, de justificarem-se - os contestatários. Esses vaidosos apóstatas. Desarticulados pedantes.
Mas é preciso muitos do seu lado. Muitos a gostar de si. Porque uma reputação é feita pelos outros. E os matreiros camaleões sem espinha dorsal só querem sobreviver.
E o silêncio e a ausência de fiabilidade em momentos de compromisso como testemunhas da sua somítica pequenez.
Led
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